Operação Pelourinho – 4

A Operação Pelourinho continua em marcha. O facto de estarem praticamente garantidas as 20.001  assinaturas obrigatórias não deve ser motivo para que o nosso ritmo abrande ou o nosso empenho diminua. Pelo contrário, o cumprimento deste objectivo deve ser visto como um incentivo para que a nossa voz se faça ouvir — e a nossa voz deve ser forte!

É fundamental que a entrega desta ILC no Parlamento possa representar muito mais do que o simples cumprimento de uma série de formalidades previstas na lei. A existência desta Iniciativa é um símbolo do nosso protesto contra uma Ortografia artificial e incoerente, que mina a elegância e a harmonia do Português Europeu e, pior ainda, renegando o próprio conceito de ortografia na sua definição elementar (escrita correcta), ter vindo dinamitar todas as estruturas de sólida coerência que sustentam o Português escrito.

As recolhas de subscrições devem continuar até à entrega da ILC e mesmo até ao dia da sua votação no plenário. Esta não pode ser uma ILC de “serviços mínimos”; tem de fazer jus à sua pretensão de representar, como representa de facto, a opinião da maioria dos portugueses, representando as subscrições recolhidas — dada a exiguidade de recursos disponíveis — apenas uma pequena fracção daquela imensa maioria.

A Operação Pelourinho tem demonstrado que os cidadãos continuam a não aceitar o disparate ortográfico. Onde quer que se montem as nossas bancas as pessoas acorrem, sem ser preciso convidá-las.

Neste quarto episódio da Operação Pelourinho damos nota de dois regressos: o regresso a Setúbal e o regresso a Lisboa. Em Setúbal, animados pelo êxito da primeira incursão (64 assinaturas em menos de três horas), repetimos exactamente a mesma receita. No dia 30 de Dezembro voltámos à capital setubalense e recolhemos mais 65 subscrições, num espaço de tempo ainda mais curto.

Em Lisboa, já este ano, no dia 5 de Janeiro, mudámo-nos para o Rossio, a duas ruas de distância do Largo do Município. Em boa hora o fizemos, pois esta foi a melhor acção de rua até agora: 181 assinaturas em pouco mais de quatro horas. Para que se tenha uma ideia, isto significa que houve pessoas a assinar a ILC quase ao ritmo de uma por minuto. Como uma subscrição leva, no mínimo, trinta a quarenta segundos, é fácil concluir que quase não parámos ao longo dessas quatro horas. Na verdade, em muitos momentos chegou a formar-se uma fila de subscritores que aguardavam pacientemente a sua vez de assinar. Como é bonito o exercício da cidadania!

Não posso deixar de agradecer, desde logo, ao Henrique e à Hermínia (banca de Setúbal) e à Maria José Abranches e à Maria do Carmo Vieira (banca de Lisboa). Mas, acima de tudo, gostaria de sublinhar a adesão das pessoas — e, em especial, a de um rapaz de 16 anos que tentou assinar a ILC; (ainda) não pode fazê-lo, nos termos da lei, por ser menor de idade, mas a atitude do jovem vale pelo simbolismo, por aquilo que  representa.

Em resumo, a Operação Pelourinho funciona. E já é mais do que uma simples campanha de recolha de assinaturas. Já não se trata apenas de um meio para conseguirmos as poucas assinaturas que faltam para as 20.001. É, acima de tudo, uma forma de a sociedade civil, enquanto entidade concreta capaz de eleger e derrubar maiorias, fazer e desfazer alianças partidárias, constituir governos e destituir governantes,  mostrar que repudia  um “acordo ortográfico” que ninguém pediu, que não serve para nada e que veio resolver um problema que nunca existiu substituindo a ausência de problemas pela invenção de dezenas, centenas, milhares de verdadeiros problemas.

Uma ILC com 20.000 assinaturas é tão legítima como outra com 25.000, 30.000, 35.000 ou mais ainda. Mas, sendo o Acordo Ortográfico, como sempre foi, uma questão política, o número de assinaturas é um argumento de peso. A Operação Pelourinho mostra que estes números são possíveis — mesmo sem quaisquer meios, apoios institucionais, patrocínios públicos ou privados, organização ou hierarquia interna, sedes ou instalações, equipamentos ou logística, pessoal ou estrutura ou infraestrutura ou… uma simples secretária.

Apenas podemos contar, desde o início, com a disponibilidade de alguns voluntários corajosos, gente que apesar de tudo não desiste,  movida por uma determinação indomável na defesa de um património intangível que é de todos.

A oposição ao Acordo existe. Os subscritores existem. Basta-nos ir ao seu encontro. Ou então, mais fácil ainda, podemos simplesmente estar onde eles possam vir ter connosco e descobrir — alguns com espanto, outros com simples curiosidade — que existe, que persiste, que resiste a oposição ao “acordo ortográfico”. E então subscrevem a iniciativa cívica da qual sempre fizeram parte mas que muitos nem sabiam que existia. E por isso assinam, de imediato, com a maior das naturalidades.

Organizar uma Operação Pelourinho na sua cidade não é difícil. Contacte-nos e saiba como proceder. A Língua Portuguesa agradece.

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2 comentários

    • Nuno Lourido on 15 Janeiro, 2019 at 9:45
    • Responder

    Continuo sem perceber a insistência “…a harmonia do Português Europeu …” pensava eu que o Português enquanto língua teve origem em Portugal, que continua a existir, e se espalhou pelo mundo até pela Europa.
    A insistência no “Europeu” é descabida e talvez involuntariamente, aqui dou o benefício da dúvida, completa a acção dos “acordistas”.
    É pena que adjectivando (que mal que me soa e cheira) aparentemente se pretenda resolver complexos de menoridade …
    Pelo Português de Portugal
    Melhores cumprimentos
    Nuno Lourido

    1. Nuno Lourido, boa tarde. Tanto quanto julgo saber, “Português Europeu” e “Português de Portugal” são duas expressões que significam exactamente a mesma coisa, ou seja, “Português de Portugal” — é pelo menos nesta acepção que utilizo qualquer uma das duas. A minha preferência pela primeira é meramente cosmética, visto que a segunda me parece algo cacofónica. Longe de mim dar cobertura a qualquer pretensão acordista.
      Atenciosamente,
      Rui Valente

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