O Museu da Língua Portuguesa do Brasil

Museu da Língua PortuguesaDe passagem por São Paulo, não podíamos deixar de passar pelo famoso Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz. É realmente um passeio que vale a pena, quer pelas exposições temporárias, quer pelo espectáculo multimédia e pelo cronograma que nos mostra a viagem da Língua.

No campo do multimédia destacamos o écran com 106 metros de comprimento, um autêntico fresco da sociedade e da cultura brasileira que nos leva em passeio pela gastronomia, pela natureza, pelas praias, pelo futebol, pelo carnaval… e nos mostra de que forma essas áreas influenciam a Língua.IMG_3931 Também vale a pena ver um filme sobre a Língua num auditório vocacionado para esse fim. No final do filme o écran levanta-se e dá acesso a uma nova sala onde somos cercados por palavras que voam pelas quatro paredes, evocando as frases mais marcantes da literatura em Português, tal como foram escritas por Fernando Pessoa, Camões, Herberto Helder, Machado de Assis, e muitos outros autores dos vários países de expressão oficial portuguesa.

A parte problemática começa quando finalmente chegamos à exposição permanente: ao longo de uma enorme parede, uma série de painéis conta-nos a História… do Português do Brasil. Toda esta zona do Museu se mobiliza no intuito de explicar como chegámos até “aqui” — sendo este “aqui” o Português do Brasil.
Português do Brasil
Em pequenas estações inter-activas podemos ver de que forma línguas como o tupi, o francês, o espanhol e outras influenciaram o Português… do Brasil. Ou como a escravatura trouxe também a influência de Línguas africanas.

IMG_3937As diferenças entre Português do Brasil, Português Europeu e Português Africano poderia ser uma das áreas mais apaixonante do Museu. Como se sabe, a “viagem da Língua” produziu termos que são arcaísmos nuns países e de uso comum noutros. Aprender um “Português” que não o nosso, é saber mais sobre o “outro”, mas também sobre nós próprios. Infelizmente, esta área é reduzida a um mero painel de 50cm x 50cm onde se exibe uma tabela com meia dúzia de “curiosidades”: em Portugal diz-se assim, no Brasil diz-se assado. Ainda por cima, apesar do espaço reduzido, as “pérolas” abundam: no Brasil diz-se “café”, em Portugal diz-se “bica”… no Brasil diz-se “perder a paciência”, em Portugal diz-se “passar dos carretos”. Uma clara confusão entre o plano formal e a conversa de rua que pode levar o brasileiro mais desprevenido a pensar que mais vale falar inglês numa futura visita a Portugal.

Pelo meio, não podia faltar a inevitável vénia à tese de Marcos Bagno: não existe uma norma “errada”; só “fala errado” alguém que não consegue fazer-se entender no seu meio. Não explica, como sempre, porque é que se há-de entender como “meio” o bairro onde o indivíduo nasceu e não o seu país ou a comunidade dos países que falam a mesma língua. Como fará o dito indivíduo para se transcender e fazer-se entender fora desse meio é algo que também fica por explicar.

Enfim… fica a memória de um Museu que vale a pena visitar mas que, mais do que um Museu da Língua Portuguesa, é, realmente, um Museu do Português do Brasil.

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1 comentário

    • Jorge Teixeira on 17 Abril, 2015 at 19:26
    • Responder

    Em Portugal é obrigatório todos os cronistas tecerem loas ao Museu da Língua Portuguesa como se fosse a oitava Maravilha do Mundo. E no fundo não passa de uma mostra tipo Expo-98 dos clichés brasileiros sobre a língua da pátria brasileira. Somos um país de ridículos.

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