Um novo AO para “matar” o “velho” AO90? “Aja” paciência!

Actualização (14.12.13, 14:45)
«O acordo ortográfico previsto para 2016 pode não entrar em vigor da maneira que foi assinado. Comissões no Brasil, Portugal, Moçambique e Angola trabalham para simplificá-lo, tornando-o mais lógico e abrangente. Um novo modelo, proposto pelo linguista Ernani Pimentel, com menos regras e exceções, foi aceito durante uma reunião com a Assembleia da República de Portugal como, até o momento, a proposta mais adequada para os países de língua portuguesa
“Notícia” Maxpressnet (Brasil)


«Em resposta, o Professor Ernani Pimentel realçou que após ouvir os Senhores Deputados entende que existem pontos de convergência, salientou que as diferenças de pronúncia que não afetam o significado não são mexidas e que pode haver simplificação, defendendo que a eliminação do h não afeta nenhum dos 2 países
[Do relatório da Assembleia da República anteriormente aqui citado.]

O prazo para que o novo modelo seja concluído é julho de 2014, para que aja tempo hábil para os representantes dos oito países enviarem a proposta ao seus respectivos senados. Caso o projeto seja aprovado, seguirá para a sanção do poder executivo, devendo ser implementado até 2016, data estabelecida para o novo acordo ortográfico entrar em vigor.
[Do texto de introdução de notícia/entrevista publicada pelo “Portal de Imprensa” (Brasil).]

P: Como será o processo de construção do novo acordo proposto por vocês?
R: Nós já temos professores engajados nesse trabalho, tanto no Brasil quanto nos seis dos sete países que assinaram o acordo junto com o Brasil. Esses professores vão discutir com os alunos essas simplificações da ortografia e vão nos mandar sugestões até julho de 2014. Em setembro, vamos fazer um simpósio em Brasília com os representantes desses países para ver quais foram os esquemas de simplificação mais eficientes. Para avaliar sem subjetividades, vamos analisar menor número de regras, maior abrangência e menor número de exceções. Vamos então votar o melhor sistema. Escolhido o modelo, cada representante vai levar a mesma proposta para ser votada em seu país.

[Uma das perguntas/respostas de notícia/entrevista publicada pelo “Portal de Imprensa” (Brasil).]

CECCCNECP

Ernani(sic) Pimentel é o inventor de uma coisa a que ele mesmo chamou “movimento” (“Acordar Melhor”, de sua graça) e teve já, à conta disso, direito a uma audiência em pleno Parlamento Português, com duas Comissões parlamentares (CECC e CNECP), seguindo-se a esta audiência uma “reunião de trabalho” sobre a sua  tese.

Esta pimenteliana tese consiste basicamente em “simplificar” o Português, substituindo-o por uma versão redigida numa espécie de “linguagem” parecida com a que se utiliza para enviar mensagens por telemóvel (SMS) ou para “falar” num “chat” da Internet.  A ideia seria, então, “corrigir” o actual projecto de “acordo ortográfico” (vulgo, AO90) com o seu (dele) “projeto”, ou seja, “simplificando a ortografia“.

Sim, foi o portador deste mesmo “projeto” e daquela mesmíssima “ideia” que a Assembleia da República portuguesa (em Portugal não há “Senado”) acolheu e ouviu, de forma (pelos vistos) excepcional, no passado dia 27 de Novembro de 2013.

Bem sei que é difícil acreditar nisto mas infelizmente é verdade, por conseguinte aqui fica, em jeito de nota pessoal, a notícia de tão infeliz quanto estranha, lamentável, inacreditável “reunião de trabalho“.

O AO90 não se pode “matar”… porque é um nado-morto. E muito menos se pode sequer tentar substituir o nado-morto por um “zombie“. Em qualquer dos casos, aos cadáveres o máximo que se pode fazer é um funeral decente.

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9 comentários

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    • Jorge Teixeira on 13 Dezembro, 2013 at 15:22
    • Responder

    Estes senhores do clube do Ernani(sic) Pimentel são perfeitos exemplos de praticantes de pseudo-ciência e impostores intelectuais. É graças ao ascendente destas pessoas sobre o poder político que se está a dar cabo da cultura.

  1. Isto vai bonito, vai!…
    Cumpts.

    • Maria Miguel on 13 Dezembro, 2013 at 23:22
    • Responder

    Sem comentários.

  2. Em Portugal só se aceita oficialmente “Hernâni” e “Ernâni” (segundo a lista). É natural que o senhor queira eliminar o hh, é trauma. Há teorias psicanalíticas que poderão explicar o caso. Se não o tem nem o pode ter, então há que o tirar dos outros! Às tantas até o circunflexo vai.

    Isso ou julga que somos tão idiotas como os colegas dele lá dos Bràzília.

  3. O grande medo do Brasil é que se passe a chamar à sua língua Brasileiro. Enquanto lhe chamarem Português (e de tentarem que o Português cada vez mais se confunda com Brasileiro), podem continuar a exercer influência em África. Os acordos, as reformas de acordos e outras invenções são a cortina de fumo que esconde o Brasileiro a fazer-se passar por Português.

    • Jorge Pacheco de Oliveira on 14 Dezembro, 2013 at 13:08
    • Responder

    Tenho a sensação de que um dia isto vai mesmo dar origem a chapada…

    • teto falso on 14 Dezembro, 2013 at 15:45
    • Responder

    Elenos no Egito.
    Retirem o H dicionário! ‘O Ilário levou um millo do Ugo.’
    Fobia do “ífen”? -Retiremtodososespaços!
    Cannôtos? !oiràrtnocoamavercse-

    • Luís Ferreira on 14 Dezembro, 2013 at 15:49
    • Responder

    Não há homens na Assembleia da República que ponham termo a isto? Serão todos nódoas? Gente sem coluna? Miseráveis, frouxos, vendidos, ranhosos? Serão todos tão ordinários, como mostram ser? Ou ainda se vai levantar alguém e dizer a verdade que o país precisa ouvir, sem antes pedir autorização à intelligentsia partidária e sem medo de, sabe-se lá, com a sua intervenção beliscar algum compromisso, algum entendimento obscuro, que o seu partido ou alguém do seu partido possa ter feito, a troco de uns cobres?

    Será que para essa pseudo-elite, esses intelectuais, esses especialistas, o que está certo é sempre algo que ainda não se percebe, mas alguém – um “técnico” estrangeiro – diz que é bom e eles alinham, porque pensam [mal] que vão ficar bem na fotografia e alguém lhes há-de dar, um dia, uma palmadinha nas costas?

    Será que não percebem que é evidente a corrupção?
    Será que não percebem que esses tipos que vão, sem esperas, à NOSSA Assembleia da República dizer, seguríssimos de si, o que nós temos que fazer, não são outra coisa que peões de um jogo maior, de subalternização?
    Será que não conseguem perceber nas entrelinhas o que está em causa?
    Será que deixam, porque não conseguem perder uma oportunidade de ser simpáticos com os irmãos?
    Será tudo petróleo? Negócio? Favores? Férias pagas?

    Há, definitivamente, falta de homens de coragem, na NOSSA Assembleia? Onde estão os corajosos, que não se deixam humilhar, nem ao país? Não os consigo ver!

    • Maria José Abranches on 14 Dezembro, 2013 at 19:05
    • Responder

    @Afonso Loureiro, a confirmar o seu ponto de vista, uma passagem de “As Políticas Linguísticas do Português”, em que Ivo Castro cita um linguista brasileiro (Carlos Alberto Faraco):

    «Na ótica diplomática brasileira -diz -, a CPLP representa basicamente uma opção estratégica para articular, com base na língua comum, uma cooperação Sul-Sul (Brasil – Países africanos de língua oficial portuguesa – Timor) com a vantagem de ter um pé na União Europeia (Portugal)».

    (in Textos Seleccionados XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Porto, APL, 2010)

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