AO90: “desmascarada a vergonha” [por Sidney Silveira]

clipVistaPrintCom a devida vénia ao autor, Sidney Silveira, o que se segue é a transcrição integral (respeitando a ortografia e o aspecto gráfico do original) de um texto publicado no “blog” Contra Impugnantes em 21 de Abril de 2014.

Aguardamos ansiosamente novo artigo deste mesmo autor, com a entrevista agora prometida, de que aqui daremos notícia assim que possível.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: desmascarada a vergonha

Sidney Silveira

Nesta segunda-feira (21/04) gravei uma breve entrevista com o filólogo Sergio De Carvalho Pachá, que, em 2009, era Lexicógrafo-Chefe da Academia Brasileira de Letras (ABL) e conheceu os bastidores da reforma ortográfica mais absurda de que se tem notícia entre nós.

Pachá foi defenestrado da ABL por ter uma opinião privada (de caráter absolutamente técnico!) contrária ao acordo. Ele viu o gramático Evanildo Bechara transformar-se, num passe de mágica, de grande crítico da reforma em seu principal garoto-propaganda — para depois, com aparente sã consciência, editar um pequeno manual da nova ortografia, trazendo para as próprias algibeiras certamente mais do que as trinta moedas com que Judas vendeu Cristo.

O ridículo argumento da “união política entre os países lusófonos”, como sabíamos previamente, não se cumpriu. Quem ganhou com a coisa no Brasil foram as editoras apaniguadas da “corte”, que recebem milhões do governo para imprimir livros paradidáticos.

Trata-se de um depoimento histórico, dado por pessoa abalizada tanto pelo apuro do seu conhecimento lingüístico como pelos cabelos brancos e os alquebrados olhos, que a terra há de comer. Olhos de quem, como Gonçalves Dias no “I-Juca Pirama”, pode muito bem dizer:

— Meninos, eu vi.

Reitero: entrevista concedida por uma autoridade em língua portuguesa que exercia papel importante na ABL quando da concepção do acordo ortográfico. Iniciativa esta chamada por Pachá de “fraude”, sem meias palavras.

O material será apresentado ao público em breve.

O mesmo vídeo traz um tira-gosto das questões vernáculas de que o Prof. Sergio Pachá tratará no curso “A Língua Absolvida”, do Instituto Angelicum, imperdível para todos os que precisamos usar bem da língua, ou seja, expressar conteúdos inteligíveis aproveitando as magníficas possibilidades do idioma de Camões.

Aguardem!

Enquanto isso, não percam esta oportunidade única: façam as suas inscrições na Escola Virtual do Instituto Angelicum, no seguinte link:

http://institutoangelicum.edools.com/curso/a-lingua-absolvida–3

A língua portuguesa agradece pelo serviço que quixotescamente lhe prestamos, com o curso do Prof. Sergio Pachá.

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6 comentários

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  1. Fiquei com vontade de ter um curso com o mesmo estilo e sobriedade mas relativo ao portugues de Portugal.

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 25 Abril, 2014 at 17:17
    • Responder

    Assunção Esteves, a Presidente da Assembleia da República, disse hoje nas comemorações do 25 de Abril que “O activismo cívico que interage com as instituições é hoje essencial ao exercício da política”.

    Esperemos que junte o gesto à palavra e faça alguma coisa que se veja quando receber as petições e as iniciativas legislativas contra o abordo ortográfico…

    1. Caro Sr. Jorge Pacheco de Oliveira,

      De novo, há que distinguir devidamente as coisas. A confusão entre “petição” e ILC já teve efeitos suficientemente devastadores nos espíritos menos avisados. Até naquilo que refere (ou principalmente naquilo que refere) as diferenças entre uma coisa e outra são abissais: qualquer vulgaríssima petição é automaticamente admitida em discussão no plenário caso ultrapasse as 4.000 “assinaturas” (electrónicas, logo, valendo o que valem, ou seja, na minha modesta opinião, pouco), enquanto que uma ILC (e notará que esta é a única para o efeito, sem plural) terá de passar – com 35.001 assinaturas reais, em papel – por diversos crivos, incluindo o mais importante e decisivo de todos, o político.

      Em suma: não tem absolutamente nada a ver uma coisa com a outra.

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 26 Abril, 2014 at 6:58
    • Responder

    Eu sei qual é a diferença e não pretendi aumentar confusão nenhuma. Julgo mesmo que a maioria dos leitores desta página já estará devidamente informada, mas enfim, se não estiver, certamente agradecerá a oportunidade de explicação, de novo, a que dei lugar.

    Atenção ao 35.0001… Claro que o zero a mais é lapso, mas em todo o caso o ponto está a mais. De acordo com a Norma Portuguesa de escrita dos números, não se usam pontos a separar os conjuntos de três algarimos.

    1. Bom, precisamente, e por isso lhe agradeço a observação, nunca é demais reiterar essas diferenças. Também agradeço ter notado a gralha, que já corrigi. Quanto à questão da escrita dos números, pois bem, existe de facto uma adopção portuguesa de uma resolução do BIPM de 2003 (cf. http://www.bipm.org/fr/CGPM/db/22/10/) mas não se trata de uma norma ortográfica propriamente dita. Perdoe-se-me essa pequena “rebeldia”, da qual não faço aliás grande questão.

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 27 Abril, 2014 at 9:27
    • Responder

    De facto, a escrita dos números não faz parte das normas ortográficas, mas os números aparecem no meio de vários textos e convem que não sejam escritos à vontade de cada um.

    Quando existem neste mundo duas convenções bem distintas para identificar a separação decimal – o ponto nos países anglo-saxónicos e a vírgula na Europa continental, digamos assim – convem que na escrita dos grandes números não se use nem um símbolo nem outro para separar os conjuntos de três algarismos e daí a convenção de deixar apenas um espaço.

    Mas isto vem à baila apenas para recordar que no Brasil as diferenças ortográficas e sintácticas com que os brasileiros decidiram afastar-se do português de Portugal vão ainda mais longe. No Brasil a designação dos grandes números segue a norma anglo-saxónica e não a norma da Europa continental que Portugal adoptou.

    Por exemplo, enquanto nós dizemos e escrevemos “mil milhões” os americanos dizem billion e os brasileiros seguem os americanos, mas com um exotismo à moda deles, o bilhão.

    Vale a pena um acordo ortográfico entre Portugal e Brasil quando as diferenças são tantas e algumas inconciliáveis ?

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