«O que quer, o que pode esta língua?» [editorial do “Público” de 13.06.14]

publicoA pergunta, formulada por Caetano Veloso numa canção, continua sem resposta clara, embora por aí se avancem sonhos de conquistas utópicas a vários pretextos. Estamos, de novo, a ouvir falar da língua portuguesa e só nesta edição do PÚBLICO se dão conta de três iniciativas que nela se alicerçam: uma exposição sobre Eça de Queiroz no Museu da Língua de São Paulo, no fim deste ano ou no próximo; um colóquio sobre o património de origem portuguesa no mundo onde a língua, naturalmente, se entrosa; e um manifesto para que sejam festejados, a partir de 27 de Junho e durante um ano, oito séculos do mais antigo documento oficial em língua portuguesa, o testamento de Dom Afonso II. São portas abertas que só levarão a algum lado se a diversidade (sintáctica, vocabular, ortográfica) levar a melhor sobre a “unicidade” forçada. Porque a língua portuguesa é uma e são várias. É esta a sua incomensurável riqueza. Ignorem-na e perdê-la-ão.

[Transcrição (parcial) de editorial do jornal “Público” de 13.06.14]. “Links” inseridos por nós.]


“Língua”, letra e música de Caetano Veloso

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3 comentários

    • Maria José Abranches on 14 Junho, 2014 at 20:03
    • Responder

    Do texto que introduz esta entrevista a António Sartini:

    «Sartini acredita que a língua portuguesa está a tornar-se cada vez mais apetecível. Não só porque o número de falantes está a aumentar – nos próximos dez anos, seremos 300 milhões no mundo –, mas também por razões económicas. Há, por exemplo, o facto de reservas petrolíferas terem sido identificadas em territórios lusófonos. “A cada ano, o Brasil tem de exportar professores para a China, porque há um interesse do Governo chinês em que se fale cada vez mais português”, explica o director do Museu de Língua Portuguesa.»

    E, mais adiante, o próprio diz também:
    «Acho portanto muito justo que esta língua se torne oficial nos organismos internacionais. É lógico que esse processo sempre gera descontentamentos [devido ao Acordo Ortográfico]. Mas para que ela seja oficial é preciso que seja coesa, pelo menos na sua forma culta, normativa. Ela não se tornou oficial até hoje porque há uma forma de escrever no Brasil, outra em Portugal… »

    Até quando teremos de continuar a ouvir estas balelas? O que é que a pseudo-unificação da ortografia tem que ver com a possibilidade de o português ser língua oficial nos organismos internacionais? E qual a “norma” que aí seria adoptada, já que neste “pormenor” não há volta a dar: o português de Portugal não é “unificável” com o português do Brasil?!…

    Lembram-se da história da “Galinha dos ovos de ouro”?

    «Porque a língua portuguesa é uma e são várias. É esta a sua incomensurável riqueza. Ignorem-na e perdê-la-ão.» Faço minhas estas palavras do editorial do “Público”, jornal a que, mais uma vez, quero publicamente prestar homenagem pela firmeza com que tem defendido a língua de Portugal.

  1. “Recetáculo?”

    Este A.O.90 recorda-me um A.O. dos tempos da ditadura.
    Quando já ninguém o queria, ele persistia.

    • Jorge Teixeira on 20 Junho, 2014 at 10:58
    • Responder

    Esta história do português ser “língua oficial” de organismos é uma cantiga “para boi dormir”. Nenhuma instituição vai promover o português a “língua oficial” quando as que existem já bastam. Podem promover a “língua de trabalho”, mas nesse caso terão de ser os países interessados nisso — ou seja, apenas os que falam português — a pagar o que custa toda a estrutura de suporte, tradutores, etc. Nenhum país que fala português vai querer pagar o gigantismo de uma estrutura que só lhes aproveita a eles próprios. É como pensar em promover o Dinamarquês ou o Holandês a língua oficial.

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