Sob o manto diáfano da fantasia, a nudez forte da verdade (*)

EstatuaEQA julgar pelo teor das notícias mais recentes, temos de concluir não serem minimamente aceitáveis os cenários previsíveis que as intenções políticas já manifestadas implicam. Em qualquer dos casos, quanto aos três projectos de RAR sobre o AO90 já anunciados, aquilo que lamentavelmente se perfila no horizonte é – das duas, uma – ou que tudo fique na mesma, isto é, mantendo-se o “acordo ortográfico” em vigor (de facto mas não de direito), ou que, pior ainda, em sede de discussão e votação parlamentar se opte, maioritariamente, pela tese da “revisão” do dito “acordo”.

Mais de cinco meses depois de publicado o relatório do GT AO90, o que por fim agora surge, como resultado e consequência das dezenas de audições e audiências daquele “grupo de trabalho” parlamentar, são três projectos de resolução (RAR) que mutuamente se anulam, em termos de previsibilidade das respectivas votações. Temos por conseguinte resultados que, repita-se, em qualquer dos casos serão os opostos aos interesses da Causa anti-acordista em geral e, por inerência, aos da ILC AO que essa Causa corporiza e representa. Ao fim e ao cabo, não será certamente assim que se conseguirá atalhar o passo ao monstro ortográfico. Bem pelo contrário, aliás, visto que a tese da “revisão“, a vingar, representará (representaria) a consumação de uma espécie de “solução final” (Endlösung) para a liquidação sumária da ortografia da Língua Portuguesa.

Já se perdeu demasiado tempo com ilusões, promessas e hipóteses que se revelaram totalmente infundadas, sendo que o tempo, como sabemos, além de não voltar para trás é cada vez mais premente, cada vez mais urge fazer-se algo de concreto e de efectivo quanto a esta questão, pelo que, analisadas todas as alternativas, que afinal não existem, tendo em vista os cenários referidos, cumpre decidir: o que fazer agora? Recomeçar, retomar a luta ou pura e simplesmente desistir?

Pois bem, sucede que o verbo “desistir” não consta do nosso dicionário. Portanto, e precisamente por terem saído goradas todas as expectativas e por não haver de facto – como sempre dissemos e como a simples passagem do tempo se encarregou de confirmar – qualquer espécie de alternativa exequível e viável, aqui está de novo a ILC pela revogação da entrada em vigor do AO90, aqui estamos nós outros, os seus subscritores, activistas e voluntários, prontos para relançar esta iniciativa cívica, movidos apenas por aquilo que consideramos ser um imperativo de cidadania, todos juntos pela mesma Causa, de peito aberto e sem outras armas que não a nossa inabalável determinação, a vontade indomável de cumprir esse mesmo dever, de que não abdicámos, não abdicamos, não abdicaremos jamais.

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(*) Variação sobre a célebre, lapidar frase de Eça de Queirós em “A Relíquia”(1887).
[Imagem (de topo) do “blog” Olhares.]

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