«Palavras Plenas» [por María Oliveira]

Palavras Plenas


O “acordo” acordou morto!
É um boto, torto e tosco.
Coitado, caiu de borco,
mal disposto e mal composto.
Tal um rei-morto-rei-posto,
Aleijão, porco, terçolho,
Malcheiroso peixe de molho
Aguarda, com um só olho
Em terra de cegos, restolho,
Sanguinolento, jack-estripadolho,
Que a turba o aceite,
Ao pimpolho!
Espera sentado, “acordo”
Ó badalhoco, misturado, parolo,
Impúdico lixo, moçoilo,
Estouvado, torpe, bandoleiro.
Escabroso insulto, tachista
acabado em “-eiro”,
Contigo não acordo eu,
Trauliteiro, estouvado,
Inerte fantoche, dom-roberto,
Marioneta, travesteiro,
Malcheiroso e carniceiro,
Tudesco, toscaio, cabaneiro!
Que um Diabo te carregue,
taberneiro, imundo
Sancho Panseiro, fruta podre,
Mornaceiro, entulho e candombleiro!
Que te enterrem e esqueçam, mentideiro,
Filho-duma-Grande-Mãe, abortadeiro.
Tu, “acordo” mil-novecentos-noventeiro,
Mentira, escumalha, tremoceiro,
Vai p’ró Inferno, mau dinheiro!
A tratos de polé nos puseste, gajeiro,
Bode, Bafomé, Carniceiro!
Esgrouviado, crackeiro,
Cadavérico merceeiro, de contas rascunhadeiro,
Vendido, comprado, prostiteiro,
Putrefacto, Babilónia, escroque, cretineiro!

Má’fim tenhas, tortulho,
Babugem, estultícia, entulho!
“Va de retro”, rebotalho,
Meretriz, hálito de alho.
P’rás Profundas da Geena gires.
“Acordo”-aborto, mal parido,
Maldito, antraz, escolho,
Refocilante, mácula, chifrudo.

Odeio-te, abomino-te, nego-te,
Escrita da Besta, quisto da Política,
Filho da Grande Porca, sale con,
venereal peast, gusano, maledetto,
Pestilento, má peça, decadente.

Que os teus ISBN’s se apaguem,
As meninges de quem te pariu chaguem,
E ardas, em mil Fahrenheits
Pelos ares te evoles em cinzas,
Para que nós, se em Mil Vontades te execramos
Livres, enfim, do tumor, em coro feliz digamos:
Ecce, não passa de má memória,
Esmagada, a vil escória,
Em estertores de peçonha
Rabeia, espojando-se, contorcendo-se,
já não campeia.
Apeada da cadeira, manquejante de borotoeja,
Morreu de morte-macaca, esquecida,
Reduzida à estrumeira…

Possa a madre-língua vicejar,
E, morta que foi a peste, engrandecer-se
De novo, camonejar, sem vilipêndios ou tontices,
Consoantes mudas re-debutar
Em baile de roupas brancas, pura, ágil, neo-limpa,
Contar, narrar, poetar, hífens livres de grilhões,
Vogais enchapeladas, seus acentos, pena-fina,
Consoantes presentes, sem mofina,
Repovoar palavras, repor verdades,
revoadas de sons remoçados, reconhecidos termos,
Cês, pês, ressuscitados, rebuçadais sons
Relembrados, caramelos de infância, amendoados,
Algodão-doce, regresso a casa, pipocas plenas,
Palavras queridas, recordação, língua com penas,
Esvoaçantes, reconhecidas, Palavras Plenas!

María Oliveira

daqui

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