Estudantes da FCSH (Universidade Nova de Lisboa) rejeitam o AO90

AEFCSH1

1. Considerando que o ‘Acordo Ortográfico de 1990’ não respeita a origem nem a evolução natural da Língua Portuguesa;
2. Considerando que resulta de iniciativa e decisão políticas, que foram impostas sem discussão pública sobre a questão, quando qualquer alteração linguística deveria partir de especialistas com comprovado voto na matéria, tal como acontece noutros países, em que as possíveis alterações na língua estão sob a responsabilidade de academias ou institutos especializados, nunca sob alçada directa do poder político;
3. Considerando que existem vários pareceres de especialistas que comprovam a incoerência e falta de fundamento científico do ‘Acordo’, que foram ignorados pelo poder político, sendo que o único parecer favorável foi elaborado pelo próprio autor do documento;
4. Considerando que o ‘Acordo Ortográfico de 1990’ não está em vigor, sendo apenas recomendado pela RAR 35/2008 e pela RCM 8/2008, de 25 de Janeiro, resoluções que não têm valor de lei, pelo que não revogam, mantendo assim em vigor, a legislação de 1945;
5. Considerando que o mesmo está a ser imposto em serviços públicos, em particular nas escolas, e, por imitação e falta de esclarecimento, aplicado por instituições, publicações e cidadãos individuais;
6. Considerando o caos ortográfico que está instalado presentemente no nosso país, sobretudo nos meios culturais e de ensino, em que as ortografias pré e pós ‘Acordo’ são utilizadas de forma indiferenciada, sendo cada vez mais frequentes as produções escritas que não respeitam nem uma nem a outra, ou apenas as aplicam parcialmente, seguindo modelos e regras erradas e que não respondem a qualquer norma;

Os estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, reunidos em Reunião Geral de Alunos no dia 23 de Maio de 2013, consideram preocupante o seu conteúdo e a aplicação que dele é feita, sobretudo tendo em conta que é já ensinado nas escolas e imposto em algumas universidades, pelo que, e pelas razões acima enumeradas, votaram a seguinte moção:

Ponto 1: Não-aceitação e recusa da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 pelos alunos da FCSH-UNL, assumindo publicamente essa posição;
Ponto 2: Promoção e divulgação de iniciativas de não ao Acordo, sensibilizando os restantes colegas da FCSH-UNL para a questão e entrando em contacto com outras Associações de Estudantes com quem mantêm relações;

Sendo a moção aprovada integralmente.

Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa,
23 de Maio de 2013.

[Cópia a partir de documento em formato “pdf” publicado na página do grupo “Professores contra o acordo ortográfico” do Facebook. Fotografia de Ana Isabel Buescu.]

[Segundo informação que nos foi enviada por email, esta moção foi aprovada por unanimidade com apenas 2 votos contra (segundo “info” posterior em comentário a este “post”).]

[Esta é a terceira moção de rejeição do AO90 aprovada por associações de estudantes do ensino superior. Antes da AE FCSH (UNL) outro tanto fizeram a AE de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico e a AEIST.]

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11 comentários

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    • Ana Isabel Buescu on 23 Maio, 2013 at 23:29
    • Responder

    Não posso deixar de sentir orgulho nos estudantes da FCSH, na sua coragem, clarividência e empenhamento numa causa que a todos diz respeito. Parabéns! Agora sigam-se outras, para o poder político sentir que não lhe cabe ter nas mãos, nem impor a ninguém, uma “novi-língua” orweliana, que ninguém quis, mas se está a transformar num surdo instrumento de repressão sobretudo em organismos e instituições dependentes do Estado. E como já aqui escrevi há tempos, no que respeita à Língua, e à torpe tentativa de a desvirtuar e violentar, ADVOGO O DIREITO À INSURREIÇÃO.
    Ana Isabel Buescu

  1. Excelente. Parabéns aos estudantes da FCSH.

    “Já foi simplificada” significa que… já foi simplificada. Já está no mínimo. (Muitas pessoas não percebem postulados mesmo que científicos, tendo em conta o Universo das palavras sêr finito; ou o tamanho do dicionário não fugiu à ‘subjetividade’.)

    “Já foi simplificada em 1945” quer dizer:
    JÁ NÃO DÁ PARA TIRAR MAIS NADA.
    A rapariga já não tem roupa desde 1945.
    Se antes de 45 andava com alguns adornos (alguns até eram bem giros),
    em 45 ficou nua!
    Com o ‘novo acordo’: vocês estão a cortar os braços da rapariga. Atrevo-me: a ‘detetala’.

    “Já foi simplificada em 1945.” -Custa muito perceber esta frase?

    • Rui Faustino on 23 Maio, 2013 at 23:58
    • Responder

    EXCELENTE !!

    • Sofia Lisboa on 24 Maio, 2013 at 3:15
    • Responder

    A moção foi aprovada com 2 votos contra e não por unanimidade 🙂

  2. Têm de apostar no Porto, também. Especialmente ali para os lados da FEUP, onde ao que parece é “lei” aplicar-se o dito cujo em trabalhos e afins.

    • Rui Filipe Torres on 24 Maio, 2013 at 8:37
    • Responder

    O que me parece importante é que se desenvolva e operacionalize estratégias coerentes e eficazes para que o Português seja língua de trabalho oficial na ONU. Por acaso, ou melhor, por contexto político, cultural,histórico, social,e religioso, a língua Portuguesa é uma língua criada pelo poder político. Quando da formação da Nação, não existia ainda língua Portuguesa. Todos sabemos que a língua é um corpo vivo, propriedade apropriada pelos seus falantes. Existir uma tentativa de ortografia comum para a língua Portuguesa e para os seus 200 milhões de falantes, pessoalmente, não me parece um erro estratégico na promoção do Português como língua.

    • Maria Miguel on 24 Maio, 2013 at 11:27
    • Responder

    Subscrevo, convicta e alegremente Estudantes e Comentários!
    Aplico duas excelentes letras maiúsculas porque os dois substantivos exigem tal distinção!

    • Ana Isabel Buescu on 24 Maio, 2013 at 12:00
    • Responder

    Olá, Sofia

    Obrigada pela rectificação. Saudações amigas
    Ana Isabel Buescu

  3. Grande aplauso incondicional aos estudantes da FCSH da UNL!
    Confesso que estava um pouco impaciente por que isto viesse a acontecer, pois foi nesta Faculdade que fiz o meu doutoramento, e esta posição dos jovens estudantes enche-me de alegria e até – por que não dizê-lo? – de um certo orgulho.
    Façamos todos força para que outras associações de estudantes lhes sigam o exemplo, tal como já sucedera com a do Técnico, e encham de vergonha, com a sua lúcida juventude, as reitorias que por esse país fora persistem na incongruente adesão a um produto abortivo criminosamente sabotador da integridade linguístico-cultural da língua portuguesa tal como é falada no seu país europeu de origem.

    • Estudante do IST on 25 Maio, 2013 at 15:00
    • Responder

    Não existe tal coisa como “AE de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico”. O Técnico tem uma única AE que é a AEIST.

    1. Nesse caso será talvez de alertar o ou os responsáveis pela página FB https://www.facebook.com/forumcivil e pelo “site” http://forumcivil.ist.utl.pt/ de que não são o que lá dizem expressamente.

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