Defendendo o estupro da Língua Portuguesa
O omem disse que oje vai xover.
É assim que passaremos a escrever se forem aprovadas as mudanças sugeridas para uma nova reforma ortográfica da língua portuguesa, em debate no Senado da República desde o ano passado.
A proposta de mudança feita pelo professor Ernani Pimentel, dono de uma rede de cursos preparatórios, inclui também outras mudanças.
Por exemplo, palavras grafadas com “Ç”, “SS” e XC passariam a ser escritas com um “S”. A simplificação do idioma inclui a extinção do H no início das palavras, bem como do CH, que seria substituído por X.
Na noite de sábado, 14, eu assisti a um debate de Ernani Pimentel com outros protagonistas, na TV por assinatura, ratificando sua proposta, hoje apoiada por alguns congressistas.
Como está dito acima, Pimentel é dono de uma rede de cursinhos pré-vestibular.
Claro, o interesse dele é “reensinar” a língua portuguesa, dentro das novas regras, ampliando suas bancas de faturamento.
Muitos professores de português de todo o país têm se manifestado contra.
Alguns acham uma besteira sem tamanho o argumento de Pimentel de que a simplificação facilitaria o aprendizado.
A dificuldade de alfabetizar não diz respeito à grafia das palavras, mas sim ao método de ensino do professor.
O assessor do Museu da Língua Portuguesa e professor da USP, Ataliba de Castilho, no debate da televisão de sábado, disse que “é preciso o professor ajudar o estudante a compreender as diferenças entre língua falada e escrita. Mudar as letras não muda esse processo.”
O professor Ernani Pimentel faz parte do grupo de trabalho técnico do Senado criado no ano passado para revisar o acordo ortográfico de 2009.
São ridículas, patéticas e merecem todo o desprezo da comunidade de linguistas do Brasil, essas tentativas de estupro de nossa Língua. .
O argumento de que as novas mudanças facilitariam o aprendizado não é válido.
Aprender a escrever em chinês é muito mais complicado do que aprender a escrever em português, e 94% dos chineses são alfabetizados.
A questão é alfabetizar e letrar a população. A ortografia pode ser qualquer uma.
Essas mudanças lembram a história do cara que pede a secretária para redigir uma convocação de todos os empregados para uma reunião na sexta feira. A moça para de escrever e levanta sua dúvida :
– Chefe, sexta é com s ou com x?
E o chefe: – Transfere pra quinta.
E tudo disso diante do novo Acordo Ortográfico, assinado em 2008, e que entrará em vigor em 2016.
Até lá, vão tentar fazer mais mudanças na “última flor do Lácio, inculta e bela”, como diria Olavo Bilac.
[Transcrição integral (mantendo, obviamente, a ortografia brasileira do original) de “post”, da autoria de Hiroshi Bogéa, publicado no “site” Hiroshi Bogéa On line em 16.03.15. Alguns “links” foram adicionados por nós. A imagem foi descarregada do mesmo “site”.]