«Seguro desafia Passos a “desautorizar” VGM» [Público, 04.02.12]

Seguro desafia Passos a “desautorizar” Vasco Graça Moura

Luís Miguel Queirós

Decisão do presidente do CCB de não aplicar acordo ortográfico chegou ontem ao Parlamento

• A decisão de Vasco Graça Moura de não aplicar o Acordo Ortográfico (AO) no Centro Cultural de Belém (CCB) chegou ontem ao Parlamento, com o líder do PS, António José Seguro, a desafiar o primeiro-ministro a “desautorizar” o novo presidente do CCB, sob pena de se ver “desautorizado por ele”. Aparentando algum desconhecimento do que estava em causa. Passos Coelho confirmou que também ele lera que Graça Moura tinha pedido para não lhe colocarem no computador o corrector ortográfico”, e acrescentou: “Parece que gosta mais de escrever com a antiga ortografia”.

Como o PÚBLICO noticiara na véspera. Graça Moura, apoiado pêlos restantes elementos do conselho de administração do CCB, distribuíra uma directiva interna ordenando que fossem desinstalados de todos os computadores os conversores ortográficos que adaptam os textos escritos na ortografia anterior às normas do acordo. Em resposta a Seguro, que acusou o presidente do CCB de desrespeitar “uma lei da República”, Passos Coelho lembrou que o AO está em vigor desde o início deste ano, e que “assim o confirmam os manuais escolares e todos os actos oficiais”.

Recusando-se a prestar quaisquer outros esclarecimentos adicionais, o chefe do Governo parece partilhar a posição assumida pela Secretaria de Estado da Cultura, que entende que o CCB, enquanto fundação pública de direito privado, se enquadra nas instituições que não estão ainda obrigadas a aplicar o AO. Nem o responsável da Cultura, Francisco José Viegas, nem o primeiro-ministro fizeram quaisquer declarações que possam ser lidas como uma crítica à atitude assumida por Vasco Graça Moura. Já o actual director-geral das Artes, Samuel Rego, ouvido ontem pela agência Lusa a propósito da decisão do CCB, afirmou que “o debate está sempre em aberto num país livre”, mas defendeu que “a execução das políticas deve pautar-se por convergência entre as instituições”. E acrescentou: “O contexto económico obriga a que não façamos pausas em nenhum momento, obrigando-nos a ter uma capacidade de concentração na execução sem nos dispersarmos com o acessório”.

Ouvido por várias televisões. Vasco Graça Moura afirmou que este AO é “um crime contra a língua portuguesa” e que fez o que era sua obrigação ao não o aplicar no CCB. Recusando a ideia de que a medida possa ser ilegal – “ilegal, comentou, “é aplicar um acordo que não está em vigor” -, reconheceu que a sua decisão pode gerar controvérsia. E terá mesmo querido que a gerasse, já que assumiu a expectativa de que esta decisão “sirva de alerta para que se atalhe uma situação que é de perfeita catástrofe no plano da língua portuguesa”.

[Transcrição de artigo publicado no jornal “Público” de 04.02.12 (página 9).]

Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.

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3 comentários

    • Paulo Teixeira on 5 Fevereiro, 2012 at 21:08
    • Responder

    Só pediria para corrigirem os “pêlos” a mais na frase: “(…) Graça Moura, apoiado pêlos restantes elementos do conselho de administração do CCB (…)”. 🙂 Obrigado.

  1. O Seguro podia lutar pela Língua Portuguesa e não ficar de conversa fiada sobre “provocações políticas”.

  2. PF fixem que o Português JÁ ESTAVA optimizado, e que qualquer alteração provoca complicação.
    Se é verídico afirmar que o Inglês-Americano consegue ser mais simples sem deformar na maioria das vezes, o Português de 1945 já é o equivalente ao Inglês-Americano. Por essa razão os Portugueses acham a nova escrita mais complicada. Porque é mesmo. Retrocesso. Netuno.
    Também: se falam de unificar, continuam a existir 2 línguas??!

    Deveriam sim, uniformizar o vocabulário informático, bom nos anos 80, mas mau no presente. Péssimo em pt-br, que está a invadir a linguagem informática portuguesa. Exemplo: flash, e o Android que diz ‘Discando’.

    Obrigado e viva Portugal. Sempre!

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