A violação da mulata

senzala

Apesar de se disfarçar com retórica sedutora e um falso universalismo, Agualusa usa este texto para mais uma vez desancar nos e insultar os portugueses em geral e os detractores do acordo ortográfico em particular. Novamente temos a acusação de que os portugueses rejeitam o AO por nacionalismo/xenofobia (como se não houvesse detractores no Brasil e em Angola e Moçambique, o que ele finge ignorar), em linha com as crítica de que os “portugueses são casmurros” que ouvi a semana passada num evento na FLUL para discutir o AO.

Temos também a recusa dele em discutir o AO como um assunto político que continua a suscitar muitas dúvidas, e o branqueamento de incontáveis pareceres técnicos (inclusive um do Ministério da Educação) que contestaram o acordo; continua a escamotear o facto de o governo apoiar o AO com base num parecer técnico criado por um dos inventores do AO, Malaca Casteleiro (o que põe em causa a sua parcialidade).

É também repugnante vê-lo usar as palavras de Vergílio Ferreira, que lutou contra o AO falhado de 1986. Aliás, Agualusa, com a sua típica falta de honestidade intelectual, omite as palavras do mesmo texto de Ferreira onde ele goza com aqueles que, à semelhança da “pronúncia culta” do AO, pensam que Português é o que se fala em Lisboa e que pode ser regulada por como Lisboa fala. Ferreira nunca toleraria as bases sobre as quais o AO foi construído e que Agualusa apoia implicitamente.

Depois ele demonstra uma habitual falta de lógica e argumentação. Ele começa por defender o AO mas depois salta para uma questão de vocabulário. Vamos esclarecer isto: escrever textos que misturem português europeu com léxico derivado de tupi e quimbundo não tem nada que ver com a aplicação do AO; não há nenhuma causa/efeito. O AO lida com a ortografia. Ele diz com razão que a juventude portuguesa adoptou – de livre vontade, diga-se – léxico africano, o que só mostra que isto não é um fruto do AO. Porque é que está a tentar confundir dois assuntos diferentes?

Quanto à metáfora da mulata: tendo em conta que todas as sondagens mostram que os portugueses rejeitam o AO, que só será aplicado pela força e pelo desdém do governo pela vontade popular, se a Língua Portuguesa é uma mulata, então é uma mulata cujo senhor a vai visitar à senzala todas as noites para a violar impunemente. E o Agualusa , que apoia um acordo à revelia dos falantes portugueses, é o escravo obediente que segura os pulsos dela para que se não debata nem arranhe enquanto o senhor faz tudo o que quiser com ela.

LSR, a 20 de Abril de 2015 às 12:29

link do comentário (no “blog” Horas Extraordinárias)

[Transcrição (parcial) de comentário a “post” no “blog” Horas Extraordinárias. “Links” e destaques nossos. Imagem de “Revista de História” (Brasil).]

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2 comentários

    • María Oliveira on 22 Abril, 2015 at 1:22
    • Responder

    Ena, este texto é um portento! Cinco estrelas! Excelente paralelo este, o da violação: o Chamado “AO90” é um aCto de barbárie.
    Subscrevo também o que é dito sobre o senhor Agualusa, que rejeita arrogantemente ter uma escrita lusófona, afirmando abertamente (e bem, de resto, por ser uma verdade inegável): “eu sou africano, a minha escrita é africana!). Pergunto eu: porque vem, então, receber prémios da lusofonia que parece rejeitar (caso do Prémio Fernando Namora, entre outros) e porque beneficiou, já, de 3, sim 3 bolsas de criação literária de entidades portuguesas?

    • María Oliveira on 22 Abril, 2015 at 4:07
    • Responder

    Corrijo-me: Agualusa beneficiou de DUAS, 2 bolsas de criação literária nacionais. Acumula com duas de 2 outros países… Assim, até eu. Ou qualquer um.

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