Nunca me tinha passado pela cabeça que se justificasse a realização de um referendo sobre o Acordo Ortográfico. Bastariam, pensava eu, o simples jogo dos princípios do Direito num Estado que se reclama dele, a mera verificação da ocorrência ou não de determinados pressupostos, a reconhecida competência ou mesmo a simples informação da maioria dos especialistas e dos utilizadores qualificados da língua, enfim, o sentimento expressivamente maioritário da opinião pública, para travar a calamidade.
No entanto, não está a ser assim: quem ataca o AO, recorre a argumentos jurídicos e técnicos que ainda não foram refutados. Quem defende o AO sem conseguir desenvolver uma contra-argumentação nesse plano faz tábua rasa dos princípios elementares do Estado de Direito, colocando-se numa posição autoritária de que o dito está em vigor “porque sim” e tem de se aplicar “porque sim”.
Não conheço até hoje, dentre as personalidades que integram o segundo grupo, quem se tenha dignado refutar os argumentos expendidos por quanto alinham no primeiro, o que, de resto, dá bem a medida da “democraticidade” do processo e da incapacidade de diálogo de certos segmentos da sociedade política. Isto para não falar da frustração dos objectivos expressamente visados pelo AO: nem o espírito, nem a letra do documento contam na emergência; não conta o espírito, porque, patentemente, o AO não unifica a grafia do língua; não conta a letra, porque, não menos patentemente, não se verificam os pressupostos essenciais, quer para a sua vigência, quer para a sua aplicação. Afinal, só conta a obstinação de quem não quer ver as coisas como elas são e o país está já a pagá-la bem caro.
Mas não é essa a principal razão de ser do presente artigo. Os argumentos estão ditos e reditos e não vale a pena retomá-los agora.
Acontece todavia que, no plano da Educação, já está em curso a mais desvairada e absolutamente ilegal aplicação do AO, sem senso, sem ponderação, sem preparação e sem sentido.
Mas é um facto: está em curso. E, como se de uma catástrofe natural se tratasse, é necessário enfrentar essa situação que, no universo escolar de alunos, famílias, docentes e discentes, ultrapassa todos e não aproveita a ninguém. Na edição do livro escolar, há quem, como é sabido, discordasse do AO, mas não tenha querido perder o negócio e se tenha sujeitado ao Diktat sem lhe opor resistência digna de nota.
Podemos portanto pôr as coisas nestes termos: o AO é um crime contra a língua portuguesa, mas o facto é que está a ser aplicado e portanto o crime está a ser cometido. Simplesmente, também não se pode ignorar que a suspensão dessa aplicação acarretaria, no plano escolar, um considerável prejuízo para um país que está completamente falido como o nosso.
Vai portanto ser necessário optar entre continuar a cometer o crime, poupando os custos muito elevados que a correcção do presente estado de coisas acarretaria, e ter a coragem de lhe pôr cobro de vez, salvando a língua que as gerações futuras vão falar e aceitando suportar esse forte agravamento das despesas.
Esta questão é eminentemente política e não pode ser encarada de ânimo leve. Se estivéssemos numa situação económica viável, não seria preciso chegar-se a este ponto. Suportava-se o prejuízo e chamavam-se à pedra os responsáveis.
Mas não é assim. E já tem surgido o argumento económico de que se torna incomportável voltar atrás. Quem o invoca, não se terá preocupado tanto com os custos da reconversão ao AO, mas passemos.
Por tudo isto, e se as obstinações continuarem, é bem possível que, das profundas da crise, se acabe por concluir que pelo menos essa opção gravíssima, cujos termos alternativos acima foram enunciados, justificaria fosse realizado um referendo.
É preciso que a sociedade portuguesa assuma plenamente a grave responsabilidade política, cultural e social, correspondente a uma escolha dessa natureza.
A pergunta a fazer poderia corresponder a qualquer coisa como: “entende que no ensino em Portugal se deve aplicar desde já o AO à expressão escrita da língua portuguesa, bem como aos livros e manuais escolares?”
[Transcrição integral (copy/paste DAQUI) de crónica da autoria de Vasco Graça Moura publicada no jornal “Diário de Notícias” de hoje, 07.03.12.
Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.
25 comentários
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«Simplesmente, também não se pode ignorar que a suspensão dessa aplicação acarretaria, no plano escolar, um considerável prejuízo para um país que está completamente falido como o nosso.»
Além de surpreendente, considero este juízo de VGM algo catastrofista e redutor, para já não dizer que é de facto castrador quanto à Causa que a todos nós move: “considerável prejuízo”? Mas então não é igualmente considerável, quando não verdadeiramente desastroso, do mesmo ponto de vista (económico ou economicista), continuar na senda do desastre?
Pois afinal o que ficará ao país mais caro? Será estancar já a hemorragia, enquanto ainda não é tarde de mais, ou será continuar a permitir este negócio chorudo a que se convencionou chamar “acordo ortográfico”?
Prejuízo mesmo é esse acordo ortográfico.A não ser para quem publica livros “explicando” como funciona o acordo e as editoras com a sua enxurrada de livros novos.
Também considero surpreendente este artigo de VGM e concordo plenamente com o ponto de vista de JPG: a não paragem de tal atrocidade custar-nos-á infinitamente mais caro…
O que se deveria fazer, era parar já com este pesadelo e sentar no mocho os responsáveis por tão ultrajante traição… ponham os olhos na Islândia.
Cumpts
Acho que o Prof.Vasco Graça Moura, infelizmente, tem toda a razão.
Já há gente a escrever “objeto” em vez de o fazer correctamente, e já toda a gente anda a ler “direto” em vez de “directo” nas TV.s e em demasiados jornais.
Nas escolas já há crianças a ler e escrever “letivo” em vez de “lectivo”.
O problema é que as pessoas habituam-se a ler assim e começam a achar normal escrever mal. Se as coisas continuam por este caminho, depois vai ser difícil fazer voltar muita gente a escrever correctamente. Nessa altura será como pôr outra vez todos a escrever “applauso” ou “condemnação”.
Devemos avançar o mais depressa possível para o referendo. Quando mais tarde for feito o referento, mais irreversíveis na opinião pública serão os efeitos da aplicação deste malfadado AO.
Eu iria adicionar ao que o Sr. JPG afirmou:
Quando falamos de “considerável prejuízo” estamos a falar do quê? Quanto?
É não estou a ver esse prejuízo na classe “considerável”.
Elaboremos um pouco:
Se deixarmos de aplicar este AO, que custos estão envolvidos?
Ano lectivo:
– Manuais escolares – Já foram impressos (não vale a pena chorar sobre o leite derramado), mas são para usar os mesmos ou haverá nova impressão? Resposta, imprimem-se novos quer esteja o AO a ser aplicado ou não – se querem poupar, podem aproveitar os textos anteriores. Conclusão: Diferença de custo=Zero.
– Os miúdos aprenderam com as novas regras é preciso reciclar. Aqui admito que haja algum aumento de custo, mas será assim tão grande? As partes que apresentam diferenças ortográficas tomam que percentagem do estudo da lingua portuguesa nos currículos? Não se resolve com uma adenda nos manuais escolares e umas sessões?
Documentos publicados e impressos:
– Diccionários – Isto é um “não problema”: não sei de nenhum diccionário actual que não tenha tudo na versão antes e na depois do AO. Nas novas impressões será só remover as partes conformantes com o AO, e isso, representa que custo para a nação: Em termos practicos: Zero.
– Jornais, revistas e outros periódicos – O que já foi publicado não tem cura. Para a frente é só fazer o que o CCB fez: Desinstalar um corrector automático e pôr outro…
– O mesmo para os serviços do Estado e para as empresas que já mudaram para o AO, aplica-se a “solução CCB”.
Afinal, estamos a falar de comprometer a identidade cultural de uma nação 11 milhões de almas agora, mais os muitos milhões que serão os nossos descendentes (filhos, netos, etc…) para não comportarmos que custos?
Abraço,
Nuno Gonçalves
O nosso país está “completamente falido” é verdade, mas é de valores e de dignidade!
O dinheiro e o esforço gastos nas últimas décadas, em prol da alfabetização de um país até há bem pouco tempo maioritariamente analfabeto, são agora atirados pela borda fora, para proteger umas quantas editoras pouco preocupadas com o país e muito com as suas negociatas.
E nestes cálculos dos custos, sempre tão alardeados, em defesa do AO, já se lembraram:
– da quantidade de impressos que estão certamente a ir para o lixo, em tudo quanto é administração do Estado?
– das empresas que vão ter de alterar tudo: impressos, embalagens, cartazes, tabuletas, pinturas nos estabelecimentos, carrinhas, publicidade (já repararam nos rótulos de qualquer produto: quantas coisas vai ser preciso mudar?);
– das nossas casas, para os que têm livros: vai tudo para o lixo? Não podemos deixar nada para os nossos filhos? Talvez seja bom para as editoras, mas não será também um tremendo prejuízo para as famílias?
O Estado, para proteger negociatas privadas, está a gastar o nosso dinheiro, que lhe falta, por exemplo na saúde, com a implementação desta vergonha, designadamente com o Fundo da Língua Portuguesa. Quem já fez estas contas? Está tudo muito claro, para quem sabe ler, na Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, realizado a 9 de Dezembro de 2010, sob a presidência do então Primeiro Ministro José Sócrates. E o que é espantoso é que esta Resolução do anterior Governo não tenha sido posta em causa pelo Governo actual, quando tinha todas as justificações e oportunidade para o fazer! Porque não o fez até agora? A crise e a “troika” estão a impor ao comum dos portugueses cortes, alterações, sacrifícios, para muitos, incomportáveis. Mas, pelos vistos, os negócios em torno do AO estão bem protegidos!
Isto nem merece ser considerado um país: isto é um esgoto, desculpem a franqueza!
Porque é de facto de uma grande questão nacional que se trata, convém lembrar que sempre houve quem soubesse assumir o lado certo, nas situações difíceis que Portugal conheceu, ao longo da sua secular História: talvez seja de reconsiderar a anunciada supressão do 1.º de Dezembro…
P.S: No meu comentário acima esqueci-me das bibliotecas, TODAS, inclusivamente das escolas, das universidades, dos institutos, etc., por esse país fora: já imaginaram o que significa o AO para estas instituições, em termos de gastos? E de negócios para as editoras? É que não basta “instalar” o conversor Lince!…
Concordo de alma e coração com tudo o que diz a Profª Maria José Abranches e o Nuno Paulo Gonçalves, e gostaria de ter permissão para reproduzir as afirmações de ambos.
Negócio não só para as editoras como também para os inúmeros autores de livros
explicativos em como aplicar o AO. No entanto, para quem está contra o AO, alguma coisa podemos fazer, embora exija algum sacrifício, deixar de comprar jornais, livros,
não assistir a filmes cujas legendas adoptem o AO e etc. etc. por aí adiante. Como, ao
que parece a maioria está contra o AO, esta “greve” a tudo o que adopta o AO vai fazer sentir o efeito (quebra de vendas, de assistências etc.) Eu, por mim, já comecei, deixei de
comprar o Expresso, do qual era leitor desde o nº 1 e qualquer outro jornal que escreva segundo o AO.
Cara Teresa Ramalho: pode reproduzir as minhas afirmações à vontade; espero que ajudem a enriquecer o debate. Cumps.
Teresa Ramalho, por mim pode reproduzir o que eu escrevi.
Aproveito para dizer que concordo com aquilo que a Maria José Abranches escreveu.
Em várias situações nos “atiram” com aspectos económicos ou financeiros em favor do acordo.
– Dizem que traz vantagens económicas, mas não há quaisquer dados ou estudos sobre o assunto.
Falam por alto das nossas editoras beneficiarem… Ou não pensaram no assunto ou devem estar a gozar. Então vamos alterar a ortografia a 11 milhoes para dar mais negócio a um punhado de empresas e beneficiar um punhado de gente???
As análises que vi sobre este argumento foram sempre no sentido de que para o cidadão comum não há qualquer vantagem económica. Em particular, na minha opinião (mas não só na minha) uma alteração à ortografia não se deve mover por razões económicas ou políticas. Trata-se de uma questão de identidade cultural.
– Dizem que terá custos parar o processo, mas não dizem quais nem em que montantes.
– Não dizem quanto o processo está, realmente, a custar ao erário público e quanto se prevê que ainda vá custar, porque essa informação não interessa: É contraria ao AO.
No entanto, já li algures o mais idiota dos argumentos económicos em favor de não se parar o processo do AO na forma de uma acusação: Acusaram de irresponsável, salvo o erro, o VGM por estar a pôr em causa o acordo após um investimento de muitos milhões de euros no processo! Há que ter lata! Muitos milhões? Venham para cá as contas para as podermos ver!
Abraço,
Nuno Gonçalves
Ou há aqui qualquer coisa que me escapa ou Vasco Graça Moura, desta vez, passou-se. A teoria do referendo ao AO, que tem vindo a ser falada ultimamente, não tem pés nem cabeça. Como ele próprio diz, há mais do que razões para que o Governo suspenda o Acordo, sem precisar de qualquer referendo — que aliás, dificilmente seria vinculativo.
Agora, um referendo SÓ para a aplicação do AO nas escolas?!? Por causa dos custos de deixar de aplicar o AO? Então e os custos do próprio referendo?
É que os custos de deixar de aplicar o AO nas escolas são zero. Nada impede que os manuais sejam usados tal como estão, até que se imprimam outros. Basta que os professores chamem a atenção para as incorrecções que foram introduzidas pelo AO. Até podem fazer um exercício de correcção colectiva na sala de aula.
Mas o mais estranho neste artigo de VGM é a formulação da pergunta. De que serve perguntar se o AO deve ser aplicado “desde já”? Mesmo que a resposta fosse “não”, nada impediria os acordistas de perguntar, se calhar logo no ano lectivo seguinte: “e agora, já podemos?”.
Os custos de um referendo seriam iguais (ou superiores) ao cancelamento, assim como os custos (anteriores e futuros) da implementação deste (ilegal) AO são igualmente superiores à reconversão do que é correcto.
A questão deveria estar assente em que é ganha e quem é que perde. O Povo, com o AO, não ganha, só perde.
Do prejuízo até aqui, que é de monta já nos não livramos, dê ele por onde der. Quanto mais depressa atalharmos ao mal, melhor. O que custa é que no meio de tamanho rombo e com tanto remédio para a salvação continuemos a ir a pique. Que entropia, Jesus!
Cumpts.
Rui Valente: muito bem visto! Concordo totalmente. Tudo isto me parece mais “uma esperteza dilatória” dos “acordistas”: mais um pretexto para fazer perder tempo e deixar que o “mal” se vá instalando ainda mais. Reparem nos meios já ao dispor desta “aculturação” que nos está a ser imposta: televisões, jornais e revistas (mais uma vez saúdo os que se, e nos, respeitam recusando o AO), etc.
Saliente-se além do mais que, neste momento, está instalada a maior balbúrdia no ensino, com anos, disciplinas e manuais em que se aplica o AO e outros em que se continua com a ortografia correcta (é) e não “correta” (ê)! Seria facílimo corrigir desde já a situação, até porque o tempo para a sedimentação necessária à aprendizagem da ortografia obviamente está do lado da prática levada a cabo desde 1945!
E, para terminar, mudam-se os tempos, os governos e os ministros, mas o núcleo duro de interesses visivelmente instalado há anos no Ministério da Educação continua! Como explicar de outro modo esta promoção incompreensível do desprezo pela nossa língua (vejam-se também as acções de formação, os formadores, etc, etc,) por quem tem a suma responsabilidade de a proteger, preservar e defender?
…nem me atrevo a entrar neste tipo de discução sob pena de ser “malcriado” (como se diz na minha terra) ou mesmo faltar ao respeito para com ninguém por isso vou apenas dizer que subscrevo tudo e todos que estão “contra” esta aberração chamada AO. A lingua mãe continua a ser o “Português” como tal todo e qualquer cidadão que tenha por lingua oficial esta lingua, tem por obrigação aprender a ler e a escreve-la correctamente. Isto de ter pai na politica que pode com a sua “posição” tornar as coisas mais fáceis para aprender na escola e deixar todas as consuantes e vogais tal como devem de ser lidas e escritas, tem de acabar. A minha lingua é o PORTUGUÊS, foi com ele que Camões escreveu, foi com ele que nos demos a conhecer ao Mundo, é parte da minha identidade. Não pretendo aprender nem falar Braztugando… (para bom entendedor, meia palavra basta)….. como tal vou continuar a defender a minha lingua.
Cumptos
Bom dia para todos.
Entendo a ira e desprezo pelo AO, mas como brasileira, acho que o acordo só vai facilitar a forma comunicativa entre as nações onde a língua portuguesa foi imposta. Afinal, por que tanta diferença? Considerando-se a entrada de Portugal na UE e considerando-se que o Brasil, como país emergente e com maior número de falantes, devido à sua dimensão e importância, sofreu influências da língua nativa e das línguas de raiz bantú e iorubá, trazidas pelos negros que foram arrebatados da sua terra pelos portugueses e estando tão longe do país de Camões, è natural que sofra influências e para nós, uma simplificação. Ora, para as relações de amizade, negócios e finanças, acho justo que se fale e se escreva do mesmo modo. Sem falar nas ilhas e nos países africanos!Talvez o tempo de adaptação, para os portugueses tenha que ser mais longo, mas do meu ponto de vista, inevitável e, se posso dizer, as crianças que aprenderem a nova ortografia cometerão menos erros. Adoro Portugal, mas está na hora de pensar e admitir que os papéis se inverteram. E, democraticamente, temos que considerar a maioria de falantes e não somente de um país. Pensem nisso. Maria
@Maria Nascimento: Seria tudo muito bonito se por acaso o AO resolvesse alguma coisa nesses domínios. Mas não resolve. Nada. Absolutamente nada. Se algumas palavras ficam iguais, outras ficam (agora) diferentes e outras já eram e continuam a ser diferentes. A ortografia não resolve nada quanto às diferenças semânticas, de vocabulário, de construção frásica, etc., etc., etc. Isto para nem falar na vergonha académica que é o próprio texto do AO – se queriam mudar a ortografia do português, tivessem no mínimo a decência de fundamentar e estudar de forma séria essa mudança e o impacto e consequências que teria.
Com o AO, NÃO se irá “falar e escrever do mesmo modo”. Nem pouco mais ou menos. Isso é uma ilusão. Uma mentira de todo o tamanho. Uma aldrabice sem nome. E quanto mais depressa portugueses, brasileiros e todos os demais falantes do português em todo o mundo se derem conta disso, melhor. O AO não serve absolutamente para nada. Repito, para NADA. E insistir no erro é um absurdo ainda maior que o próprio AO.
@ Maria do Nascimento
Veio despejar a sua moral no lugar errado. Como brasileira fale e grafe como entender. Tupi, se lhe der. Como fala-barato, considere a maioria dos falantes como democraticamente quiser; até pode ser ao quilo, como me parece que o faz. O idioma português é outra coisa: não foi imposto, foi a longes terras com portugueses. E português sou eu. Dos portugueses que foram e se esqueceram é que o vi e vejo (ao idioma) ser imposto, quantas vezes a tratos de polé, aos ameríndios ou aos bantos, mas só depois que se arrenegaram como vossemecê. Para negreiros e bandeirantes tem sempre os portugueses as costas largas. Já para o idioma que falam e sempre falaram se lhes nega o arcaboiço. A infâmia mede-se pela minha raça mas o meu idioma já pode ir a peso? O Acordo Ortográfico é colonização brasileira de Portugal. Pois no Brasil, por elementar logica, os colonos acabaram-se com o arroto do Ipiranga. Os brasileiros que se metam na sua vida, que aqui não colonizam nada.
@Maria Nascimento
Vou, para os devidos efeitos, reter esta parte com muita emoção:
“Adoro Portugal, mas está na hora de pensar e admitir que os papéis se inverteram.”
Mas falando mais a sério, o que me está a dizer é que porque Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes tinha o direito de dizer a 15 mil pessoas da região de Miranda do Douro para esquecerem o mirandês, pela lógica da maioria. É isso?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Língua_mirandesa
Eu, que não sei falar uma palavra de mirandês, fico orgulhoso por haver em Portugal quem fale e quem lute para que a língua mirandesa não morra. Viva o mirandês, viva o português e, se assim o entenderem, viva o brazileiro. Agora, façam-me um favor: não venham para aqui com conversas da treta, porque os argumentos utilizados são areia atirada para os olhos. Não me parece que as vossas relações comerciais com a China obriguem que que o brazileiro se adapte ao mandarim ou lá o que é que a maioria dos chineses falam. E eles são muitos mais… vale a mesma lógica?
Continuo e continuarei averso a este A.O.. Tentarei apresentar e fundamentar duas teses, de forma suncinta:
1. A língua é o simbolo / espelho de uma Nação / País. Sobre ela tudo se desenvolve: leis, diplomas, dec-leis, Constituição, etc, etc. A mesma, Língua, ilustra os princípios, conduta, regras e disciplina, em suma as responsabilidades de um País para com o seu Povo e seu Universo. A nossa Língua sólida nos seus principios tem por origens o Grego, Romano e o Árabe, qualquer uma das bases com regras coerentes e de fácil percepção!. O actual A.O. que nos impingem, elaborado certamente por aqueles que nunca gostaram do Latim ou do Grego, amantes certamente do Asterix e Obélix, e que nunca, mas nunca mesmo leram o Dicionário Greco-Romano vs Português, o quiseram por força maior que nos esquecêssemos de nossas origens!. Negar a existência das origens é o mesmo que ignorar a existência de um País, de um Povo!. É de facto o estado e alma do País que temos hoje, desgovernado, corrupto, e sem regras. Quem o elaborou e os que o outorgaram sou a designá-los como assassínios de uma Nação, de um Povo!. Preocuparam-se em pô-lo em prática não olhando a meios e muito menos adaptar condignamente as leis, dec-leis, diplomas, Constituição, tratados, etc, etc.
2. Como exemplo e pondo em prática tal A.O., vejam a que triste resultado chegamos, é vergonhoso!:
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam .
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrit…a deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros .
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas .
É um fato que não se pronunciam .
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se ?
O que estão lá a fazer ?
Aliás, o qe estão lá a fazer ?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade .
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra .
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s” ?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç” .
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som .
Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s” .
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z” .
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é “z” escreve-se sempre com “z” .
Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de “k” .Ponha um q.
Não pensem qe me esqesi do som “ch” .
O som “ch” será reprezentado pela letra “x”.
Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não ?
O “x” xama-se “xis”.
Poix é iso mexmo qe fiqa .
Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x” .
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex .
Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex .
O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural .
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente .
Vejamox o qaso do som “j” .
Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”- ixtu é lójiqu?
Para qê qomplicar ? ! ?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j” .
Serto ?
Maix uma letra muda qe eliminamox .
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem !
Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex ?
Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade ?
Outro problema é o dox asentox.
Ox asentox só qompliqam !
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox .
A qextão a qoloqar é: á alternativa ?
Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra “a” .
Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado .
Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax .
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax lê-se “u” e outrax, lê-se “ô” .
Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso !
qe é qe temux o “u” ?
Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil !
Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza :
quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e” .
U mexmu para u som “ê” .
Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i” .
I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a” .
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex .
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” – pur “ainx” i “õix” pur “oinx” .
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu .
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum ?”.
Deixo-vos com este desabafo que em muito me entristece de como é possível quererem anular a existência de Portugal e de seu Povo!. Fui obrigado a ser Português, aos 11 anos, agoram aturem-me!. Deram-me bases e boas bases, quem sois e porque sois assim tão prepotentes a alienarem-se de uma Língua que todo o emigrante se orgulhava de a falar nos países que os acolheram!.
@ Manuel Gaspar:
No seu ponto 2, faltou referir que esse exemplo é um artigo com autoria de Maria Clara Assunção, publicado no Observatório da Língua Portuguesa [ http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/o-acordo-ortografico-e-o-futuro-da-lingua-portuguesa ].
Google Angola – de preferência JÁ.
Concordo plenamente. Na prestigiada Revista Online LIVROS & LEITURAS escrevi um artigo manifestando as razões por que sou contra o Acordo Ortográfico.
http://www.livroseleituras.com/web/index.php?option=com_content&view=article&id=821%3Afernando-cardoso-qacordo-ortgrafico-revelou-se-mais-politico-do-que-linguisticoq&catid=98%3Aopiniao
A prestigiada revista Online LIVROS & LEITURAS publicou um artigo de minha autoria contra o Acordo Ortográfico.