O vídeo que partilhámos ontem aqui — “Why is there a “b” in doubt?”, ao qual adicionámos legendas em Português Europeu — tem ele próprio (e a sua legendagem) uma história que vale a pena contar.
Gina Cooke é uma linguista e professora norte-americana, e autora de outros dois vídeos sobre linguagem (Making sense of spelling e The true story of true), que também aconselhamos.
A propósito desta nossa nova tradução, Gina Cooke revelou-nos que o “feedback” a esta sua “aula” TED-Ed foi extraordinário. Recebeu comentários de várias pessoas que lhe falaram da ligação entre a palavra “dúvida” e o número 2 em várias línguas — holandês, alemão, espanhol, grego, filipino, sânscrito e outras. Os comentários foram de falantes nativos dessas línguas e nenhum deles se tinha apercebido dessa ligação na sua língua antes de a ter visto no inglês.
Sobre a nossa luta contra o Acordo Ortográfico, Gina Cooke revelou que partilha a nossa posição sobre o valor da etimologia e da preservação de significados e da cultura no sistema escrito.
Aliás, a conversa com a autora foi bastante esclarecedora:
“A crença dos políticos de que podemos, de algum modo, tornar uma Língua mais simples e mais fácil de ensinar se mexermos no sistema de escrita é uma crença tonta“, disse.
E acrescentou:
“Uma ortografia evolui para representar sentidos e significados para as pessoas que conhecem e falam a Língua, não para ser mais fácil para miúdos de sete anos. A expectativa ou a crença de que um sistema de escrita pode ser dominado se escrevermos as palavras tal como elas soam denuncia um falso entendimento tanto de ortografia como de educação. Dou aulas a crianças de todas as idades sobre a profundidade da ortografia em Inglês — e elas ficam realmente interessadas pelo tema. Ensino-lhes que cada letra “muda” numa palavra é uma história à espera de ser contada e dou-lhes os meios para descobrirem essas histórias. Elas acabam por ficar profundamente envolvidas no estudo das palavras e dos seus significados, muito mais do que em decorar matéria para responder a testes.”
Não deixa de ser penoso ver como norte-americanos (e outros povos civilizados) tentam aprender tudo com método e rigor, enquanto noutros países se faz o possível por destruir esses mesmos conceitos.
Fontes das imagens: FastCompany e Illinois State University
2 comentários
Mais uma “Velha do Restelo”! Incrível! Com estas posições anacrónicas, antiquadas, conservadoras, o inglês corre o risco de se tornar uma língua em vias de extinção! Não há por aí nenhum dos nossos políticos, linguistas, intelectuais, escritores, editores, jornalistas, professores, encarregados de educação, progressistas e modernos, que explique a esta Senhora, “linguista norte-americana”, que a sua língua, agarrada à etimologia, ficará para sempre acantonada na sua remota ‘aldeia gaulesa’? Não há por aí uma alma benfeitora que lhe faça chegar as esclarecidíssimas e sábias declarações inscritas na “Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)”? Passo a transcrever para os mais distraídos:
«4. – Conservação ou supressão das consoantes … (base IV):
4.1 – Estado da questão
(…)
c) É indiscutível que a supressão deste tipo de consoantes vem facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elas ocorriam.
De facto, como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como ‘concepção’, ‘excepção’, ‘recepção’, a consoante não articulada é um ‘p’, ao passo que em vocábulos como ‘correcção’, ‘direcção’, ‘objecção’, tal consoante é um ‘c’?
Só à custa de um enorme esforço de memorização que poderá ser vantajosamente canalizado para outras áreas da aprendizagem da língua;
d) A divergência de grafias existente neste domínio entre a norma lusitana, que teimosamente conserva as consoantes que não se articulam em todo o domínio geográfico da língua portuguesa, e a norma brasileira, que há muito suprimiu tais consoantes, é incompreensível para os lusitanistas estrangeiros, nomeadamente para professores e estudantes de português, já que lhes cria dificuldades suplementares, nomeadamente na consulta dos dicionários, uma vez que as palavras em causa vêm em lugares diferentes da ordem alfabética, conforme apresentam ou não a consoante muda; (…)»
Fica para reflexão!
A supressão das consoantes mudas e o (Des)Acordo Ortográfico só servem para quem se esquece das suas origens tanto humanas como linguísticas. É como cortar relações como os seus pais e avós.
Alguém que esclareça essa senhora que com estas simplificações e o distanciamento às línguas mais faladas no mundo, o português é que corre o risco de se extinguir. Pior, ficar associado a países onde impera o subdesenvolvimento, a criminalidade e a falta de ordem.
Pelos vistos, a aldeia gaulesa de que fala já se expandiu há muito tempo para todo o mundo (muito mais do que o português) e cada vez mais o inglês é uma língua franca falada pelos mais diversos povos do planeta (em relação ao português não é bem assim). Deveríamos seguir o exemplo e mudar radicalmente de estratégia.
A simplicação da escrita com o objectivo de as pessoas darem menos erros é como legalizar os assaltos só para se contabilizarem menos crimes para as estatísticas.
Todos os avanços que têm sido dados ao longo da história, devem-se ao facto de as pessoas se quererem nivelar por cima e não por baixo.
O (Des)Acordo Ortográfico só vem diminuir a quantidade de palavras em vez de a aumentar, forçando muitas vezes as pessoas a terem de ler a mesma frase duas vezes, pois da primeira vez não lhes soou bem.
Veja-se o caso do “para” e do “pára”, em relação à seguinte expressão:
– Pára para reflectir.
Com as novas regras (absurdas) fica:
– Para para refletir. (Confuso não é? Tem que se ler a frase duas vezes saber qual é a mensagem, pois à primeira vista parece que há uma duplicação de palavras.)