Caixa de Pandora

Helder Guégués, segundo me parece, participa numa espécie de laboratório de língua portuguesa com professores. Os disparates de que dá notícia decorrentes da aplicação do aborto gráfico por eles mostram o que se adivinhava. Em sendo professores a dar erros, que achais que o futuro vai dar?…

” […] Vejo que alguns escrevem (e não são professores de Física disléxicos) «fição», outros escrevem (e não são cegos) «diotrias». É o novo acordo ortográfico e são professores que assim escrevem. Pês e cês é tudo para deitar abaixo a esmo e a eito. Vamos a ver se o que sobra é legível.”
Helder Guégués, Ensandeceram, in Assim Mesmo, verbete 4488, 24/2/2011.

Pandora a espreitar a caixa (J.W. Waterhouse, 1896)Pandora (a espreitar a caixa), J. W. Waterhouse, 1896.
(Imagem em Hellenica.de)

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«fomos à luta, sem virar a cara»

O que se segue é uma simples reprodução de um “post” publicado no dia 15 de Dezembro de 2009 que mantém – surpreendentemente ou talvez não – toda a actualidade.

Há nesta reprodução uma parte em que o que está cortado é o que já foi feito, já não interessa ou já não faz sentido, e o resto é – pelo menos em parte – o que ainda falta fazer.

Salvas as devidas adaptações à realidade actual, poderá talvez ainda hoje este mesmo texto esclarecer alguns espíritos mais hesitantes: resistimos, lutamos, logo, venceremos.


É naquele texto ali em baixo, enviado aos mais de 24.000 [em 23.02.11, às 20:16 h, são 98.706] subscritores da causa “Não Queremos o Acordo Ortográfico“, que reside a última esperança de quem se recusa a assistir à demolição da Língua Portuguesa. Ou conseguimos, com isto, inverter a onda de anestesia geral em que o país parece vegetar, e então por fim se levantará uma onda de indignação esmagadora ou, se esta derradeira tentativa por algum motivo falhar, bem poderemos – por exemplo – ir metendo os papéis para emigrar.

Em sucedendo semelhante desgraça, que Deus não permita, ficará imediatamente irrespirável o ar em Portugal, empestado por cartazes e letreiros pejados de erros de Português, quedando-se assim, este nosso torrão pátrio, transformado de um dia para o outro num local muito mal frequentado onde não será mais possível comprar um livro ou um simples jornal a que se consiga deitar uma vista de olhos.

Muitas pessoas nos têm dito que se trata de uma causa perdida, que já não há tempo, que mais vale aceitar o facto consumado, e assim por diante.
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Quem rege a escrita?

Orthographia da Lingua Portugueza

 Há dias transcrevia-se aqui, em palavras da Priberam (um editor de dicionários), que “o texto do Acordo de 1990 não prevê soluções para muitos dos problemas que cria”. Em havendo pingo de senso neste país, só por si isto seria razão para arrumar de vez com a aberração. Mas não, e o cúmulo é vermos um editor de dicionários à nora para se conseguir desenvencilhar do texto do Acordo dizendo e repetindo em desespero que o dito acordo “é lacunar, ambíguo ou incoerente”.

 Em 29/1/2011 Helder Guégués, no blogo “Assim Mesmo” (“O prefixo «re-» no A.O.L.P.”, post 4372), apontava ao corrector da Priberam um erro de hifenização nas palavras com o prefixo re- quando se lhe seguia palavra iniciada com a mesma letra. Dias depois (“Diz a Priberam”, post 4387) justificava-se longamente Helena Figueira, do Departamento de Linguística da Priberam, com a letra do texto da Base XVI, 1º, alínea b) do Acordo Ortográfico de 90, que é inequívoco relativamente ao uso de hífen com um prefixo que termina na mesma vogal com que se inicia o elemento seguinte; dá uma única excepção: o prefixo co-. A interpretação que a Priberam faz do texto da Base XVI é a única possível. A leviandade com que foi redigido o Acordo de 90 parece que acabou por introduzir no Português formas tão extravagantes como re-eleger, re-embolso, re-encarnação, re-encontro, re-entrar.

 Parece mas não foi.

 O Brasil, usando da prerrogativa que lhe assiste já do costume de não cumprir nenhum acordo ortográfico, cozinhou unilateralmente uma excepção à Base XVI no seu V.O.L.P. (o tal que foi solenemente oferecido ao Presidente da República Portuguesa e que este subservientemente se dispôs a receber). – E fundamentado o Brasil em quê para introduzir uma excepção não acordada ao Acordo? – Ora vede lá bem: “por coerência e tradição lexicográfica” (*). A mesma coerência que decepa consoantes etimológicas e conserva o ‘h’? Ou a que dita epiléticos sofrendo epilepsia e egípcios habitando o Egito? E a tradição lexicográfica é a que nega a Portugal o primado do idioma?!…

 E posto isto em que ficamos; com o Acordo ou com a Academia Brasileira das Letras?…

 O vocabulário do I.L.T.E.C. (o do governo do eng.º Sócrates) fez tábua rasa do texto da Base XVI acerca do prefixo re- e segue a cartilha brasileira. E “os recursos linguísticos da Priberam têm vindo a ser alterados desde 25 de Janeiro de 2011 para seguir a excepção instituída pelo V.O.L.P. da A.B.L.” – O ano lectivo, pois é…

 Pois bem, mas se o texto do Acordo é para fazer gato-sapato, que regerá ele afinal?

 Ora, nada! A Academia Brasileira das Letras e cada burro escrevem por si.

(*) Nota explicativa ao V.O.L.P. da Academia Brasileira das Letras, pp. LI a LIII.
Imagem de Internet Archive, Open Library.

[Este “post” foi redigido pelo autor do blog Bic Laranja, a nosso convite, tendo sido também ali publicado em simultâneo.]

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Susana Mendes Silva subscreveu a ILC

Susana Mendes Silva «Susana Mendes Silva é artista plástica e docente universitária. Estudou Escultura na FBAUL, o seu mestrado na FCSH/UNL foi orientado por Teresa Cruz, e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.

Actualmente prepara a sua tese no âmbito do Doutoramento em Arte Contemporânea na Universidade de Coimbra. Susana é Assistente na Universidade de Évora, leccionando no curso de Arquitectura Paisagista desde 1999.»

Subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.

Nota: esta publicação foi autorizada pela subscritora, que redigiu o texto de perfil. A foto foi retirada do site da autora.

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Desacordo ortográfico – o caso alemão

Nova Cultura«Sinceramente ainda não sei se adoto ou não adopto o acordo ortográfico. Apesar de ter frequentado a escola primária em língua portuguesa, ainda sinto-me estrangeiro nesta língua, que para mim, ainda por cima se divide entre a grafia brasileira (que aprendi nos anos 70) e a portuguesa que tentei adoptar. Já assim cometo muitos erros e tenho certeza de que o “acordo” não melhorará nada nesta minha situação pessoal.

Do meu ponto de vista alemão posso dizer que a reforma ortográfica que tivemos, no decorrer dos anos 90 e dos primeiros deste século, levou a uma confusão total em que cada um escreve como quer – e quase todos de uma ou outra forma, “errado”. Um problema que atinge a nós profissionais da escrita de uma maneira muito especial. Um escritor ainda pode escrever como quer, mas já os tradutores, revisores, redactores não…»

«A ideia da reforma ortográfica (desta, porque houve várias outras) data de 1980 e ganhou dinâmica depois da unificação, em 1990. O acordo foi elaborado entre Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Bélgica e, se não me engano, Itália, em 1996. Houve debates violentos (aliás um dos contributos mais inteligentes sobre o tema foi o livro de um brasileiro radicado em Munique, chamado Zé do Rock, como o título “fom winde ferfeelt”) e várias fases de adaptação.

O acordo entrou em vigor em 2006 e é válido para as escolas públicas desde 2007. A maioria dos jornais elaborou uma grafia própria, adoptando elementos da nova ortografia. Apenas um dos jornais importantes da Alemanha continua escrevendo na ortografia antiga. Engraçado é que mesmo depois do acordo, as grafias oficiais continuam diferentes. Por exemplo a Suíça nunca utilizou a letra ß (substituindo-a por dois s) …»

Michael Kegler, Alemanha

[Extractos de correspondência enviada pelo webmaster do site bilingue Nova Cultura. Citação autorizada pelo autor.]

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