Ainda estamos aqui!

homenagemVGMDecorridos quase quatro anos desde o lançamento, a 31 de Março de 2010, do texto da Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) contra o Acordo Ortográfico e do início da recolha de assinaturas, a 8 de Abril desse ano, e apesar de toda a oposição que temos encontrado, por vezes, de “forças ocultas”, ainda estamos aqui!

Por coincidência, ou talvez não, precisamente no dia 31 de Março de 2010, Malaca Casteleiro, responsável pela redacção do AO90 por parte de Portugal, declarou à Lusa: «No prazo máximo de dois anos, todos os países da CPLP terão aplicado o novo Acordo Ortográfico.»

Como é sabido, o vaticínio de Malaca não se concretizou. Nós ainda estamos aqui!

E porque estamos nós aqui? Estamos aqui porque recusamos aceitar o atentado que o Acordo Ortográfico representa contra a nossa identidade enquanto povo soberano, o nosso património cultural, a nossa riquíssima herança histórica.

Estamos aqui porque sabemos que são muitos os portugueses que se sentem legitimamente ultrajados e traídos por um acordo celebrado à sua revelia sobre uma questão que lhes toca e lhes pertence.

Não vale a pena repetir os variadíssimos argumentos que demonstram a ilegalidade, a insanidade e a inutilidade de um acordo que, pretendendo uniformizar a Língua Portuguesa, acabou por a desvirtuar, mutilar e diversificar ainda mais do que antes. Esses argumentos foram já sobejamente debatidos e são do conhecimento público. O que interessa agora é lembrar que ainda estamos aqui.

E para quê lembrar que ainda estamos aqui? Porquê agora?

Todos os momentos são bons, mas acontece que um dos grandes opositores do AO90 acaba de ser homenageado, precisamente por uma instituição que desde logo abraçou a chamada “nova ortografia”, como está patente na agenda do site que anuncia o evento. Ora, acontece também que o homenageado – quanto a mim merecedor de o ser – cometeu o “delito” de desrespeitar a nova ordem imposta pelo AO90, quando mandou retirar dos computadores da instituição cujo leme acabara de assumir o corrector ortográfico destinado a “acordizar” todos os textos que por eles passassem. Fiquei intrigada! Afinal, como é possível homenagear alguém, atirando-lhe à cara precisamente o objecto da sua oposição durante tantos anos? Castigo pelo “delito” que cometera? Não me parece. E porque foi a sessão de encerramento marcada pela presença do Presidente da República – grande defensor da “uniformização” da Língua Portuguesa? E o que foi lá fazer Durão Barroso e o todo o “estado-maior” do PSD? Campanha? À custa do homenageado?

Há em tudo isto algo de muito estranho, que a minha ignorância dos meandros políticos não me permite descortinar. E é por isso que digo: ainda estamos aqui!

Isabel Coutinho Monteiro

[Imagem do “site” da Presidência da República.]

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2 comentários

    • Maria José Abranches on 2 Fevereiro, 2014 at 22:01
    • Responder

    Não posso deixar de exprimir aqui o meu profundo regozijo por esta homenagem a Vasco Graça Moura: é o reconhecimento do valor de um grande português no campo da cultura, da literatura e da língua portuguesa, que conhece, cultiva e vem defendendo ao longo da vida, corajosa e incansavelmente, como poucos!
    E não esqueço que a sua empenhada e constante luta contra o AO90 passou também pela subscrição desta nossa ILC, partilhando assim o nosso combate:
    http://ilcao.com/?p=2123
    Continuemos pois a nossa luta!

    • Inspector Jaap on 6 Fevereiro, 2014 at 17:24
    • Responder

    Partilhando do seu regozijo, acrescento que tal só é possível no arremedo de país em que se transformou Portugal, regido, hoje por hoje, por uma ”Numenklatura” que só não dobra a cerviz porque… não a tem; só a falta de vergonha iguala, nessa cambada, a sua falta de patriotismo.
    Cumpts

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