No Brasil é tudo “traduzido” para “brasileiro”. Mesmo um prémio literário atribuído por uma empresa portuguesa e patrocinado (também) pelo Governo português. “Claro que” ninguém no Brasil jamais entenderia o significado de palavras como prémio, crónica ou contacto e daí a “necessidade” de as “traduzir”.
3 comentários
Obviamente, os brasileiros percebem muito bem a ortografia de Portugal e não é necessário traduzir coisa nenhuma para brasileiro… Mas se tal tradução se verifica de forma sistemática, e tanto quanto se sabe é o que acontece, então estamos perante um problema que ultrapassa largamente a questão do AO.
De facto, o que está em causa é reconhecer, de uma vez por todas, que a língua em uso no Brasil já não é o português mas sim o brasileiro, uma língua derivada, muito próxima do português mas, para todos os efeitos, uma língua autónoma, com a sua própria fonética, ortografia e sintaxe.
Todos aqueles que não aceitam o AO deveriam insistir neste aspecto. Ao reconhecer o brasileiro como língua independente do português, a badalada necessidade de um acordo ortográfico para unificar as escritas deixaria de constituir argumento.
A divergência do brasileiro em relação ao português assumiu tais proporções que, naquilo que à língua diz respeito, já não é possível unificar coisa nenhuma entre Portugal e Brasil. Nesta momento, apenas se poderá preservar a identidade entre a língua falada e escrita em Portugal e a língua oficial em uso nas outras antigas colónias portuguesas.
Se o governo português insiste em levar por diante a adopção do AO, além de não ganhar nada no Brasil, perde em todos os outros países de língua oficial portuguesa. Será uma derrota em toda a linha… Uma trágica ironia num país cujas autoridades proclamam a toda a hora, de forma provinciana, que colocaram o país na linha da frente…
Concordo inteiramente consigo. Quantos anos mais o Brasil terá esta língua – o Português – como sua? 20 ou 30 anos? Na mais optimista das hipóteses meio século. Depois será o Brasileiro, “uma língua derivada, muito próxima do português mas, para todos os efeitos, uma língua autónoma, com a sua própria fonética, ortografia e sintaxe”. E daqui a meio século (e mais um ou dois acordos ortográficos), que língua estaremos nós, portugueses, a utilizar? O Brasileiro?
Tudo aponta para isso. Sobretudo se insistirmos nesta ideia suicida de unificação do idioma.
Caro José
Agradeço a sua concordância e aproveito para lhe dizer que a sua conjectura é plenamente justificada. De facto, se insistirmos na adopção do AO, é mais do que certo que daqui a meio século estaremos a utilizar o brasileiro.
Infelizmente, a perda de soberania do país está em curso há muitos anos, nalguns aspectos por efeito de uma nova ordem mundial, mas naquilo em que poderíamos ter controlo absoluto, como é o caso da língua, não havia necessidade…