«Sou mais do que eu…»

Sou professora de Português e sinto-me duplamente ultrajada. Como especialista e como cidadã de duas Pátrias (nasci no Brasil e tenho dupla nacionalidade) estou indignada com este fenómeno de ausência de interculturalidade, num mundo que se diz e pretende global. A interculturalidade começa pelo respeito mútuo que começa pela identidade linguística na sua diversidade tão digna como o ser humano falante da língua. Este (des) acordo não só não contribui para o enriquecimento entre os povos, como também não uniformiza a língua como pretende, antes a altera na sua essência. “A minha Pátria é a língua portuguesa” (Pessoa/Bernardo Soares) é a frase-ideia paradigma que nos deve nortear para enfrentar mais um “Adamastor” que nos quer submergir em águas turvas e comprometer o futuro como País soberano de livres pensadores-navegadores. Ser contra não é ser “Velho do Restelo” no sentido possível que essa figura representa de oposição à mudança, mas antes representa um sinal de alerta contra (im)posições que não revelam nada de novo, pois constituem uma cedência a interesses sem explicação científica que os vindouros possam considerar relevante. Ser contra é um acto de cidadania, de cultura e de patriotismo. Contem com o meu repúdio, “pois aqui ao leme/Sou mais do que eu…” (F. Pessoa -Mensagem).
Maria do Carmo Albernaz

Reprodução integral de comentário neste mesmo site.

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