A ILC-AO e o ilcao.com

chapeu1Permitam-me que recorde aqui a “Petição/Manifesto Em Defesa da Língua Portuguesa“, que subscrevi — eu e mais de cem mil outras pessoas. Esta Petição, que tinha Vasco Graça Moura como primeiro subscritor, foi debatida pela Assembleia da República em Maio de 2009. E, para grande espanto de todos nós, os deputados não acharam pertinente dar-lhe qualquer seguimento.

Hoje, à distância, percebo que a Petição tinha de entrar na AR quando entrou, mas era talvez cedo demais para que pudesse dar resultados. A RAR 35/2008 tinha acabado de ser aprovada, a maior parte dos deputados não sentia ainda o Acordo Ortográfico como um erro gigantesco. Teria incongruências, talvez, facultatividades a mais, pois sim, mas não seria certamente um erro total. Ou seria?

Byrne_metromondegoMal sonhavam os deputados a dimensão esmagadora do caos que, passados sete anos, iriam encontrar na Língua Portuguesa, a começar pelo próprio Diário da República. A fotografia que tirei para ilustrar este post é bem o exemplo desse caos. Pobre urbanismo, pobre arquitecto Gonçalo Byrne, pobre Língua Portuguesa. Estas coisas andam geralmente associadas.

Claro que o caos não é tudo. Os deputados também não acreditariam se lhes dissessem que iriam chegar a 2016 sem que Angola e Moçambique tivessem ainda ratificado o Acordo.  E, obviamente, não lhes parecia ainda absurda a ideia de “encerrar um debate que dura desde 1911” e “dispor de uma ortografia unificada para oito países, quatro continentes, mais de 200 milhões de falantes” — cito a intervenção de um deputado do PS nesse debate de 2009.

Claro que os subscritores já anteviam tudo isto — e, logicamente, o arquivamento liminar da Petição foi, para todos nós, um choque.

ILC pela revogação da RAR35/2008 — esta ILC — surge em 2010, no rescaldo desse malfadado arquivamento. Se os deputados não legislam, legislamos nós.

Infelizmente, o fim da Petição foi nefasto para a luta contra o Acordo. Fosse por desencanto, fosse por simples inércia, 2009 e os anos seguintes foram anos de travessia do deserto.

É certo que os protestos contra o Acordo nunca deixaram de se ouvir. Disso são testemunha as centenas de artigos de opinião que continuaram e continuam a ler-se nos diversos órgãos de comunicação social. Mas, enquanto iniciativa de fundo, capaz de forçar o debate na casa onde tudo começou, nada mais havia além desta ILC.

Isso reflectiu-se, como não podia deixar de ser, no próprio site da Iniciativa. O cedilha.net/ilcao era o site oficial da ILC mas era também… tudo o resto. Todas as notícias, todas as entrevistas, todos os artigos de opinião, traduções de textos, estudos científicos, transcrição de gravações, legendagens de vídeos, em suma, tudo o que era luta contra o AO passou por ali — e, não poucas vezes, foi mesmo produzido ali.

Serve portanto esta introdução para explicar o óbvio: apesar de ter herdado o seu histórico, pesquisável, com todo o manancial de informação aí contido, o ilcao.com não é o cedilha.net/ilcao.

Desde logo, reproduzir aqui o que se fazia no “cedilha” está acima das minhas capacidades. O site “antigo” foi gerido por João Pedro Graça, senhor de uma capacidade de trabalho inesgotável e capaz de a dedicar, quase em exclusividade, a esta Causa. Uma dedicação que continua, agora no Apartado 53 — um blog contra o AO e outros detritos. Quem quiser acompanhar as últimas notícias sobre o Acordo Ortográfico pode fazê-lo ali.

Mas, por outro lado, transportar para aqui a sede da luta já não faz sentido. Hoje em dia, felizmente para mim, este novo sítio da Iniciativa pode dar-se ao supino luxo de ser apenas… o sítio da ILC-AO.

E é da ILC que falamos.

Em primeiro lugar, queria agradecer publicamente às muitas pessoas que me enviaram mensagens de encorajamento e se disponibilizaram para trabalhar. Agradeço em especial à Hermínia, ao Luís, à Isabel e à Graça a disponibilidade para transpor milhares de dados para folhas Excel. Neste capítulo, peço desculpa a pessoas cuja disponibilidade não pude aceitar. Por questões logísticas e de segurança tive de limitar o processamento de dados às áreas geográficas que frequento com mais assiduidade — Coimbra e Lisboa. Agradeço também ao Jorge a disponibilidade para acompanhar a criação do espaço que, neste site, irá permitir a recolha de subscrições. Esta semana que passou foi dedicada quase em exclusivo a essa frente de trabalho. Quem vê um simples formulário numa página web não imagina a complexidade que esse formulário implica. Estamos a falar de uma configuração elaborada, com mensagens de erro para tudo o que possa correr mal, e da ligação dos dados introduzidos a uma base-de-dados; a qual terá de ser compatível com os dados que irão ser recolhidos do papel, sendo que ambos deverão poder ser pesquisados em tempo real pela própria aplicação para evitar, por exemplo, que um número de B.I. já anteriormente utilizado numa subscrição possa ser usado novamente.

Estamos a fazer testes com duas aplicações diferentes, uma com validação da subscrição por resposta individual a email e outra incluindo a validação um link de confirmação. Obrigado, também, a todas as pessoas que estão a fazer testes — algumas mesmo fora do país.

É importante salientar que, enquanto esta aplicação não estiver disponível, a recolha de assinaturas pelo método tradicional continua a ser — e será sempre — válido.

No domingo passado indiquei o link para o impresso de subscrição individual, hoje fica aqui a notícia de que já existe também um novo impresso para recolha múltipla (espaços para 15 subscrições em cada impresso). Esta folha destina-se a voluntários que queiram recolher mais do que a sua própria assinatura; toda a ajuda é preciosa neste capítulo. Para o efeito, e por questões de segurança — sempre a segurança, a segurança acima de tudo –, deverá ser-nos pedido por email.

E é tudo, por agora. Para o próximo domingo espero trazer-vos mais boas notícias. Para já, talvez possa parecer pouco aos olhos de quem, como nós, tem pressa em ver este “acordo”  revogado de uma vez por todas. Não é fácil esperar, agora que se vislumbra um caminho possível, uma saída airosa para este pesadelo que é o AO90. É que, na actual conjuntura, quando esta ILC chegar ao parlamento, os deputados irão certamente vê-la com outros olhos.

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2 comentários

  1. «Uma dedicação que continua, agora no Apartado 53 — um blog contra o AO e outros detritos. Quem quiser acompanhar as últimas notícias sobre o Acordo Ortográfico pode fazê-lo ali.»

    Bem, obrigado pela publicidade mas existem evidentemente muitas diferenças, em vários níveis, entre um “blog” pessoal e um outro institucional e/ou de serviço público; a começar pela total liberdade de criação e (em especial) de expressão e opinião, que no primeiro caso é total e no segundo está um pouco limitada pelo facto de haver um colectivo envolvido e objectivos comuns em causa.

    Por isto mesmo deixei claro na página de apresentação do meu “blog” que… «“Apartado 53″ é um blog pessoal. Tudo o que aqui escrevo é de minha exclusiva responsabilidade e tudo o que aqui reproduzo é da responsabilidade dos respectivos autores, que são, sempre que possível, citados com indicação das fontes.»

    Saúde!

    1. Há evidentemente essa diferença mas o certo é que, sendo um Blog pessoal, o Ap.53 continua a prestar um verdadeiro serviço público. Graças ao acompanhamento diário de tudo o que acontece no mundo da Língua Portuguesa, é frequente encontrarmos ali o artigo, a notícia ou filme em que mais ninguém reparou. Se mais não houvesse, só isto já seria suficiente para tornar obrigatória a sua consulta diária..

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