«Senadores querem nova reforma ortográfica» [notícia do Senado brasileiro, 07.08.14]

Ora aí está de novo o “projeto” mas desta vez de forma não apenas oficial, visto que é o próprio Senado brasileiro quem publica a notícia, como também já temos o dito “projeto” calendarizado, estão nomeados os respectivos intervenientes, estabelecidos os passos a seguir e os “objetivos” a prosseguir: podendo entrar em vigor “já em 2016” nos oito países da CPLP, de que Portugal faz parte, irá ser produzida uma “nova reforma ortográfica” porque o AO90 não foi “suficientemente longe” na “simplificação” da Língua Portuguesa.

Em suma, é isto.

Em que consiste esta “reforma da reforma“, no que à Ortografia diz respeito, é algo que o próprio texto da notícia “esclarece”. Sabendo-se agora que este novo acordo ortográfico (AO16?) será feito “em cima” do anterior acordo ortográfico (AO90) e que será “votado” por tele-conferência (não, não é brincadeira, ou, melhor dizendo, é mas está na notícia), então pelos vistos a sua “aprovação” estará por essa via dada por garantida pelos autores “disto”.

Já quanto ao que significa “isto” para todos nós, portugueses (e angolanos e moçambicanos e cabo-verdianos e guineenses e são-tomenses e timorenses), o que significa “isto” em termos históricos, culturais e identitários para sete das oito nações de Língua oficial portuguesa, bom, digamos que “isto” significa…

Se calhar é melhor não dizer. Toda a gente sabe.

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Notícia

Senadores querem nova reforma ortográfica

07/08/2014
Cristiane Britto

Projeto propõe a extinção da letra “h” no início das palavras e a troca de todas as expressões com “ch” pelo “x”

SENADOR CYRO MIRANDA disse que serão realizadas videoconferências com professores de países como Portugal e Angola para depois colocar o projeto em votação.
LEONARDO SUSSUARANA

A Comissão de Educação do Senado está desenvolvendo um projeto que pretende trazer mudanças nas atuais regras da língua portuguesa. Por meio de um grupo técnico de trabalho, os senadores vão propor novas regras para simplificar a ortografia e facilitar o ensino e a aprendizagem da escrita.

De acordo com algumas propostas do projeto, haveria a exclusão do “h” inicial, passando palavras como homem e hoje, por exemplo, a serem escritas omem e oje.

O “ch” seria outro fonema com dias contados, sendo substituído nas palavras pela letra X. Flecha passaria a ser escrito flexa. Pela lógica do estudo, o hífen também estaria com os dias contados.

A vice-presidente da comissão, senadora Ana Amélia Lemos, declarou que o projeto se faz necessário, pois há muitas divergências em relação ao último acordo ortográfico. “Na época, sequer foi feita uma consulta aos professores para a mudança da ortografia”, alegou.

Sob a coordenação dos professores de Língua Portuguesa Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto, o grupo técnico de trabalho tem buscado as sugestões de alterações gramaticais com profissionais da área no Brasil e nos demais países de língua portuguesa, por meio do site Simplificando a Ortografia.

Segundo Pimentel, o objetivo é criar um sistema no qual se tenha o menor número de regras e de exceções, que seria mais econômico para a educação, pois ensinaria a língua portuguesa em menos tempo e de forma mais eficaz, sem necessidade de decorar.

Quase ninguém sabe a ortografia em nosso País. Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, é algo raro. Até professores precisam recorrer a dicionários para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema“, disse Pimentel.

VOTAÇÃO

O presidente da Comissão de Educação, senador Cyro Miranda, disse que até maio do ano que vem serão realizadas videoconferências com professores especialistas da área de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde para depois colocar o projeto em votação. “Cada país levará para aprovação do seu Legislativo. Caso aprovado, poderia entrar em vigor em 2016 “, explicou o senador.

[Notícia publicada no “site” do Senado Federal do Brasil, com o título Senadores querem nova reforma ortográfica, no dia 7 de Agosto de 2014.]

O que nós queremos?

O Simplificando a Ortografia quer que, em vez das atuais 400 horas/aula de ortografia ministradas desde o início do fundamental até o fim do ensino médio, sejam utilizadas apenas (ou em torno de) 150. Quer que os professores, alunos e profissionais de todos os ramos possam escrever com mais segurança e desenvoltura, gastando muito menos tempo. Quer que nas escolas o ensino de Português foque assuntos mais importantes como leitura, análise, compreensão, interpretação e criação de textos e, desenvolva no cidadão a competência comunicativa, tão necessária para o engrandecimento de Angola, Brasil, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, e de seus filhos, onde quer que se encontrem.

[Citação do “site” Simplificando a Ortografia]

Nota: os destaques e sublinhados nas citações são nossos.

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6 comentários

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    • João Batista Schmitt on 15 Agosto, 2014 at 19:34
    • Responder

    O seu Comentário Os Srs Senadores Não tem mais o que fazer esta proposta é ridícula e imbecil.Simplesmente é a oficialização do jeito errado de escrever com a Desculpa de facilitar a escrita.Vocês estão querendo nivelar a ortografia bem por baixo.

  1. Dizem que as pessoas não sabem a ortografia, e propõem reduzir o tempo de aulas dedicado à ortografia?

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 16 Agosto, 2014 at 10:20
    • Responder

    Há bem uns 20 anos estava de visita a casa de um amigo quando ele me pediu que desse uma ajuda a um dos filhos num problema de Matemática. Às tantas, era necessário fazer uma multiplicação de um inteiro por 10 e para minha estupefacção o diabo do rapaz puxa da máquina de calcular…

    Consegui refrear a minha vontade lhe dar um calduço e perguntei-lhe se ele não sabia que multiplicar um número por 10, por 100, ou por 1000 era apenas uma questão de juntar uns zeros a esse número. Fiquei a saber que isso para ele não interessava nada pois na escola toda a gente recorria à máquina de calcular para fazer essas contas… Nem sequer consegui abalar as convicções do rapaz.

    Era inevitável que esta geração um dia chegasse ao poder. Estamos agora a testemunhar e a sofrer o resultado do facilitismo no ensino e, pior, da falta de uma cultura de inteligência. De facto, os responsáveis políticos que nos aparecem pela frente, se em alguma coisa se distinguem, é na ignorância e na profunda estupidez que revelam na abordagem das mais variadas matérias.

    O AO 90 é, antes de tudo, uma manifestação de estupidez. Os senadores brasileiros fazem “cuestão” de acentuar essa estupidez.

    • Inspector Jaap on 16 Agosto, 2014 at 10:44
    • Responder

    Como sou um optimista incorrigível, vejo o caso desta maneira: e se a deriva para a barbárie for de tal dimensão que provoque uma reacção para o outro lado? Assim um pouco como alguém que vai tanto para Leste que a dada altura passa a linha e já está no Oeste?
    Pode ser que isto abra os olhos a estes infelizes que nos (des)governam; apre, que isto terá que ter um fim mais cedo ou mais tarde, ou seremos, todos nós, intelectualmente autofágicos? Estaremos irremediavelmente condenados a zurrar num futuro próximo? Os versos no Hino Nacional, contêm quase no fim uma mensagem esclarecedora; assim a saibamos merecer; EU, POR MIM, ALINHO.
    Cumpts

  2. Caro “Inspector Jaap”, essa sua perspectiva optimista pode muito bem realizar-se, ou seja, pode suceder que alguns acordistas “eventuais” ou “neutrais” (a pior espécie de acordista, visto serem a maioria dos ditos) acabe por finalmente… “acordar”, desacordando, depois de constatar que afinal o AO90 não passava de um primeiro passo para a “solução final” (Endlösung) de que agora se prepara o remate.

    Mas pode também suceder o inverso, isto é, que os mesmos acordistas, em especial os “militantes”, se agarrem ainda mais e com mais afinco ao seu “querido” AO90, passando então a apresentá-lo já não como o desastre que é e sempre foi mas agora como a “salvação” para que este outro desastre não ocorra!

    A táctica política parece-me nisto evidente e é de resto utilizada amiúde no chamado “jogo político”: ameaçar com um “facto” horripilante iminente para garantir a subsistência de um outro que, apesar de não menos horripilante, parecerá ainda assim bem menos assustador. Agitar no ar um espantalho monstruoso para que as pessoas, como se fossem criancinhas, passem a ver com olhos mais condescendentes o monstro real que antes lhes foi impingido sem grande sucesso. Ou, no limite, permitirá esta táctica levar alguns a não apenas ver com condescendência o monstro como até a acolher-se à sua “proteção”.

    Fará o favor de ler, por exemplo, a “reação” imediata de Evanildo Bechara (pois quem havia de ser o primeiro a pular?!) quanto a esta “coisa” pimenteliana:

    «É claro que a ideia não passa despercebida e já há quem se oponha veementemente – uma das vozes mais sonantes é a do “guru” Evanildo Bechara, autor da Moderna Gramática Portuguesa e membro da Academia Brasileira de Letras (e, já agora, da Academia das Ciências de Lisboa e Honoris Causa pela Universidade de Coimbra).»

    http://zap.aeiou.pt/brasil-pondera-simplificar-portugues-esta-na-ora-de-aqecer-o-xa-38965

    • Inspector Jaap on 18 Agosto, 2014 at 23:15
    • Responder

    Caro “JPG” é com tristeza que lhe dou razão, pois pode muito bem estar tão ou mais certo do que eu.
    De facto, “no reino dos cegos, quem tem olho é rei” pelo que pode muito bem acontecer que o ceguinho de hoje venha a ser o rei de amanhã.
    Que Deus nosso Senhor nos guarde em Sua infinita misericórdia e nos poupe a tal ultraje; só tenho pena pelos meus (quiçá) futuros netos, pois os meus filhos já foram vacinados contra este vírus “é-da-tola” que por aí campeia. Continuemos pois, a lutar por esta causa, e sem desfalecimentos que não há, hoje por hoje, condições para um tal luxo.
    Cumpts

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