«Desacordo» [Rui Moreira, “Correio da Manhã”, 15.03.15]

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Sempre discordei do acordo ortográfico de 1990.
15.03.2015 01:00

Rui Moreira
Presidente da Câmara Municipal do Porto

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Aliás, frequentemente escrevo textos, como estas minhas crónicas, de acordo com a grafia de 1945, ainda que eles sejam depois “corrigidos”. Quando os leio, publicados, fico irritado por ver, por exemplo, que os “actos” foram transformados em “atos” mal atados ao texto.

O acordo é mau, porque distorce a língua portuguesa e introduz confusões desnecessárias. Uma das características mais interessantes do português são as suas tonalidades no vocabulário e na fonética que resultaram em ortografias variadas, ainda assim entendíveis por todos, o que, infelizmente, não sucede com a língua falada, nomeadamente com o português de Portugal no Brasil.

Esta riqueza, que resulta da diáspora e das múltiplas influências, não foi entendida por políticos e fundamentalistas bem pagos que nos impuseram uma ortografia única. Coisa que os ingleses e americanos, por exemplo, nunca quiseram. O “neigbour” (vizinho) inglês não tem, por esse motivo, qualquer dificuldade em ler ou compreender o seu “neighbor” americano.

E não é por essas diferenças que deixa de haver um muito maior intercâmbio no domínio da escrita, do que entre Portugal e Brasil. Em qualquer caso, nenhum brasileiro deixa de comprar um livro editado em Portugal só pelo facto de ser escrito na grafia de 1945.

E como era inevitável, depois de se impor uma impossibilidade por decreto, o objectivo de criar uma ortografia única para todos os países de língua oficial portuguesa resultou num fiasco. Desde logo, porque os angolanos não se deixaram seduzir pelo projecto e os brasileiros continuaram a escrever à sua maneira. Ao contrário, e como é hábito em Portugal, onde abundam as imposições e falta o bom senso, depois de milhões a introduzir um pseudo-acordo que chegaram a apelidar de conquista de Abril, ninguém diz que o rei vai nu. Querem, ao invés, vesti-lo de ridículo, ao penalizarem os alunos do secundário que a ele não se atem. Registe-se, então, e em ata bem atada, que isso é, apenas, mais um degrau neste grande disparate…

Rui Moreira

[Transcrição parcial de artigo, da autoria de Rui Moreira, publicado no “Correio da Manhã” de 15.03.15. O texto original, que foi estropiado automaticamente, como diz o autor, foi por nós revertido, também automaticamente, para a ortografia correcta. Os “links” e destaques são nossos.]

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1 comentário

  1. Concordo plenamente com o texto de Rui Moreira e tenho esperança que se consiga mudar este acordo disparatado.

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