«Vasco Graça Moura (que a intelectualidade oficiosa viu com desconfiança ser nomeado presidente do CCB), teve a coerência, a coragem e a dignidade de repor em uso no CCB o português que falamos e escrevemos e não aquele a que o Acordo Ortográfico nos quer à força converter. António José Seguro – a quem jamais se conheceu uma causa que fosse – resolveu fazer deste acto de resistência cívica um desafio à autoridade do Governo e do Estado. Se, porém, se desse ao trabalho de pensar para lá da baba política, Seguro poderia meditar sobre a validade jurídica de um tratado que apenas algumas partes ratificaram e poderia questionar-se sobre as razões que levaram Moçambique e Angola a recusarem o tratado que, supostamente, lhes era destinado, antes de mais. E poderia ainda reflectir sobre o teor do editorial do oficioso “Jornal de Angola”, desta quarta-feira, quando se justifica a recusa da aceitação do AO dizendo que “não queremos destruir essa preciosidade (a língua portuguesa) que herdámos inteira e sem mácula” e que “se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes de mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras. Há coisas na vida que não podem ser submetidas a negócios”. Veja, António José Seguro: são as nossas ex-colónias que recusam abandonar a língua que nós lhe levámos e que agora traímos. Quererá você também dar uma lição aos angolanos, nesta matéria?»
Miguel Sousa Tavares
[Transcrição de artigo da autoria de Miguel Sousa Tavares publicado no semanário “Expresso” de hoje, 11.02.12. Fonte da transcrição: blog “Chove”. O link para o artigo na versão online não está disponível (ou está, mas apenas para assinantes do jornal).]
Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.
5 comentários
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OO acordo orthographico
Não vale a pena “esgrimir contra moinho de vento”, ou seja, armar-se em D. Quixote de la língua. Sempre houve, ao longo dos tempos, novos ajustes e continuará a haver.
Com a agilização vinda pela internet já haverá pouco gente que respeita e jamais respeitará a orthographia vigente. Não me espanta que a verdadeira regra tenda para seguir a fonética. Seja escrever conforme soua (à modo do Minho) ou de Lisboa (soa) e por aí adiante. Aliás tudo isto passa com a lei da vida — os alunos na escolas aprendem de acordo com a nova regra e serão eles que futuramente irão fazer a regra, porque a exceção já está toda a dormir o sono eterno. E quem for ler estes puristas da língua vão-se rir como hoje nos rimos do termo “orthographico” ou da “pharmacia” do século passado.
VCMoura quis, ainda não tinha digerido o lugar de boy, dizer “estou aqui” e sou eu que agora vou mandar no CCB. Um forma muito pouco elegante de começar!… para não dizer outra coisa.
Pronto! Não foi preciso esperar muito. Este é um bom exemplo do “Homem Novo” a que eu me referi numa outra mensagem.
http://ilcao.com/?p=4506&cpage=1#comment-4359
Digam lá se não está muito à frente?
Agora imaginem que, ainda por cima, tudo isto vai acontecer sobre o teclado de um Magalhães!
Admirável “Mundo Novo”! Admirável “Homem Novo”!
Sofisticados, cultos, inteligentes, evoluídos. Eles são a essência e ao mesmo tempo a meta-essência da vanguarda da humanidade. Conseguem ser o vinho e o rótulo da garrafa, ao mesmo tempo.
@Bernardo Pereira Barbosa:
Compreende-se que haja gente em Portugal para quem “a coerência, a coragem e a dignidade” não signifiquem nada! Assim como a própria língua, coisa antiquada, que não foi inventada pela “internet”! Talvez aí venha um futuro sem escrita (coisa antiquada também), em que se comunicará por sons variáveis e sem regras, “agilizados” e perenemente modernizados pela mesma “internet”!…
Ah! E já agora, é favor verificar: o AO de 1990 não altera as regras da sintaxe!
Ao Bernardo Pereira Barbosa
Tem a noção que não existe comparação entre os AOs anteriôres e o AO1990, não tem?
Para começar os anteriôres seguiram um curso mais ou menos naturais, nunca ignorando que cada variante do português evoluiu de acordo com a maneira de falar de cada país. O exemplo que deu de “phamacia” e “orthographico” é um exemplo de como a língua simplificou num bom sentido – ¿Qual seria o sentido de escrever ph para simbolizar o som /f/? Este acordo foi um passo útil para a evolução da língua. Quer dizer, porque raios vamos escrever ph nas palavras de origem grega? A letra Fi lê-se F, logo “ph” é uma simples estupidez. Todos os outros AOs foram pura destruição lingüística. Com este AO destruiu-se o pouco de bom que se podia aproveitar do PtBr para o PtStandard: O trema. Este AO só prova que quem manda nas alterações é uma pessoa que não sabe as bases do Português.
Bem-haja a todos!
A data do último comentário deixou-me sérias reservas na hora de comentar mas seguindo em frente…
Após a leitura do artigo e dos comentários que surgiram na sequência do mesmo apenas gostaria de comunicar que estou de acordo com todos, inclusive com o comentário do senhor Bernardo Pereira Barbosa.
Caro senhor Osvaldo Carretas, concordo com o seu comentário mas aconselho-o a mudar a sua grafia. A utilização do sinal ortográfico ¿ remete-me para a língua de “nuestros hermanos”. Tenha atenção à palavra ANTERIOR, em vez de “anteriôr”-“anteriôres” como escreveu.