Pequenas escolhas do dia-a-dia

Aqui há dias respondi a um questionário de satisfação de uma empresa. A última pergunta consistia em acrescentar quaisquer outros comentários que tivesse. É nessa pergunta que, de uma forma ou de outra, procuro transmitir às empresas que preferiria que não utilizassem o AO90 nas comunicações por escrito.

Em regra, tudo quanto escolho enquanto consumidora vem bem escrito. Começo obviamente pelo essencial — os livros e os jornais — mas levo esta opção até às coisas mais insignificantes como champô, pasta de dentes, creme das mãos, detergente da loiça/roupa, leite, iogurtes, etc.

Por um lado, o facto de fazerem boas escolhas nos textos que escrevem transmite-me confiança quanto ao bom senso dos responsáveis pelos produtos que consumo. Consequentemente, transmite-me confiança nos produtos em si.

Por outro lado, trata-se de uma questão de bem-estar quotidiano, ao olhar para as embalagens enquanto consumo os produtos. Sabe-me muito melhor comer um iogurte vindo de uma embalagem sem palavras tóxicas, por exemplo.

Às vezes, infelizmente, não tenho escolha. Há determinados produtos ou serviços indispensáveis para os quais não encontro opções bem escritas. É nesses casos em que, sempre que há oportunidade, procuro transmitir às empresas a minha opinião.

Da mesma forma, sempre que posso, elogio as empresas que não foram na conversa da “maravilhosa nova ortografia” e agradeço-lhes. As provas de inteligência causam-me sempre muito boa impressão.

Não estou sozinha. Um amigo próximo, que integra um painel permanente de estudos de mercado aos hábitos de consumo, faz exactamente o mesmo. Sempre que pode, deixa “recado” às empresas quanto à sua preferência — comunicação com AO, não, obrigado. Diga-se de passagem que esse painel, gerido pela Marktest, tem a feliz iniciativa de continuar a enviar-lhe os seus inquéritos em bom português.

Não pensem que esta preferência pelas boas práticas ortográficas é uma tarefa difícil. Pelo contrário, continua a ser frequente encontrarmos lojas, teatros, salas de exposições e toda uma miríade de espaços comerciais onde encontramos bens ou serviços apresentados em bom Português Europeu.

Suspeito mesmo que a opção pelo Português sem AO começa a fazer um caminho como sinónimo de bom gosto e de requinte — um indício seguro do esmero e do cuidado posto na apresentação de um produto, serviço ou espaço.

Sabemos perfeitamente que as marcas se preocupam com a percepção dos consumidores. Sempre que prefiro um bem ou um serviço que não utiliza o AO estou a enviar uma mensagem ao respectivo fabricante ou fornecedor do serviço. Se respondo a um questionário, melhor ainda: apresento uma opinião directa e objectiva sobre este assunto, que as empresas não devem ignorar.

Pergunto-me o que aconteceria se, em vez de sermos só alguns (será que somos?) a fazer comentários nesse sentido, fôssemos milhares ou milhões…

Muitas vezes não são os grandes gestos que causam a mudança. São as pequenas escolhas do dia-a-dia. Vamos a isto?

(Por falar em pequenos gestos que fazem toda a diferença, já tratou deste?)

Nota: as imagens que acompanham este artigo são apenas três exemplos, recolhidos em diferentes cidades portuguesas, de lojas ou espaços de exposição em Português: uma loja de bicicletas em Aveiro, um pronto-a-vestir em Coimbra e um espaço de exposição em Castelo Branco. Naturalmente, são todas do ano em curso.

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