A decisão da Presidente do Brasil Dilma Roussef de adiar a entrada em vigor do Acordo Ortográfico para 1 de Janeiro de 2016 deu mais uma razão a todos os que se opõem a este Acordo.
Na verdade, trata-se de uma decisão que nada tem de original. É o mesmo procedimento seguido pelo Brasil em 1945, na sequência de um Acordo Ortográfico negociado, aprovado e assinado pelos dois países. Na altura, o Brasil adiou sucessivamente a sua aplicação, até o renegar 10 anos depois, considerando-o inaceitável. Segundo as notícias do outro lado do Atlântico, tudo indica que a história se vai repetir.
Encontramo-nos assim numa situação bizarra e absolutamente paradoxal. Um Acordo que supostamente serviria para unificar a grafia em todo o espaço lusófono conduzirá, ao que tudo indica, a um cenário com três ortografias distintas: o Brasil manterá a norma brasileira; Angola seguirá a grafia anterior ao Acordo; e, se nada for feito, Portugal persistirá no pobre “Acordês”, cheio de facultatividades e inconsistências, em que se suprimem algumas consoantes (aspecto/aspeto, recepção/receção) e outras não (facto, contacto), ao arrepio de qualquer critério lógico.
Está visto que este Acordo Ortográfico foi uma aventura desastrosa, para a qual só há uma solução à vista: a sua suspensão imediata.
João Fabião
Porta-voz do Desacordo Técnico[Transcrição integral de texto da autoria de João Fabião no “Ponto Crítico” (publicação da AEIST) n.º 13, de Fevereiro de 2013.]
Fev 20 2013
«Uma aventura desastrosa» [João Fabião, “Ponto Crítico”, Fev. 2013]
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1 comentário
Primeiramente parabenizo-os pla iniciativa legislativa.
Mas não pensem que as letras engolidas não estão incomodando aqui no Brasil também.
Do lado de cá do Atlântico nunca se grafou “aspeto” ou “receção”, por exemplo. Essas palavras são completamente estranhas por aqui.
Estou tendo dificuldades em provas de concursos públicos com esse inferno ortográfico.