«Saber se de fato* este acordo é válido» [Senadora (brasileira) Ana Amélia, Rádio ONU, 18.10.13]

breakthrough-keyholeSenadora diz que países devem reabrir debate sobre Acordo Ortográfico

A brasileira Ana Amélia Lemos defende mais diálogo entre as academias de língua portuguesa dos oito países lusófonos, além de consultas amplas a professores de português sobre a eficiência da reforma.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.

Os países de língua portuguesa devem iniciar um debate sobre a eficiência do Acordo Ortográfico. A entrada em vigor em Portugal e no Brasil da tentativa de harmonização das ortografias brasileira e europeia está prevista agora para 1º de janeiro de 2016.

A proposta de diálogo foi feita pela senadora do Brasil, Ana Amélia Lemos. Ela é autora do projeto de lei que propôs que o país adiasse a entrada em vigor do Acordo de 2013 para 2016. O projeto deu origem ao decreto da presidente Dilma Rousseff, sancionado no fim do ano passado.

Ponto de Vista
Nesta entrevista à Rádio ONU, Ana Amélia Lemos defendeu a realização de consultas em todas as oito nações lusófonas sobre a validade da reforma ortográfica.

“Percebo que existe uma certa resistência bastante visível dos portugueses. Não só em Portugal, mas dos outros países de língua portuguesa em relação a esta questão. Então, eu penso que é preciso fazer um trabalho novamente de examinar, do ponto de vista diplomático, do ponto de vista da própria língua com a academia, com as universidades, com os professores da língua portuguesa não só no Brasil, mas nos outros países, para saber se de fato este acordo é válido, se deve ser feito e assim por diante. Então, acho que nós temos esse trabalho para fazer agora.”

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Para a senadora brasileira, a falta de ratificação do tratado por pelo menos um país africano de língua portuguesa** demonstra que o Acordo Ortográfico, da forma como está, não é bem-sucedido.

Eu acho que ele (Acordo Ortográfico) fracassou por isso porque se esses países não assinaram ainda. Imagine, nós não temos outras formas de entender por que Angola não ratificou (o Congresso assinou, mas não ratificou), Portugal – o Congresso português está manifestando o desejo de haver um adiamento do Acordo também. Está claro que não há consenso em torno de uma matéria tão delicada. O que é a língua? É a identidade de um país. A identidade dos países de língua portuguesa.”

Cplp
Anunciado em 1990, o atual Acordo Ortográfico foi endossado por todos os oito membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp, que abriga as nações que falam o idioma. A decisão foi anunciada em 2008, durante a 7ª. Cimeira dos Chefes de Estado e Governo da Cplp, em Lisboa. Na mesma ocasião, o bloco aprovou a estratégia de “internacionalização” do português.
Um ano depois, o Brasil implementou a reforma ortográfica, de modo voluntário, o que foi seguido em parte por Portugal.

Segundo a Cplp, o Acordo Ortográfico tem como objetivo harmonizar as duas escritas do português: a brasileira e a europeia com o intuito de melhor promover a língua no mundo incluindo em organizações internacionais.

[Transcrição integral de artigo publicado no “site” da ONU em 18.10.13.]

“Click” em baixo para ouvir a gravação completa da reportagem e da entrevista da Rádio ONU.

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* Ortografia brasileira, conforme original transcrito

** Nem Angola nem Moçambique ratificaram o 2.º Protocolo Modificativo.

[Imagens de 123RF e de Designblog]

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3 comentários

    • Luis Xavier on 21 Outubro, 2013 at 16:12
    • Responder

    Sim… “de fato” vai custar-me a admitir que só iniciativas destas, provenientes da “metrópole brasileira”, poderão ter algum impacto nas mentes iluminadas e sapientes daqueles que, infelizmente, mesmo de “fato e gravata”, insistem em conspurcar uma herança que não lhes pertence. Bem fizeram Angola e Moçambique, quando lhes deixaram claro o que poderiam fazer ao AO (leia-se Aborto Ortográfico).
    Não podemos deixar esmorecer as forças que nos impelem a lutar por esta causa, apesar da apatia e cobardia que tantos “portugueses” demonstram.

  1. A propósito, um texto maravilhoso que encontrei:

    “Eu entendo perfeitamente o empenho dos brasileiros em deslatinizar a língua escrita. De certo modo, o latim representa tudo o que rejeitamos: os valores morais, o rigor poético, o conhecimento científico, o respeito às leis, a simetria das formas, o pensamento filosófico, a harmonia com o passado, o estudo religioso. Ele encarna todos os conceitos da cultura ocidental que conseguimos abandonar. Eliminando o C e o P de certas palavras, Portugal poderá se desgrudar da Europa e ancorar na terra dos tupinambás.”

    http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/reforma-ortografica-radical-468654.shtml

  2. E como este também há outros brasileiros lúcidos. Ver Glauco Mattoso, por exemplo.

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