Sinto-me como se me estivessem a tramar pelas costas [Paula Blank]

Durante uma procura pela tradução oficial para português da peça shakespeariana ‘Hamlet’, de modo a poder transcrever correctamente a famosa frase de Marcellus, “Something is rotten in the state of Denmark” para uma publicação no Facebook, encontrei a página do Plano Nacional de Leitura. Quando comecei a ler a versão da peça que lá está alojada, franzi o sobrolho ao verificar (achava eu) que já teria sido convertida para a nova ortografia. Respirei fundo e iniciei corajosamente a procura pelo termo “Dinamarca”. De repente, passa-me um “súdito” pelos olhos. Voltei ao início do documento e qual não é o meu espanto, a personagem Polónio era Polônio. Não quis ver mais nada, porque já o estômago se me embrulhava ao perceber que, no plano nacional de leitura de Portugal se encontra uma tradução para português do Brasil da peça Hamlet.

Há verdadeiramente algo de muito podre no estado da ‘Dinamarca’, muita leviandade e incompetência ou propósitos muito mais funestos. Tendo a acreditar na segunda hipótese.

Mandei-lhes uma mensagem por correio electrónico que, até agora, não teve resposta, e que passo a transcrever:
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From: Paula Blank 21 February 2013 10:20
To: lermais@planonacionaldeleitura.gov.pt
Bcc: ilcao@cedilha.net

Exmos Senhores,

Estou de tal forma chocada com a descoberta que acabo de fazer, enquanto procurava uma tradução para português da peça Hamlet, que me limito a estas perguntas:

Como é possível que, no plano nacional de leitura, para Portugal, conste uma tradução para português do Brasil? Com nomes como “Polônio”, e grafias como “súdito”?

Não há traduções para português de Portugal?!

É o destino da língua portuguesa, como a conhecemos, a total e absoluta aniquilação em favor da versão brasileira?

(Link para versão brasileira de Hamlet no site do PNL)

Paula Blank
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Neste momento, creio que a resposta à minha terceira pergunta é um redondo e retumbante SIM. E eu não me lembro de algum dia ter dado o meu aval a nenhum governo para alienar aquilo que é meu como cidadã portuguesa. Mas é isso que estão a fazer, pela calada, nas nossas costas, à nossa revelia. Vivemos dias de golpe de estado – mas ao contrário.

(Nota: não se coloca de todo em questão a qualidade da tradução)
suditos
[Imagem retirada do ficheiro PDF no “site” do “Plano Nacional de Leitura“.]

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