Quarta-feira, 28 de Fevereiro
– Ainda (e sempre) o AO
O senhor professor doutor (de Coimbra, Deus magnânimo e todo poderoso!) Carlos Reis, uma das sumidades enigmáticas que conspiraram o Acordo Ortográfico, protestou veementemente as recentes declarações do secretário de Estado da Cultura, segundo o qual cada cidadão é livre de seguir ou não as regras do dito Acordo, aliás susceptível a “ajustamentos” até 2015.
Assim de repente, o único ajustamento que me perece adequado seria a anulação de tamanha vergonha. Quanto ao livre-arbítrio, não preciso que o Francisco José Viegas, que de resto muito estimo, me conceda autorização para escrever a língua que aprendi e não a mistela apátrida agora implantada.
Naturalmente, o prof. Reis discorda, quer da liberdade, quer dos ajustamentos. O sábio acha absurdo que se profane o português de “forma unilateral e casuística”, excepto, claro, quando semelhante forma está do lado dele e o português em causa é a desgraça que ele ajudou a criar. Conheço poucos processos tão unilaterais quanto o AO, não só porque alguns dos países envolvidos se recusam a aplicá-lo, mas sobretudo porque se trata de uma invenção de emproados com demasiado tempo livre e de uma imposição política e postiça. Quanto à “casuística”, julgo que a palavra ainda designa o tratamento de um assunto através de subtilezas e artifícios, a definição perfeita dos meandros do AO, uma fraude erguida pelos autores a missão das suas vidas. Há vidas tristes, uma tristeza que deveríamos lamentar mas não expiar.
Alberto Gonçalves
[Transcrição parcial de crónica da autoria de Alberto Gonçalves no jornal “Diário de Notícias de 04.03.12.]
Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.
4 comentários
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Como deixei de ler este pasquim passa-me o que boa gente ainda lá escreve. De parte a parte são os prejuízos indirectos do «coiso». Para crédito do umbigo dessa inominável cavalgadura de Coimbra e bestas afins.
Cumpts.
O AO é realmente uma profanação à nossa língua mátria!
É património histórico-cultural do povo português e não, ùnicamente, do governo, que fez tudo à revelia, sem o mínimo de respeito e consideração (não fez referendo e continua a ignorar as assinaturas de milhares de portugueses) para quem era suposto ele governar…
Caro Alberto Gonçalves:
Sabe o que me admira mais? Não é a sua coragem e dignidade imensas em escrever tal artigo em tal “jornal”, razão pela qual tenho todo o prazer em parabenteá-lo, mas, outrossim, o facto de ainda não ter sido despedido por via dele…
Homens assim devem merecer todo o respeito de quem o tenha também por si próprio.
Força e continue, apesar de, nem assim, eu equacionar a simples hipótese de vir a ler essa coisa em que escreve.
Cumpts
desculpem, mas onde se lê “outrossim”, acima, deverá ler-se “ao invés”