Reunidos na Vila do Gerês, no XIV Encontro nacional de Poetas, dia 20 do corrente, foi apresentada uma proposta aos mais de cem participantes, para que se pronunciassem acerca da aceitação ou da rejeição do Acordo Ortográfico. No universo de 107 autores presentes verificaram-se 5 votos a favor, 8 abstenções e 94 contra a oficialização do Acordo. Diversos foram os poetas presentes que leram poemas da sua autoria, subordinados ao tema que se revelou preocupante, tendo em conta as liberdades poéticas de que esta classe de criadores usufrui.
Na circunstância foi recordada a luta persistente do recém falecido Graça Moura que tantos e tão acesos debates travou no sentido de não ser consumada a adesão de Portugal. Foi também invocada uma opinião do Juiz Rui Teixeira que em Maio passado tornou pública e na qual esclarecia: «alega este magistrado que as actas não são uma forma do verbo atar», que «os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso e a língua portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário». Segundo essa informação que pode ler-se no site «Portugal Glorioso» este juiz enviou uma nota à Direcção Geral de Reinserção Social, em Abril último, onde se pode ler que «esta fica advertida que deverá apresentar as peças em Língua Portuguesa não é resultante de um tal acordo ortográfico que o governo quis impor aos seus serviços e sem erros ortográficos decorrentes da aplicação da Resolução do Conselho de Ministros 8/2011, a qual apenas vincula o Governo e não os tribunais». A DGRS pediu um esclarecimento a esse juiz que respondeu: «a Língua Portuguesa não é resultante de um tal «acordo ortográfico» que o governo quis impor aos seus serviços. Pelo menos neste (tribunal) os factos não são fatos, as actas não são formas do verbo atar e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário».
Seja como for a sociedade portuguesa entrou em perfeita desorientação, com o assentimento do poder político que não mais teve a coragem de travar o pandemónio que se generalizou. Os países lusófonos, da mesma forma se desorientaram. E já não vai existir concordância plena, como o projecto inicial exigia, sob pena de o acordo não se realizar. Sabe-se que o DR, 1ª série, nº 145 de 29/7/2008 publicou uma saída que preconizava um período de transição definitiva. Esse período começava em 2009 e terminava em 2015. Entretanto, Angola solicitou uma moratória de 3 anos para ratificar o Acordo. Cabo Verde prevê que só num prazo previsível de 10 anos possa cumprir o Acordo. Portugal fixou o ano lectivo de 2011/2012 para o sistema educativo e em 12 de Maio de 2015 para o fim do período de transição.
Os poetas portugueses que desde o ano 2000, têm vindo a reunir no 3º sábado de Setembro de cada ano, na Vila do Gerês, debateram mais este obstáculo à sua criatividade. Entendem que não desejam desaprender as regras ortográficas, morfológicas e sintácticas que tanto lhes custaram a aprender; e que já basta o desprezo político que os diversos governos lhes têm devotado.
[Transcrição parcial de notícia publicada pelo “Diário NetBila” em 22.09.14. “Links” adicionados por nós.]