«A subserviência ortográfica» [Artur Gonçalves, “Público”, 19.05.14]

publicoDepois da morte de Vasco da Graça Moura, que foi o mais acérrimo opositor ao Acordo Ortográfico, vão-se desenterrando os meandros da génese do chamado “Acordo ortográfico luso-brasileiro”.

O jornalista Nuno Pacheco fez-nos chegar, através de um texto publicado no jornal Público do dia 11 de Maio de 2014, a história vergonhosa deste Acordo. A gente lê e quase não acredita, a gente lê e pasma. Como foi possível que uma pessoa que nem é professor de português, nem linguista, nem filólogo, nem lexicólogo, um tal António Carlos Atayde, jornalista, por sede de protagonismo mediático, consegue fazer com que o presidente da Academia Brasileira de Letras que antes era contra o acordo, passasse a ser seu defensor? E consegue obter o apoio de Evanildo Bechara académico, um gramático respeitado que, sendo sempre contra o Acordo, depois mudou e passou a dar-lhe cobertura.

Não admira, pois que o Brasil tenha suspendido o Acordo até 2016, altura em que tenciona revê-lo ou, talvez, suprimi-lo.

E nós por cá assistimos ao desmoronar da pureza da nossa língua e vamos na cantiga dos brasileiros. As editoras e os média seguem religiosamente os termos do Acordo, ao contrário dos Brasileiros, à custa de termos destruído a ligação umbilical que unia o português à sua língua-mãe, o latim.

Artur Gonçalves, Sintra

[Transcrição integral de texto, da autoria de Artur Gonçalves, publicado na secção “Cartas à directora” do jornal Público de 19.05.14. “Links” inseridos por nós.]

NunoFerreiraAO250514

[Imagem, da autoria de Nuno Ferreira, publicada no Facebook em 19.05.14.]

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8 comentários

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    • Maria José Abranches on 19 Maio, 2014 at 16:33
    • Responder

    Pois, e ainda falta explicar como é que o já putrefacto AO90, depois de ressuscitado pela Academia Brasileira de Letras, foi assumido pelo Presidente Lula da Silva, e daí, galgando o Atlântico, passou a prioridade do governo socialista de José Sócrates, com o apoio e empenho do Presidente da República, Cavaco Silva (que referiu “a pressão que então se fazia sentir no Brasil” – em 2008 aquando da sua visita ao país), sendo depois diligentemente “imposto” aos portugueses, pelo actual governo (PSD/CDS), e tudo isto com a Assembleia da República, a “casa da democracia”, entusiasta e autista, aplaudindo nas bancadas!

    E querem representar-nos na União Europeia exprimindo-se em “acordês”?! E há quem invoque a “soberania nacional” escrevendo com o AO90?! Como querem que Portugal, país europeu, onde nasceu o Português, a nossa língua, seja respeitado, se se apresenta como porta-estandarte da língua do Brasil?

    Democracia … isto?! Não brinquem com coisas sérias! É que soa a falso, como um belo discurso exaltando a “dignidade humana”, atraiçoado por um “lapsus linguae” vincadamente racista!

    • Helenilson Pereira da Silva on 19 Maio, 2014 at 20:58
    • Responder

    E os linguistas brasileiros hoje defendem esse Acordo mesmo que não tenham sido procurados para estudá-lo. Combatem o ensino da gramática e aceitam o Acordo Ortográfico cheio de erros.

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 20 Maio, 2014 at 8:23
    • Responder

    Maria José Abranches tem toda a razão. Partidos como o PS, o PSD e o CDS não têm condições para representar Portugal no Parlamento Europeu, se nem sequer sabem defender a língua materna do ataque mais despudorado de que alguma vez foi vítima.

    O PS de Seguro não contesta nada nem reconhece nenhum erro na acção governativa de Sócrates, o seu anterior líder e o 1º Ministro que teve a triste ideia de relançar um AO que estava em hibernação há alguns anos, praticamente esquecido.

    A coligação PSD/CDS, agita a questão da dívida e do défice para se demarcar do PS, mas no resto tem demasiadas posições coincidentes com as do PS, incluindo a aceitação do AO.

    Destes três partidos não se ouve uma única palavra no sentido de corrigir uma situação que se torna vergonhosa para o país. O facto de o Brasil ter posto o AO em compasso de espera pode ter um desfecho inaceitável para qualquer português que se preze. De facto, estamos na perspectiva de um dia destes o Brasil recusar definitivamente o AO e Portugal ficar nas mãos com a ortografia do Brasil.

    Os dirigentes do PS, PSD e CDS devem descender dos cobardes que desertavam ou se escondiam atrás das árvores a fazer de mortos enquanto na frente de batalha os mais valentes se matavam uns aos outros. A selecção natural tem destas ironias, mas não há outra explicação para sermos governados há tantos anos por vagas de gente sem um pingo de coragem.

  1. Para os políticos deste país: Podem ter a certeza, desta vez serei espectador e, tal como apela Nuno Ferreira na página do Facebook, também eu este Domingo ficarei em casa. CHAMEM-ME PARA VOTAR DEPOIS DE ABOLIREM O ACORDO ORTOGRÁFICO!

  2. Se eu votar, será num partido que não segue o AO90.

    • Fernando Almeida on 21 Maio, 2014 at 5:45
    • Responder

    No Brasil, chamam caipiras (parolos) àqueles que assumem a paternidade desse aborto, chamado AO.
    Esses distintos analfabetos, que o inventaram, alegam a estúpida utilidade que reside numa grafia comum, a ser utilizada em Portugal e no Brasil.
    Esses parolos, ao que parece, nunca estiveram no Brasil, nem sabem como eu sei, escrever em “BRASILEIRO”.
    Se soubessem, ter-se-iam apercebido de que, no Brasil escrevem e continuam “escrevendo”:
    – ÚMIDO em vez de HÚMIDO;
    – EXCEPÇÃO (pronunciam EXCEPIÇÃO) em vez EXCEÇÃO. Em Portugal, mui boa gente pronuncia XEÇÃO…!
    A lista é interminável. Não cabe aqui, nem há paciência para construí-la.
    Parece que o Português continua mais defendido de agressões desfechadas pela ignorância, apenas em poucos lugares do planeta:
    1.- Brasil;
    2.- Galiza (o Português da Galiza), onde ninguém inventou ainda qualquer AO…
    3.- Em certas regiões de Portugal, incluindo a Madeira e os Açores, cuja lista omito, para encurtar este protesto. Devo esclarecer que sotaque não tem nada a ver com pedantismos, quais sejam:
    – XÊNTRICO em vez de “EISCÊNTRICO”.
    – FAITO em vez de FEITO; no Alentejo, pelo sotaque, dizem FÊTO; e daí? Toda a gente entende o que diz o alentejano.
    – FAIA em vez de FEIA; no Alentejo, pelo sotaque, dizem FÊA; e daí? Toda a gente vai entender que o alentejano quer dizer FEIA. Agora essa coisa de pretenderem que eu adivinhe quando alguém pretende dizer FAIA ou FEIA, MAIA ou MEIA… desculpem. Alto e para o baile…! Eu não sou bruxo.

    • María Oliveira on 21 Maio, 2014 at 14:41
    • Responder

    Boa tarde!

    Fernando Almeida refere execráveis (opinião minha) expressões como “xeção”, mas elas são milhentas! Infelizmente, maus profissionais da lavra de Mª João Ruela, da SIC (foi a ela que primeiro ouvi o linguajar da rua, ou da favela, a preguiça descarada sempre que abria a boca, o que me tornou alérgica àqueles noticiários) insistem na amputação de tudo: temos “os panhóis”, “ojornaischuecos”, “ostádosunidos” ocorrências em horas marcadas: “àchinco”, “àchete” (e até às “treuze”, mas isso são outros quinhentos…). O Zé, o “popular”, o das ruas diz tudo torto, as pessoas descem “ashcadas”, vão “pa cima”, “pª baixo”, “amandam cas portas”, mas cromos como o M.S. Tavares, por exemplo, vão “pó shtranjaro”, acham “cu governo”, falam e escrevem “pás massas” tão energúmenas como eles… Ler notícias em rodapé ou ouvir estas atoardas tornou-se-me tóxico, insuportável, alergia à qual acresce o notabilíssimo gesto que todos os apresentadeiros têm, que é o de dizer que não com a cabeça… Será pandemia? Há uns meses, uma jornalista absolutamente idiota, com o vício de comer sílabas e juntar palavras até tornou feminino o nome da mais alta figura pública francesa: de repente, François Hollande passou a ser “Françoizolande”, ou seja, o François passou a ser Françoise… Uma pobreza franciscana! Toda aquela gente que faz mal o seu trabalho devia ter de se retractar após os erros, corrigindo-os, no mínimo. Se um aluno meu persiste num erro após correcção, “leva nas orelhas” com humor até que aprenda! É chicotada psicológica até que aprenda! Nenhum deles se atreve, já, a dizer “tipo”, “cenas”, “Então é assim:…” ou “É assim uma coisa parecida a um cubo, mas sem ser…” Maaaaauuu… Brincamos?

    • Helenilson Pereira da Silva on 7 Outubro, 2014 at 23:38
    • Responder

    O interessante da entrevista que Sergio Pachá concedeu é que mostra o quanto os defensores do Acordo Ortográfico falam do que conhecem e combatem quem tem opinião segura sobre o assunto, afinal, o entrevistado foi lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras, e conhece bem como se deu a implantação.

    Bacharel em Língua Portuguesa pela PUC-RJ;
    Licenciado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela PUC-RJ;
    Mestre em Língua Portuguesa pela UFF;
    Doutor em Língua e Literatura Hispânica pela Universidade da Califórinia, Santa Bárbara.

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