Francisco Seixas da Costa vs Octávio dos Santos; um diálogo virtual

logobadge1O que se segue é a transcrição de um “diálogo” (troca de comentários) entre o embaixador Seixas da Costa e o jornalista Octávio dos Santos, a propósito de um artigo de Francisco Miguel Valada no “blog” “Aventar“.

Não vale a pena aventar, nem de propósito, qualquer espécie de considerações prévias; que cada qual tire as suas próprias conclusões (passe a redundância).

brainFrancisco Seixas da Costa diz:
16/06/2013 às 12:31
Caro Francisco Miguel Valada.

O que pretendi dizer, no texto que citou, foram três verdades muito simples:

1. A palavra “facto”, segundo o Acordo Ortográfico, não muda de grafia;

2. Do mesmo modo, a palavra não muda, naturalmente, de pronúncia, porque, como é óbvio, o Acordo tem como objetivo uma aproximação da forma escrita do Português e não qualquer harmonização da pronúncia das palavras;

3. Alguns opositores do Acordo, com evidente má fé, utilizam e estimulam uma confusão propositada entre as palavras “facto” e “fato”, nas suas diferentes grafias e sinónimos entre e dentro das normas portuguesa e brasileira, como meio para combaterem o Acordo.

A circunstância de algumas outras pessoas, qualquer que seja a sua real ou pretendida qualificação, continuarem – por distração, ignorância ou por outra qualquer razão – a laborar neste erro específico não absolve aqueles que, estando bem cientes dos factos referidos em 1 e 2, procedem como se os não conhecessem.

No seu caso, acho muito bem que, pensando o que pensa sobre o Acordo, prossiga a luta contra a sua aplicação. Está no seu pleno direito. Mas, deixe-me que lhe diga, julgo que trava uma “guerra” já perdida, em particular se pensar que, com a esmagadora difusão das novas regras através do ensino oficial, as futuras gerações já só escreverão dessa forma. Concordo consigo em que o atual estado de coisas é bem capaz de semear uma imensa confusão e, no limite, uma indesejável pluralidade gráfica, tudo isto com efeitos na dignidade da língua. Divergimos, estou certo, quanto a quem tem a responsabilidade maior por tudo isto: eu considero que ela recai, essencialmente, em quantos, por um conservantismo cultural arraigado, se barricaram na trincheira anti-Acordo e continuam a reagir à respetiva adoção, prolongando desnecessariamente a coexistência das duas grafias. Mas é um facto que essas pessoas têm o direito de vestir o fato da renitência gráfica, se bem que só o desespero justifique que a defesa da sua tese seja feita, muitas vezes, através de insultos e acusações soezes – atitude que, curiosamente, não vejo surgir do lado de quantos defendem o Acordo.

Cordialmente

Francisco Seixas da Costa

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Octávio dos Santos diz:
17/06/2013 às 19:57
«…Em quantos, por um conservantismo cultural arraigado, se barricaram na trincheira anti-Acordo e continuam a reagir à respetiva (sic) adoção (sic), prolongando desnecessariamente a coexistência das duas grafias…»

Pois é, estes teimosos, estes «chatos» opositores do AO, que se recusam a aceitar algo que é ilegal e inútil, além de aberrante… E que, para mais, representam a maioria da população! De onde é que será que apanharam esta mania de resistir? Até parece que tivemos uma ditadura!

«… Insultos e acusações soezes – atitude que, curiosamente, não vejo surgir do lado de quantos defendem o Acordo.»

Como o Sr. ex-embaixador não vê e eu vejo, aqui está apenas um exemplo que demonstra exactamente o contrário:

http://lampadamagica.blogspot.pt/2013/06/a-diferenca-entre-uma-pessoa-seria-e-o.html

Eu poderia perguntar-lhe, caro Chico, «porque não se cala?» Mas não o faço. Porque quero que continue a falar – a escrever – em «acordês». Para continuar a fazer figuras tristes.

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Francisco Seixas da Costa diz:
17/06/2013 às 21:22
A elegância do estilo do senhor Otávio dos Santos ficou bem demonstrada neste e, principalmente, em comentários que fez em outras sedes, sobre este tema e, se bem me lembro, sobre touradas, reizinhos ou ofícios correlativos. Numa coisa ele tem razão (em alguma havia de ter!): o comentário do defensor do Acordo Ortográfico em vigor é, de facto, lamentável.

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Octávio dos Santos diz:
17/06/2013 às 23:30
As «outras sedes» a que o Sr. ex-embaixador se refere incluem, provavelmente, esta…

http://mil-hafre.blogspot.pt/2010/04/o-nosso-homem-em-paris.html

… e esta…

http://octanas.blogspot.pt/2011/07/observacao-o-frances-e-arcaico.html

… e parecia-me que ele já havia aprendido que «Octávio» continua(rá) a escrever-se com «c». Pelos vistos, ainda não. E as «Novas Oportunidades» que já acabaram!

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Francisco Seixas da Costa diz:
17/06/2013 às 23:40
Nada me dá mais prazer do que poder contribuir para a divulgação de algumas notáveis peças que injustiça cruel dos tempos condenou à escassez de leitura na blogosfera. Não tem nada que agradecer, ora essa!

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Octávio dos Santos diz:
18/06/2013 às 00:25
Não tenho de lhe agradecer… e não agradeço. Mas talvez o fizesse se as suas «peças» não fossem tão… abundantes em erros ortográficos.

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Francisco Seixas da Costa diz:
18/06/2013 às 00:32
Caro correspondente dos Santos: atualmente, procurar detetar erros é um ótimo passatempo para os espetadores da blogosfera. Use o novo prontuário. É um ato de pragmatismo, mesmo se o não considerar de sensatez.

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Octávio dos Santos diz:
18/06/2013 às 01:30
Afinal, vou mesmo agradecer-lhe… por demonstrar, mais uma vez, que eu tenho razão. Em três linhas apenas, em tão poucas palavras… cinco-erros-cinco: «atualmente», «detetar», «ótimo», «espetadores», «ato». O que eu podia fazer com o segundo e o quarto… Bem, ficará para outra ocasião…

… Mas, para já, registo o seu apelo à leitura do prontuário… Ah, estes velhos hábitos, esta nostalgia, esta apetência perene por «livros (vermelhos, verdes, arco-íris) revolucionários» que sejam os guias das massas incultas mas receptivas à liderança dos «educadores do povo»…

… E custa assim tanto escrever «Octávio»? É uma violência insuportável para si? Vá lá, faça um esforço. Vai ver que, se tentar, se insistir o suficiente, irá conseguir! Encare-o como um passatempo… pragmático e sensato!

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Francisco Seixas da Costa diz:
18/06/2013 às 23:17
É bom que se leia o meu post até ao fim. A citação feita escamoteia a defesa que fiz do português no ambito da UE. Vale tudo?

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Octávio dos Santos diz:
19/06/2013 às 14:11
Aparentemente, a defesa que fez então do Português de pouco ou nada valeu… e agora, que no estrangeiro, nas «instâncias multilaterais», se sabe da vergonhosa complacência do Estado português para com a destruição da sua própria ortografia, menos respeito haverá para com as opiniões e posições nacionais. Afinal, que credibilidade merece quem prescinde, voluntariamente, da sua identidade – e dignidade – linguística e cultural? Nenhuma.

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Francisco Seixas da Costa diz:
19/06/2013 às 15:47
Não me consta que, nas instâncias multilaterais, a ortografia portuguesa seja um “issue” discutido. Mas talvez o comentador nos pudesse informarobre esse debate.

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Octávio dos Santos diz:
19/06/2013 às 17:36
Também não me consta que a ortografia portuguesa tenha sido discutida nas instâncias multilaterais… nem foi isso que eu disse. O que eu disse foi que naquelas se SABE o que aconteceu, o que está a acontecer, à nossa maneira de escrever. Nos últimos anos não faltaram notícias em jornais estrangeiros relatando – e até ridicularizando (com razão) – o AO, as suas características e as suas consequências…

… E, se nas instâncias internacionais políticas não há certeza que tal assunto tenha sido discutido (o que até é possível, mesmo que de uma forma… informal), há uma instância internacional cultural em que o «aborto pornortográfico» foi discutido e condenado… por unanimidade: o PEN Club.

https://ilcao.com/?p=7298

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6 comentários

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  1. Gostou?

    1. Quem, eu? Adorei!

  2. Também gostei.

  3. Ninguém consegue nem CONSEGUIRÁ lêr teto, perceção, detetar, ata, para – entre milhares de exemplos.
    Lêr neste acordo é como viajar numa estrada em que temos que imaginar os sinais de trânsito. Temos que ir com mais atenção e esquecer a paisagem e as flores (ou uma boa parte do conteúdo do livro).

    Outra coisa grave é a origem das palavras… porque estes ‘cês’ são descendentes directos do indo-europeu. São milhares de anos… eram! O dicionário deixou de sêr referência e passa a ponto de dúvidas. Porque a base é insegura.

    1990-2013: Semiótica, de filosofia a oculista.

    1990-2013: Da inteligência à estupidez:
    http://www.infopedia.pt/verbos-portugueses/contatar
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Contato_%28livro%29

  4. Deixem-me ver se eu percebi. Esta coisa da dupla grafia traz-me um pouco confundida. Então se eu estou em Portugal devo continuar a escrever Facto porque o C se pronuncia. Se for para o Brasil já posso escrever Fato e não é erro. Então mas não é para unificar a língua? Então se eu for portuguesa e escrever “fato” num qualquer documento internacional já não é erro pois afinal é “a língua portuguesa unificada”. Que “baralhada”!!!!

  5. O embaixador devia ficar mais preocupado em representar bem Portugal, a única vez que li o nome dele foi nesta lamentável defesa. Ele recebe salário do POVO PORTUGUÊS e devia defender os interesses de Portugal. A maioria do Povo não aceita essa negociata chamada acordo.
    Moro no Brasil.

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