«Língua Materna: A nossa, está em perigo!» [Helena Mendes, “Notícias de Coimbra”, 21.02.15]

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Dia Internacional da Língua Materna: A nossa, está em perigo!

No dia 21 de Fevereiro comemora-se o Dia Internacional da Língua Materna, instituído pela UNESCO em 17 de Novembro de 1999, com o propósito de promover a diversidade linguística e cultural e o plurilinguismo, sublinhando que “as línguas maternas constituem o primeiro veículo de identidade individual ou de um grupo, como fundação de toda a vida social, económica e cultural”, enfim, reconhecendo-as como o factor primeiro e fundamental de agregação de um povo.

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Hoje, 21 de Fevereiro, é um dia triste para os Portugueses, cuja língua materna tem vindo a ser transformada numa mixórdia político-ortográfica que ninguém, verdadeiramente, domina, escreve, ou entende, claramente desagregadora da nossa identidade e das nossas origens como povo. Ignorar a etimologia das palavras é ignorar as origens do povo que as fala e que as escreve, é um contributo sinistro para a desconstrução dos sentidos de comunidade, de povo e de Nação.

Não considero que uma língua deva permanecer imutável. Pelo contrário, ela acompanha a evolução dos povos que a têm como sua, cada um com as suas especificidades e com as suas tradições, na observação escrupulosa das respectivas origens. O que não é aceitável, em nenhuma circunstância, é que uma língua seja alterada por decreto, por deliberação política, à revelia do povo que a tem como património, com insondáveis fundamentos de natureza económica, política, ou, quiçá, de sobrevivência na função de uns quantos empreendedores da pseudo-ciência alojados em Institutos Públicos inúteis. Luísa Dacosta chama-lhes “especuladores ortográficos”.

Nas escolas reina o caos ortográfico. Porém, nos exames, os alunos são penalizados se usarem mal a “cacagrafia”, ou seja, a grafia imposta pelo “acordo tortográfico” de 90, aquele que, segundo Miguel Esteves Cardoso, consiste em escrever tudo torto. Não é possível explicar a um aluno que cor-de-rosa  difere de cor de laranja (BASE XV, 6º) para além da tonalidade; não é possível explicar a um aluno que pode optar por aprender aritmética ou arimética (BASE IV, 2º). Não é possível!

“Tentar «uniformizar» artificialmente a ortografia, para além das bases mínimas da Convenção de 1945, é da mesma ordem de estupidez que pretender que todos os que falam Português falem com a pronúncia de Celorico ou de Salvador da Bahia. É ridículo, é anticultural, é humilhante para todos nós.”(MEC)

Com eleições à porta, importa que os partidos explicitem nos seus programas eleitorais se o caminho da língua materna continua para a “estupidez”, ou se, pelo contrário, o vocábulo mantém o acento e se pára de vez com o actual atentado ortográfico.

[Transcrição integral de artigo, da autoria de Helena Mendes, publicado no jornal “Notícias de Coimbra” de 21.02.15. “Links” adicionados por nós.]

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5 comentários

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    • Maria José Abranches on 23 Fevereiro, 2015 at 0:25
    • Responder

    A nossa língua materna «está em perigo», devido às sucessivas intervenções políticas que contra ela têm atentado, ao longo de todo este já longo processo envolvendo o vergonhoso Acordo Ortográfico de 1990. Recordo Carlos Reis, grande defensor do AO90, em entrevista ao JL em Julho de 2008: o “ensino do Português como língua materna, (…) escassamente corresponde às preocupações de uma política de internacionalização do idioma.”

    Esta ‘política de língua’, que sacrifica a língua materna dos portugueses, em nome não se sabe bem da ‘internacionalização’ de quê, foi determinadamente adoptada por todos os partidos no poder, desde 1990 até ao momento actual, incluindo os que apenas têm tido assento na AR e muitos dos que agora se propõem lá chegar. Este unanimismo invulgar no nosso país é espantoso: para acabar com a nossa língua materna, todos se entendem e conseguem colaborar!

    Por isso subscrevo o alerta que este artigo representa, especialmente no seu último parágrafo:

    «Com eleições à porta, importa que os partidos explicitem nos seus programas eleitorais se o caminho da língua materna continua para a “estupidez”, ou se, pelo contrário, o vocábulo mantém o acento e se pára de vez com o actual atentado ortográfico.»

  1. Isto que se está a passar , é tão doloroso como perder uma mãe. Estamos a perder as nossas raízes , e também a nossa identidade. Ando há 50 anos fora do país , mas não admito que massacrem a nossa amada língua portuguesa , a língua de Camões.
    Portugueses , ” Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal”

    • José on 23 Fevereiro, 2015 at 17:39
    • Responder

    Muito bem! Já agora acrescento que a Língua Materna não só está em perigo, como está à venda! E quem a vendeu (e continua a vender!) também é capaz de vender a própria mãe. A falta de verticalidade e de dignidade é a mesma. Atirem esta “cacagrafia” à cara de quem a cag**, isto é, de quem a aprovou!

    • Mayron on 25 Fevereiro, 2015 at 5:28
    • Responder

    cuidado com a xenofobia Helena Mendes, ela pode te matar

    • Maria José Abranches on 25 Fevereiro, 2015 at 17:55
    • Responder

    Onde vê neste artigo “xenofobia”, Mayron?

    É que as palavras têm significados e contextos próprios e não podem ser ‘atiradas’ aos outros indiscriminadamente. Já se percebeu que uma das tácticas usadas pelos defensores do AO90, para o impor e fazer calar os que a ele se opõem, consiste em acusar estes últimos de ‘xenofobia’, ‘fundamentalismo’, ‘conservadorismo’, ‘anacronismo’ e outros ‘ismos’ do mesmo teor… Como argumentação linguística é muito pobre e muito simplista! “Com papas e bolos, se enganam os tolos”, mas felizmente nem todos somos tolos!

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