Muitas vezes, ao percorrer a longa lista de nomes dos subscritores da ILC, dei comigo a perguntar: quem são estas pessoas? O que motivou gente de todos os cantos do país a manifestar a sua voz contra um Acordo Ortográfico que, dizem os acordistas, apenas altera meia dúzia de palavras do nosso vocabulário?
Que educação tiveram, escolar e familiar? Que percurso fizeram? O que os levou a cimentar o carinho que certamente sentem pela sua Língua?
Pressente-se, por detrás de cada folha de papel, gente de todas as origens e estratos sociais. Ricos e pobres, gente de esquerda e de direita, gente de todas as artes e ofícios, académicos e intelectuais, figuras públicas — mas também muita, muita gente anónima. Cidadãos “next door”, como lhes chamei há tempos.
Não é possível ignorar o facto de esta ILC se ter transformado numa daquelas raras Causas capazes de unir a grande maioria da população. Há poucos temas assim, capazes de gerar consenso: além da inevitável Selecção Nacional de futebol, só o nosso riquíssimo património histórico enquanto povo e a Língua que falamos conseguem aceder ao restrito lote das coisas que nos unem incondicionalmente.
É claro que, no plano individual, a pergunta “Quem somos?” ficará sempre sem resposta — é impossível conhecermos pessoalmente cada um dos subscritores.
Mas agora, graças ao levantamento que está a ser concluído, podemos pelo menos chegar a alguns dados interessantes — e as poucas centenas de subscrições cujo tratamento está ainda por fazer já não deverão alterar este “retrato robot” do subscritor da ILC.
Vejamos alguns resultados extraídos da penúltima actualização.
A surpresa maior prende-se com o género: esta é uma Iniciativa que está a ser feita no feminino, tendo sido subscrita na primeira versão em papel (e continuará certamente a sê-lo na actual modalidade electrónica) maioritariamente por mulheres: 56%.
Já quanto à distribuição geográfica não há surpresas: existem subscritores da ILC-AO em todos os distritos do país, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Muito em breve apresentaremos resultados e gráficos finais (ou quase) deste levantamento das subscrições em papel antes da alteração da Lei que regula as ILC. Nessa altura poderemos começar a tratar os dados das subscrições electrónicas desta nova fase da ILC. Electrónicas… e em papel — tendo em conta que esta forma de subscrição, naturalmente, continua a ser válida.
Se por acaso não subscreveu a ILC, ainda está a tempo de juntar a sua voz à deste extraordinário conjunto de cidadãos.
Diga NÃO ao Acordo Ortográfico — contamos consigo para continuarmos a traçar o mapa do nosso descontentamento. É um mapa que percorre o país de lés a lés e tem um destino óbvio: a Assembleia da República.