Mais três “velhas do Restelo”

amanhecerbarcelos

Made in Brasil

É uma língua viva que provém do latim e do grego e que está em constante alteração. É um dos maiores êxitos da nossa expansão pelo mundo e é a identidade do nosso povo, a sua cultura, a sua história…

Têm sido feitas várias tentativas para unificar a ortografia da Língua Portuguesa, sendo a mais importante, e a que deu origem ao actual acordo ortográfico, a de 1990. Porquê tanto interesse em modificar a nossa língua?

Em 2008, foi aprovado pelo Presidente da República e em Assembleia da República, por professores catedráticos, linguistas, editores e deputados, o novo acordo ortográfico. Acordo esse que só foi de conhecimento geral depois de aprovado. Por que razão? Porque é que, sendo a língua património do país, que pertence a todos nós, pode ser controlada por indivíduos que não sabemos quem são? Que interesses tinham em que esse acordo fosse aprovado?

Foram ignoradas as opiniões de pessoas importantes na construção da língua portuguesa, que fizeram com que esta fosse reconhecida internacionalmente, que trouxeram para o país prémios importantes relacionados com a literatura. Como é possível considerar irrelevante a opinião dessas pessoas? É este o país que temos? Um país que se rege por interesses e mais interesses, que é governado por pessoas que pensam que podem passar por cima de tudo e de todos? E até podem, pois, perante tudo isto, o povo permanece sereno, como se nada tivesse acontecido.

Este acordo será gradualmente introduzido, até 2015, nas escolas portuguesas, sendo um dos argumentos a favor da sua implementação a simplicidade do ensino e da aprendizagem. Como podem considerar que se simplifica o ensino, quando pôr em causa a estabilidade ortográfica é atentar contra a qualidade do mesmo, contra a integridade do uso da língua e contra o desenvolvimento cultural e científico do povo português? No entanto, para os nossos governantes, o acordo não é suficiente, introduzindo também a nova gramática – o Dicionário Terminológico.

É isto que consideram simplificar? Pois bem, a única coisa que simplifica é os trabalhos de pesquisa, pois assim os alunos só precisam de fazer “copy-paste” das páginas dos sítios brasileiros. Talvez fosse isto que os nossos governantes pretendessem. E, mais grave ainda, os livros e os dicionários que terão de ser actualizados e que custarão milhões ao estado e aos portugueses, quando o país está no fundo do poço, sem dinheiro para nada.

Toda esta aceitação mostra um povo subserviente, um povo que “come e cala”, um povo que permite que a sua língua mude por decreto.

Adriana Silva
Cristiana Loureiro
Sandra Miranda

(alunas da Turma 11.º D da E.S. Barcelos)

fotografia

[Transcrição integral de texto publicado na revista “Amanhecer” (número 30, de Maio de 2013), da Escola Secundária de Barcelos.]

[Imagem da capa da revista: “site” (em acordês) da E.S. Barcelos. Fotografia do texto recebida por email.]

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8 comentários

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  1. Esse acordo foi uma reunião de comadres para ganhar dinheiro.Não serve ao Brasil e muito menos a Portugal. Governos que não respeitam a Constituição e ainda querem massacrar o povo com a sua ignorância

  2. Tanto blá blá blá, falam mal do Brasil mas nem enxergam que o acordo mudou mais para eles do que para nós. Tanta gente a escrever um artigo e não houve uma pessoa sequer que fizesse uma pesquisa decente? E isso saiu numa revista? Sim senhor, parabéns, já temos cadeirinhas garantidas nos empregos. A culpa foi de ambas as partes, mas acho que a parte maior coube-nos a nós. PESQUISEM e encontrem a verdade, antes de postularem inverdades.

  3. Como mudou mais para o Brasil? Perderam o trema de lingüiça?

  4. Não, caro Afonso. O trema já perderam há algum tempo. Aliás, penso que o trema deveria ser obrigatório, pois ajuda imenso os alunos a distinguirem o porquê de, por exemplo, na palavra PORQUE e na palavra LINGUIÇA, como disse, não se lê o U e na palavra Cinquenta já se lê. Mas isso são outros carnavais. O que eu quero dizer é que efetivamente, este acordo até foi pior para os brasileiros. Por exemplo, eles ainda escrevem recepção. Isso só caiu aqui. Escrevem aspecto. Escrevem excepção. Enfim, um sem número de palavras cujas consoantes latinas caíram aqui e só cairão lá por causa do acordo. Portanto, antes de dizerem que somos uns coitadinhos e os brasileiros é que são os maus e são mais fortes e não sei quê, façam uma pesquisa cuidada, e vejam que aqueles senhores que referiram e muito bem no texto é que são os culpados disto.

  5. Contra-senso (contrassenso em neo-BR) :
    Actualmente muitos Portugueses escrevem em neo-brasileiro, e depois dizem orgulhosamente que falam em Português.
    -Como é que é? Escrevem em Brasileiro e falam em Português?
    -Os Portugueses? -Um dos povos mais antigos do mundo??? lolol
    -Meu amigo: só meia-dúzia de páginas na internet, meia-dúzia de jornais e editoras, e 1 canal televisivo continuam a respeitar 1000 anos de História. O resto não. Claro que os professores são obrigados a ensinar neo-BR. Em cada 10, 9 chumbos.

    Em direto na televisão portuguesa: a rececionista do Mótel Para contata Vitor Otávio Batista para próxima atuação no palco Egito.
    Esperam-se mais de 50 espetadores.

  6. Se os cc e os pp se dizem em recepção, excepção, aspecto, electricidade, etc. em todas as línguas latinas, ou em todas as que usam a raiz latina para estas mesmas palavras, porque razão hão-de deixar de ser escritas em Portugal? É vantagem perder consoantes que radicam as palavras às suas origens, ou é mais interessante procurar Egípcio e Egipto em páginas diferentes do dicionário? Os brasileiros ainda (ainda bem, acrescento) escrevem recepção porque pronunciam o P. Em Portugal há muita gente que também pronuncia o P de recepção e o C de afecto, mas agora dizem-lhe que se escrevem como primo de recessão e algo parecido com afta. A teoria do AO90 é a da pronúncia culta (sabe-se lá o que isso é) comandar a escrita. dizem que se escreve como se lê, embora tal seja impossível, pois a leitura só é possível depois da escrita.

    Quanto ao facto de ser pior para os brasileiros porque, coitados, ainda escrevem recepção. Acha mesmo que eles se preocupam como se escreve em Portugal? Na melhor das hipóteses pensam em nós como uns pobres diabos que a recepção chamamos “receção” porque o C só caiu aqui – é esse o ponto fundamental: só caiu aqui. O argumento da unificação deixou-nos a escrever de forma ainda mais diferente!

    Concordo consigo quanto ao uso do trema, porque ajuda sim a distinguir os uu que se pronunciam e os que não. Da mesma forma que as consoantes ditas mudas ajudam a perceber se teto é uma arquiteta é uma glândula mamária de alto gabarito ou se é alguém que se dedica à arquitectura.

    A ortografia não é o mesmo que ortofonia, não depende dos dialectos e sotaques. Querer trocar uma pela outra resultará em que não se tenha nem uma nem outra.

  7. Sim, completamente de acordo, caro Afonso. Por acaso ainda no outro dia o meu avô falou-me desse exemplo do tecto e do teto. Também nunca fui a favor deste acordo, mas não podemos ser tão herméticos e colocar-mo-nos na posição de coitadinhos. Mas claro, este acordo é ridículo. Para todas as partes. Abraços!

  8. Peço desculpa: no meu segundo post referi que na palavra linguiça não se lê o U. Foi uma gralha que me passou. Obviamente que se lê o U nessa palavra. Peço desculpa mais uma vez.

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