Tempo de trabalhar mais e perguntar menos

TshirtFVistaPrintLembro-me como se fosse ontem mas já passaram três anos. Ou então poderia também dizer que passaram apenas três anos porque, quando a causa é justa, pode-se lutar por ela a vida inteira. E esta nossa causa é justa. E nobre. E digna.

Neste tempo todo vivi junto dos companheiros e companheiras de luta contra o AO90 momentos inesquecíveis (às vezes bons, outras vezes nem por isso). Já fiquei amiga (para sempre) de alguns deles. Aprendi muito junto deles. Aprendi o significado da palavra coragem no seu sentido mais amplo porque, acreditem, nem sempre foi fácil lidar com o assunto. Ser pioneiros não é nunca fácil, nem também não o é compatibilizar a vida privada com uma tarefa destas dimensões.

Nesta altura já quase toda a gente compreendeu o erro que implica(ria) a aplicação do Acordo nas suas vidas quotidianas e, pior, o roubo que representa(ria) para o património cultural e até identitário de Portugal.

Mas houve um tempo em que não era assim. Houve um tempo em que o povo pensava que nada aconteceria por tirar umas consoantes “mudas”, umas maiúsculas iniciais, uns hífenes…

Felizmente acordaram e estamos a caminho de acabar com algo que nunca tinha que sequer ter começado. Mas, repito, o caminho não foi, nem é, fácil.

Já me desloquei a Lisboa desde a minha cidade, Zamora, com o propósito de fazer uma recolha de assinaturas na rua num fim-de-semana em que o céu da bela Olíssipo decidiu, sem prévio aviso, descarregar a água de todas as nuvens do mundo ali. Já fui ter com o JP todas as vezes em que me foi possível para pensarmos juntos maneiras de a ILC avançar. Até já recebi na minha cidade um JP cansado (a viagem não é confortável) e doente nesta Zamora gelada que os recebeu (a ele e à sua constipação) com 6 graus negativos, mas nem isso o impediu de dar a conferência combinada na Fundação Rei Afonso Henriques e convencer a numerosa audiência, de estudantes espanhóis de Português, da estupidez que o AO90 representa.

Quer dizer, já vivi muita coisa ao longo destes três anos e já vi muito esforço da parte dos companheiros (Rui Valente, Manuela Carneiro, Hermínia Castro, Graça Maciel…) para não sentir imenso orgulho da ILC e de todos eles.

É por isso que, nos últimos tempos tenho assistido com alguma perplexidade à insistente exigência de informação o respeito do número de assinaturas de que a ILC dispõe. E digo perplexidade, para não dizer incredulidade porque, curiosamente, as insistências costumam vir de pessoas que pouco ou nada (salvo, se calhar, com um bocado de sorte, se tiverem assinado a ILC) fizeram por ela.

Nunca ouvi nenhum dos meus companheiros perguntar ao João Pedro pelo número de assinaturas como nunca os vi deixar de trabalhar no duro para conseguir mais, sempre mais. O João Pedro Graça tem a enorme obrigação de fazer de guardião das assinaturas uma vez que foi o primeiro subscritor da ILC e ficou responsável pela dele e por todas as que chegariam a seguir. E, acreditem na minha palavra, não haverá no mundo pessoa que cuide delas com mais dedicação. O mesmo não posso dizer de outras pessoas que reconheceram publicamente ter no seu poder assinaturas que não chegaram nunca às mãos do representante legal da ILC. Será que as perguntas sobre o número de assinaturas vêm precisamente dessas pessoas? Seria o cúmulo do descaramento. Mas, reconheço, já vi tanta coisa diferente nisto que também não me surpreenderia nada.

Eu, que infelizmente não posso assiná-la pelo facto de ser estrangeira mas que estou quase desde o início (o JPG que me corrija se estou errada) no grupo de pessoas que trabalham nela, nunca perguntei o número atingido até à data porque compreendo perfeitamente as razões para a sua não divulgação: se o número for ainda escasso, poderia ser utilizado contra a causa mas, se o número andar perto do necessário, poderia ser desmobilizador porque já sabemos como costumam (não) agir as pessoas quando acham que “já está quase”.

Não, não sei, nem quero saber, o número de assinaturas de que dispomos. Sei é que graças à ILC o debate está na rua, que as pessoas abriram os olhos quanto ao problema e que o assunto chegou finalmente até à AR, onde os diferentes grupos políticos com representação parlamentar estão a trabalhar para tomar a decisão pensada que na altura não se tomou com o devido interesse e com toda a informação e dedicação que o assunto merecia.

A Língua Portuguesa merece esse debate, merece que os prós e os contras sejam ouvidos, que não se defendam os interesses económicos (ou até de egos insatisfeitos) de uns poucos mas os interesses culturais e educacionais de um povo inteiro.

Desde o meu cantinho, desde este “exílio emocional” que é não pertencer a Portugal mas com o imenso amor que sinto por esse maravilhoso rectângulo à beira mar plantado, digo-vos: Não teimem em fazer perguntas estéreis que não conduzem a parte nenhuma e trabalhem em prol da ILC, façam proselitismo, chateiem à família/amigos/vizinhos/colegas… Façam alguma coisa de jeito para atingirmos quanto antes as 35.000 assinaturas e podermos assim ter orgulho num imenso trabalho colectivo, em ter colaborado nele de maneira positiva em lugar de andar por aí com suspeitas que não têm razão de ser.

O dia em que as assinaturas atingirem o número necessário (e que afinal terão que ser mais das 35.000 porque há sempre subscrições inválidas por diversos motivos) não tenham dúvidas que o companheiro JPG será o primeiro a informar.

Até esse dia… vamos trabalhar contra a desídia de uns e o oportunismo de outros.

Rocío Ramos

Print Friendly, PDF & Email
Share

Link permanente para este artigo: https://ilcao.com/2013/04/08/tempo-de-trabalhar-mais-e-perguntar-menos/

4 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Grande Rocío, deixaste-me emocionada.
    Possam os portugueses pôr os olhos em ti e no teu testemunho e possam eles ter, também, a tua combatividade e paixão pela Língua Portuguesa.

    • Hugo X. Paiva on 8 Abril, 2013 at 21:18
    • Responder

    Os pai’ses que de lingua portuguesa,uns mais do que outros, estao em divida para com a sua propria lingua. Os seus cidadaos,entre palermas, traidores, vendidos e gente de etica e boa fe’, estao todos em divida para com a Sra. Rocio.
    A Sra. Rocio nao ficou a’ espera de ver para onde se inclinavam as tendencias, para, desde Zamora, sair a’ rua em defesa da lingua portuguesa.
    Bem haja a Sra. Rocio Ramos

  2. Obrigado, Rocío Ramos, pelo seu corajoso empenho na defesa da Língua Portuguesa! Também eu não sei, nem quero saber, o número de assinaturas de que dispomos. Assinei e assinarei tudo o que aparecer contra esta trapaça, esta ignomínia chamada Acordo Ortográfico.

  3. Esse é o espírito, José

    Obrigada a você, ao Hugo do comentário anterior e a todas as pessoas que de boa fé apoiam à ILC.

    Juntos podemos! 🙂

Responder a Rocío Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.