«Evolução do Português por cognatos» [por Isabel Coutinho Monteiro]

Facebook_iconCognatos” são palavras que têm a mesma origem etimológica. É um fenómeno frequente quando se observa um par de palavras com a mesma etimologia e grafia semelhante em duas línguas diferentes, mas tendo evoluído cada uma para um significado diverso nas línguas em questão.

Posto isto, tomemos como exemplo as palavras “parente” em Português e “parent” em Inglês. Ambas derivam do étimo latino “parentem”, mas seguiram rumos semânticos diferentes: se em Português significa “pessoa da mesma família”, já em Inglês se refere a “um dos progenitores de alguém” ou a ambos, quando no plural.

“Sim, claro, já toda a gente sabe disso!” – Comentará o leitor. E tem toda a razão. Mas há mais.

O Código Civil português estipula as disposições relativas à regulação do “poder paternal” de menores, por exemplo, em caso de divórcio dos pais. Já em Inglês, fala-se de “parental authority”, e muito bem.

“Então, se está tudo correcto, para que serve esta ladainha?” – Perguntará o leitor, já enfastiado.

Esta ladainha, caro leitor, serve para – por minha vez – perguntar de onde vem, em Português, a expressão “poder parental”, que anda a abrir caminho por tudo o que é jornal, revista e toda a espécie de comunicações Portugal fora.

Como se não bastasse o aviltamento que o acordo ortográfico de 1990 trouxe à Língua Portuguesa, teremos de assistir impávidos a esta “evolução” da língua pelo facilitismo da tradução visual e fonética? Pela via da incultura de jornalistas, advogados, psicólogos e outros néscios que tinham a obrigação e o dever de saber e informar?

Falámos aqui de palavras vulgarmente conhecidas por “falsos-amigos” e, se ninguém de direito tomar medidas sérias a tempo, a Língua Portuguesa corre sérios riscos de se tornar uma falsa amiga de todos nós, portugueses.

Isabel Coutinho Monteiro

8 de Fevereiro de 2015

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2 comentários

    • María Oliveira on 10 Fevereiro, 2015 at 20:19
    • Responder

    Muito bem, Isabel C. Monteiro!

    Bem observado e, ainda melhor, muito bem dito!
    Há uma poluição sonora e escrita: é a “janela de oportunidade” (Window of opportunity), é o “salto de fé (Patrícia Reis, num dos seus romances, “A Felicidade Deles”, usa a tradução literal de “leap of faith”, que não tem paralelo em português, a não ser na palavra “oportunidade”: “A miúda dera um salto de fé tão violento que derrubara a sua vontade.”; a mesma autora diz “Não pretendia possuir casas e contas em bancos diversos; não era sobre isso.” (“It wasn’t / it was not about that”), ou ainda “Não, Teresa, estás a fazer com que eu tenha uma vida (…)” (“to have / to get a life”)…

    A americanização, por influência do Brasil, polui textos jornalísticos, romances, teses, notícias… Como cultura, somos o WalMart de todas as modas. Portugal converteu-se numa “loja de 300”: há de tudo, como nos bazares chineses ou marroquinos, a qualidade do que circula é duvidosa, mas como é fácil de adquirir, tendo em conta o espírito acrítico que é um desporto nacional, reina o “laissez faire, laissez passer”.
    O chorrilho de erros que por esse país fora cobrem de imundície milhares de palavras, pelas quais este site tem bradado aos céus, denunciando a vergonha em que todos nos tornámos pela conivência, são a prova de um país de diletantes, de incultos labregos que, munidos de aparelhos electrónicos, se crêem um “must”, mas não passam de neandertais ou cro-magnons sem noção da História. Um povo sem passado não tem futuro, alguém disse. Sem memória, sem referências, sem independência económica, política e, agora, cultural, somos, como diria Gabriel, o Pensador sobre os brasileiros da favela, “o resto do mundo”. Que “apagada e vil tristeza”…

    • Isabel Coutinho Monteir on 10 Fevereiro, 2015 at 22:57
    • Responder

    Obrigada, María Oliveira. De facto, já que ninguém com responsabilidade para isso deita mão a esta verdadeira balbúrdia que tanto mancha o nosso Português, cabe-nos a nós denunciar estes abusos.

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