PERFEITO
Perfeito é não quebrar
A imaginária linha
Exacta é a recusa
E puro é o nojo.
Sophia
«Miguel Sousa Tavares, que fazia anos nesse dia – circunstância a que aludiu lembrando os “demasiados anos” que se cumpriam desde a primeira vez que a mãe lhe dissera “Miguel, olha o mundo!” –, foi responsável pela mais prolongada ovação da noite quando garantiu que Sophia, se fosse viva, se oporia ao novo acordo ortográfico.»
Notícia do “Público” de 02.07.14 sobre a trasladação
4 comentários
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Também nós, mortais, aplaudimos Sophia! Vida longa à memória da que foi, vertical, limpa e viva! E também nós esperamos pela madrugada em que o desprezível AO90 passará ao pó do esquecimento, porque o contido nas duas primeiras frases se opõe, doloridamente, orgulhosamente, ao jugo de uma língua que se tornou um ocupante e, como ele, uma inimiga… Até breve, Sophia!
Se Sophia está no Panteão tragam para a rua a sua poesia.
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
(Esta gente – Sophia)
Que a voraz e insaciável traça editorial se não atreva a profanar a «palavra» justa, recta, exacta de Sophia!
E que haja enfim um mínimo de dignidade, decência e coerência por parte dos políticos – todos! – que se têm comportado como proprietários da nossa língua e «ditadores», impondo-nos um AO90 que não queremos, não nos serve, nos rouba e nos desprestigia!
«Os ditadores – é sabido – não olham para os mapas
Suas excursões desmesuradas fundam-se em confusões» (“LAGOS I”)
Somos um país que vive de e para os “eventos”, do e para o espectáculo! Mas «é preciso saber que», apesar da leviandade que nos caracteriza, há celebrações que irremediavelmente nos responsabilizam!
A merecidíssima consagração da escritora e da sua personalidade humana, íntegra, vertical e impoluta, que o Panteão Nacional representa, não se coaduna com o desrespeito pela língua de Portugal, a que Sophia consagrou a sua vida e que tanto enalteceu e amou!
Por isso «é preciso saber que», como toda a poesia, universal e eterna, estes seus versos ganham, à luz do nosso desgraçado presente, uma nova dimensão:
«(…)
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra.»
(“COM FÚRIA E RAIVA”)
Tremo em pensar Sophia nos manuais escolares “em AO90”. Aliás nem percebo como se pode pensar em estudar poesia “em AO90” que corrompe e violenta a poesia no mais fundo que tem!