Decreta a ABP, Academia Brasileira de Pitacos(*)

«Então pedimos o adiamento do prazo de obrigatoriedade e montamos uma comissão para propor novas regras, simplificar a ortografia e, principalmente, padronizar a gramática com outros países.»

«Conforme o senador Miranda, o objetivo é ter a versão final do projeto pronta até maio de 2015 para que seja colocada em votação e possa entrar em vigor no início de 2016.»

Ou seja, o adiamento da entrada em vigor do AO90 no Brasil não foi “no intuito de se alinhar com Portugal“. Afinal, o “objetivo” era outro. Afinal, o pretexto para o adiamento não passou de (mais) uma redonda mentira.

(*)

Pitaco

Por Paulo Camelo em 2007-11-20

Palpite.

Vendo-me consertar o carro, João ficou dando pitaco, como se fosse mecânico.

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Comissão do Senado estuda abolir “ç”, “ch” e “ss” da língua portuguesa

Grupo técnico pretende alterar a nova reforma ortográfica, tornando a escrita mais próxima da fala
por Bruna Scirea
18/08/2014 | 13h05

Mal deu tempo para entender o que o último acordo ortográfico fez com o acento de voo, com o hífen de antissocial e com o trema de cinquenta, e uma nova proposta, ainda mais radical, já está em elaboração pela Comissão de Educação do Senado.

A partir de 2016, se entrar em vigor o projeto que pretende fasilitar o ensino e a aprendizajem da língua portugeza, vosê poderá ser obrigado a escrever asim (leia outros exemplos abaixo).

As (mais recentes) novas regras para o português devem ser apresentadas pelo grupo técnico da Comissão de Educação até 12 de setembro. Elas podem alterar as mudanças que tinham obrigatoriedade prevista para o fim de 2012, foram prorrogadas por quatro anos, e que, até agora, quase ninguém aprendeu direito. Além de reduzir o número de regras e exceções na língua, o objetivo da comissão é expandir o debate com a comunidade, especialistas e países que falam o português.

O projeto estava entrando em vigor sem ter sido discutido no Brasil. A Academia Brasileira de Letras (ABL) estava fazendo uma reforma sozinha, de um jeito muito conservador. Então pedimos o adiamento do prazo de obrigatoriedade e montamos uma comissão para propor novas regras, simplificar a ortografia e, principalmente, padronizar a gramática com outros países — afirma o presidente da comissão, senador Cyro Miranda (PSDB-GO).

Como senador não palpita sobre a presença ou a ausência de “cê-cedilha, hagá ou ceagá”, dois especialistas foram chamados para coordenar o grupo técnico: os professores de português Pasquale Cipro Neto e Ernani Pimentel, responsável pelo site simplificandoaortografia.compro — que fomenta um movimento para “substituir o decorar pelo entender” e reúne pitacos de quem se interessar pelo assunto.

— Por enquanto estamos juntando sugestões. Pretendemos redigir o conjunto de regras e apresentar entre 10 e 12 de setembro, no Simpósio Internacional Linguístico-Ortográfico da Língua Portuguesa, em Brasília. Esse projeto será levado ao Senado, que irá realizar uma audiência pública para ouvir todos que quiserem contribuir — diz Pimentel.

Entrevista: “Caza com ‘z’ continua sendo um substantivo”, diz coordenador do grupo técnico

A polêmica não deverá ser pequena. Para a doutora em Filologia Românica e professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, Dorotea Kersch, a proposta é um “absurdo, a legítima falta de ter o que fazer”.

— Não existe língua fácil ou língua difícil. Cada língua tem sua história e suas especificidades. Não é simplificando a ortografia que resolvemos os graves problemas de leitura e escrita de nossos alunos, que são escancarados a cada avaliação sistemática. Quem sabe os senadores se preocupam com coisas que realmente impactam o ensino, como salário de professores, ou uma política de ensino de língua adequada às diferentes realidades do Brasil — rebate.

Conforme o senador Miranda, o objetivo é ter a versão final do projeto pronta até maio de 2015 para que seja colocada em votação e possa entrar em vigor no início de 2016. Até lá (e se chegar lá), o processo é longo, e não são poucos os obstáculos. No caminho, ainda estão a resistência que mudanças radicais provocam, a morosidade com que o assunto é levado no Brasil — o último acordo ortográfico proposto foi discutido na década 1970, assinado em 1990 e aplicado a partir de 2008 — e a necessidade de se convencer todos os países a aprovarem a nova forma de se escrever português.

[Transcrição integral de notícia do jornal “Zero Hora” (de Porto Alegre, Brasil) publicada em 18.08.14. Imagem de “Coletiva.net“. “Links” e destaques inseridos por nós.]

Agradecimentos a Marcelo Soriano, do Brasil, pela indicação da notícia.

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3 comentários

  1. O seu ComentárioEstou ansioso por saber o que pensam (e vão dizer) a este respeito, alguns dos nossos representantes na Assembleia da República e, já agora, os senhores ministros e o senhor Presidente da República, que está no ponto de partida de tamanho erro histórico (istórico, istérico,…? Já nem sei!). Que argumentos se vão inventar nas bancadas do PS e do PSD para apoiar o Brasil? Imagino-os fabulosos, desde já.

    Estou ansioso por saber o que vai fazer a Porto Editora aos seus dicionários e que português vai ser adoptado pelas editoras e pelos jornais. Imagino a maioria dos nossos jornalistas, esses exemplos de rigor, a escreverem na nova ortografia. Só lhes ficará bem alinhar em tudo o que pode ser entendido como a aplicação das teorias Gramsci e seguidores. Há uma agenda, só que não tem que ser dita. Bastará falar em modernidade e deverá estar tudo dito. Os Diários de Notícias, os Expressos e tantos mais, vão vender-se aos milhões no Braziu. Tenho a certeza!

    Devem andar muito excitadas as membras e os membros da Associação de Professores de Português. Os dinheirinhos que hão-de fazer em acções de formação… ui! Tão bom! E estejam descansados, nem sequer sapos engolem, os sapos é que os engolem: são insectos!!!

    E a nossa literatura (desculpem, não é nossa, é dos brasileiros, afinal eles são mais). Quem é que não desespera para ver Luís de Camões escrito na nova ortografia? Luís de Camões, mas já ninguém lê Camões. Compram-se uns resumos. Vá, pronto, do século passado, Fernando Pessoa. Quem é que não tem pressa de ver Fernando Pessoa escrito na novilíngua? E os outros? Aqueles que já ninguém se lembra dos nomes? Mas como eles assumiram à força a paternidade do António Vieira, vou adorar ler Vieira, nesta nova ortografia, tão adequada à escrita rigorosa da Língua Portuguesa.

    Haverá gente que, por certo, se sentirá envergonhada por se ter deixado enganar pelos nossos amigos e/ou irmãos e/ou, mesmo, amantes brasileiros. A Dilma é a Dilma e detergente como o detergente Dilma não há melhor. Mas como vai haver eleições, é melhor este tal de Cyro Miranda despachar-se e implementar já este projecto. Tenho a certeza que o vai deixar na “estória”, como os palermas gostam de escrever.

    A propósito deste monumento que se prepara, deveríamos enviar uns escritos aos senhores deputados a agradecer, pois são eles os responsáveis por termos embarcado neste carro alegórico, nesta palhaçada, que são e sempre foram os acordos ortográficos entre Portugal e o Brasil.

    Muito obrigado, políticos de Portugal. A vossa posição de cu para ar é a mais adequada à defesa geral da cultura portuguesa e da Língua em particular.

    • Luís Ferreira on 19 Agosto, 2014 at 19:09
    • Responder

    Estou ansioso por saber o que pensam (e vão dizer) a este respeito, alguns dos nossos representantes na Assembleia da República e, já agora, os senhores ministros e o senhor Presidente da República, que está no ponto de partida de tamanho erro histórico (istórico, istérico,…? Já nem sei!). Que argumentos se vão inventar nas bancadas do PS e do PSD para apoiar o Brasil? Imagino-os fabulosos, desde já.

    Estou ansioso por saber o que vai fazer a Porto Editora aos seus dicionários e que português vai ser adoptado pelas editoras e pelos jornais. Imagino a maioria dos nossos jornalistas, esses exemplos de rigor, a escreverem na nova ortografia. Só lhes ficará bem alinhar em tudo o que pode ser entendido como a aplicação das teorias Gramsci e seguidores. Há uma agenda, só que não tem que ser dita. Bastará falar em modernidade e deverá estar tudo dito. Os Diários de Notícias, os Expressos e tantos mais, vão vender-se aos milhões no Braziu. Tenho a certeza!

    Devem andar muito excitadas as membras e os membros da Associação de Professores de Português. Os dinheirinhos que hão-de fazer em acções de formação… ui! Tão bom! E estejam descansados, nem sequer sapos engolem, os sapos é que os engolem: são insectos!!!

    E a nossa literatura (desculpem, não é nossa, é dos brasileiros, afinal eles são mais). Quem é que não desespera para ver Luís de Camões escrito na nova ortografia? Luís de Camões, mas já ninguém lê Camões. Compram-se uns resumos. Vá, pronto, do século passado, Fernando Pessoa. Quem é que não tem pressa de ver Fernando Pessoa escrito na novilíngua? E os outros? Aqueles que já ninguém se lembra dos nomes? Mas como eles assumiram à força a paternidade do António Vieira, vou adorar ler Vieira, nesta nova ortografia, tão adequada à escrita rigorosa da Língua Portuguesa.

    Haverá gente que, por certo, se sentirá envergonhada por se ter deixado enganar pelos nossos amigos e/ou irmãos e/ou, mesmo, amantes brasileiros. A Dilma é a Dilma e detergente como o detergente Dilma não há melhor. Mas como vai haver eleições, é melhor este tal de Cyro Miranda despachar-se e implementar já este projecto. Tenho a certeza que o vai deixar na “estória”, como os palermas gostam de escrever.

    A propósito deste monumento que se prepara, deveríamos enviar uns escritos aos senhores deputados a agradecer, pois são eles os responsáveis por termos embarcado neste carro alegórico, nesta palhaçada, que são e sempre foram os acordos ortográficos entre Portugal e o Brasil.

    Muito obrigado, políticos de Portugal. A vossa posição de cu para o ar é a mais adequada à defesa geral da cultura portuguesa e da Língua em particular.

  2. Quando eu penso que os políticos já esgotaram todos os disparates possíveis, eis que surge esta idiotice pegada! Em nome de quê? Do facilitismo que já grassa há anos e que tem dado péssimos resultados na educação da juventude? Não é “facilitando” a aprendizagem da língua materna que a população vai ficar mais letrada e culta. Para que isso acontecesse, devia existir uma vontade política que, já se viu, está completamente posta de parte. A estes politiqueiros de meia tigela o que interessa mesmo é que as próximas gerações sejam cada vez mais ignorantes e sem vontade de aprender. Assim, mais facilmente serão manipuladas.
    Daqui a uns anos vão propor o quê? Que se retirem as vogais para a escrita ficar mais próxima das mensagens nos telemóveis? Isso facilitaria imenso a vida a milhares de jovens que já escrevem dessa forma nos seus trabalhos e testes escolares! Afinal, a ideia não é facilitar, tornar acessível e padronizar? Portanto, padronizemos a escrita de disparates como “Sts pltcs s dds!” (“Estes políticos são doidos!”), para grande gáudio de todos aqueles que não gostam de perder muitas horas com a aprendizagem da sua língua.
    O que me aflige mais é saber que, no nosso país, existem cabeças tão desmioladas como as destes senhores e que facilmente vão achar a ideia o máximo.

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