Carta aberta ao P.R., à A.R. e ao P.-M. [por Dulce Rodrigues]

meuselonAO1CARTA-ABERTA

À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E PRIMEIRO-MINISTRO

Em defesa da língua-mãe portuguesa – o português de Portugal

Estas minhas reflexões contra o chamado “Acordo Ortográfico” em nada põem em causa o meu respeito e consideração pelo povo brasileiro, pelo qual sinto admiração e afecto. Mas, não é por isso que aceito e estou de acordo com a uniformização irracional e utópica da língua portuguesa sob a bandeira e égide do Brasil – possivelmente o país da lusofonia onde se fala e escreve pior o português!

O português foi levado para o Brasil pelos Portugueses, não foram os Brasileiros que o introduziram em Portugal. A língua-mãe é o português de Portugal, não o português do Brasil. Nenhum país europeu que tenha espalhado a sua língua pelo mundo abdicaria alguma vez da sua soberania a nível do ensino da mesma. Só um povo subserviente como o povo português, perante tudo o que vem do estrangeiro, pode permitir tal acto!

O inglês também é diferente consoante é falado e escrito no Reino Unido ou nos Estados Unidos e noutros países de expressão inglesa, contudo, não deixa de ser o idioma do Reino Unido o mais usado como referência internacional, e é o inglês do Reino Unido que é ensinado no British Council. O inglês foi levado pelos Ingleses para os Estados Unidos, não o inverso. O Reino Unido é o depositário da língua-mãe inglesa, ao mesmo título que a França é a depositária da língua-mãe francesa, a Alemanha da língua alemã, não a Suíça ou a Áustria.

O português é uma língua latina. O latim, ao misturar-se com as línguas autóctones, evoluiu (na realidade, involuiu, pois a nível do latim houve uma degradação devida ao iletrismo dos soldados romanos que difundiram o latim pelos territórios conquistados e ao analfabetismo dos povos conquistados que o assimilaram) para dar línguas diferentes – as línguas românicas e, no caso específico que nos interessa, o português. Também a variante brasileira acabará inevitavelmente por evoluir para uma língua distinta da língua portuguesa. E isto, por mais acordos linguísticos que se estabeleçam. A chamada “evolução” de uma língua deve-se, na realidade, a um processo originado pelo iletrismo e pela ignorância.

Aristóteles chamou “gramma” à unidade básica da linguagem, na qual incluía a fonética e a escrita. A gramática é diferente, a fonética é diferente, a ortografia tem de ser, inevitavelmente, diferente nas duas variantes, portuguesa e brasileira. A escrita não pode ser desassociada da fonética, do mesmo modo que esta não pode ser isolada do pensamento. Uma transcrição em alfabeto fonético das variantes portuguesa e brasileira mostrar-nos-á facilmente a diferença.

Ou será que nós, Portugueses, vamos ser obrigados a mudar também a nossa fonética – do mesmo modo que nos querem obrigar a mudar a grafia – para ficarmos em sintonia com o Brasil e o seu “Acordo Ortográfico”?

Vamos passar a dizer Antônio, cromossônico, atômico, crônicas e por aí adiante, passando as palavras esdrúxulas com a tónica “o” aberta a ser pronunciadas como se a vogal fosse fechada?

Passaremos a abrir sempre a vogal “a”, quer ela seja aberta ou fechada, para pronunciarmos e escrevermos à brasileira, como na frase “está chegando à hora”, em que não se sabe se é no sentido de se “chegar a horas=chegar a tempo de” ou “chegar a hora=chegar a ocasião de”? Ou, noutro exemplo “… com produtos à partir de…”?

Já que foi “aceito” pelos Portugueses este belo exemplo de acordo ortográfico, por que não passarmos a dizer também “gostaria de convidar-lhe” em vez de “gostaria de convidá-lo” (ah! o uso das formas pronominais enclíticas parece não ser fácil para toda a gente), “Venha! Estaremos te esperando?” E o mesmo se passa em “veja e partilha dicas”. Exemplos destes, em que na mesma frase se trata o interlocutor por tu e também por você, consoante a forma verbal mais fácil, seriam infindáveis.

Já agora, poderíamos dizer também “papai Noël” em vez de “Pai Natal”, “marrom” em vez de “castanho”, “óleo de oliva” em vez de “azeite”, e até mesmo “azeite de oliva” (como se “azeite” não significasse por si só, exactamente, o óleo extraído da “oliva”=azeitona); “életron” em vez de “electrão”, “próton” em vez de “protão”, “trilhão” em vez de “trilião”, e passo adiante; vamos passar a fazer uma “enquete” em vez de “inquérito”, “deletar” (por um pouco era deleitar…) em vez de “apagar” ou “eliminar”? Sem falar em que o “fato” passará a ser “terno” (que ternura…), pois “de fato, o melhor é o fato ser de fato um terno ou acaba por ser difícil de vestir”; e se “você para para ver se no fim do ato ato as fivelas dos sapatos e ele passa a mão pelo pelo do cão”, é melhor não pensar nisso ou então fica todo baralhado sem saber de fato qual o pelo e ato em questão, mesmo quando para para pensar . Até sinto um “frissom” perante tanto disparate e ignorância!

Temos ainda o “Egito”, o mesmo país a que os Portugueses costumavam chamar “Egipto”. E pergunto-me se vamos passar a dizer “Egícios” em vez de “Egípcios”? Já agora, poupávamos mais uma letra, como também em “suntuoso” e outras barbaridades linguísticas do género.

Pergunto também: as frases “para o carro” e “andamos depressa e ainda apanhamos o autocarro” o que querem dizer? Segundo, o novo acordo, não podemos saber exactamente, pois ambas podem ter dois sentidos completamente diferentes. A primeira tanto pode ser uma ordem para parar o carro (pára o carro), como uma ordem para se ir para o carro (para o carro). Quanto à segunda, tanto pode ser uma acção que se passou no passado (andámos depressa e ainda apanhámos o autocarro), como uma acção presente e futura (andamos depressa e ainda apanhamos o autocarro).

Para aqueles defensores do acordo que alegarem que o sentido se deduz pelo contexto em que as frases estão inseridas, responderei que os papagaios também sabem usar palavras e frases.dentro do contexto correcto, mas não é por isso que sabem falar uma língua.

E agora que temos uma mulher a presidir à Assembleia da República, será que vamos passar a dizer “Presidenta”, como no Brasil?

Estes exemplos são “de fato” para rir, mas penso que chegam para mostrar o ridículo da situação. Perante tantos erros que ouvimos pela boca dos nossos políticos e jornalistas, sem falar dos nossos universitários, claro que mais disparate, menos disparate de acordo ortográfico, possivelmente, acaba por não fazer grande diferença…

Um “aborto” ortográfico como este só pode ter acontecido porque o mesmo foi “fruto de um longo trabalho da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa” (citação tirada do Portal da Língua Portuguesa). Apesar da muita consideração que me inspiram os membros da Academia das Ciências de Lisboa, permito-me pôr em dúvida a competência que têm para tomar parte neste processo cujo resultado está à vista.

Quanto aos linguistas portugueses que tenham participado neste processo chamado “Acordo Ortográfico”, então certamente tiraram o curso do mesmo modo que o nosso ex-primeiro ministro se licenciou em engenharia. Um “aborto” ortográfico como este só pode servir interesses obscuros, em circunstância alguma a língua portuguesa.

Quanto aos representantes do Brasil, compreende-se que tenham querido impor a sua variante brasileira como língua normativa. Os Brasileiros estão de tal modo habituados a que os Portugueses deixem nas suas mãos todas as representações internacionais da língua portuguesa (praticamente todas asseguradas pelo Brasil ) que estranhariam se, pelo menos uma vez, os Portugueses abdicassem dessa sua subserviência numa questão de tão alta importância para a língua portuguesa. Um assassínio como este da língua portuguesa só pode acontecer porque os Portugueses têm deixado desde há alguns decénios que seja o Brasil o representante da língua portuguesa no mundo, facto que é facilmente verificável.

Já os anteriores acordos foram outros tantos abortos ortográficos – que o nosso grande poeta Fernando Pessoa se recusou sempre a seguir e que, curiosamente, os Brasileiros também não puseram em prática. Agora, contudo, querem impor estas novas regras, não menos aberrantes. Se os nossos governantes pensam que com este novo acordo tornam a língua portuguesa mais acessível a estrangeiros e de maior impacto no mundo, desenganem-se. Línguas germânicas como o inglês e latinas como o francês têm conservado o mais possível a etimologia das palavras; não “evoluíram” como o português porque o seu nível educacional é muito superior ao do povo português. Ao procedermos no sentido inverso em relação à língua portuguesa, esta tornar-se-á mais difícil para os estrangeiros e mesmo para os próprios Portugueses. Não é por acaso que a procura do ensino da língua portuguesa já baixou em cerca de 25%, e continuará a descer.

Por outro lado, não é baixando o nível linguístico do português que o tornamos de maior interesse para os outros. As pessoas gostam de se elevar, não o contrário. Com este acordo ortográfico estamos a condenar a língua portuguesa que, de língua literária das mais antigas da Europa, passará ao nível de um dialecto. Já basta o deficiente grau de aprendizagem e consequente degradação da língua portuguesa que existe actualmente em Portugal; não a rebaixemos ainda mais. Duas das línguas consideradas mais difíceis são o finlandês e o japonês, contudo, são países onde as capacidades na leitura e na escrita são das mais elevadas.

Baixar o nível literário de uma língua não facilita a sua aprendizagem, bem pelo contrário. Só regras bem definidas e claras poderão assegurar o sucesso de qualquer acto, seja ele do fórum da escrita, da leitura ou da informática. E a linguagem informática veio mesmo confirmar que as regras são para seguir, pois uma vírgula, um ponto final, um ponto e vírgula ou outro sinal serão o suficiente para que nada funcione se forem mal colocados.

Também na linguagem escrita, igualmente uma vírgula muda todo o sentido da frase. Dou como por exemplo “Não queremos saber” e “Não, queremos saber”. O sentido das duas frases é radicalmente oposto pelo simples facto de se usar uma vírgula. Mas com a linguagem oral e escrita o problema torna-se ainda mais delicado, pois temos de considerar, além disso, o seu aspecto subjectivo. Deveria haver novo acordo, sim, mas para repor alguns acentos e mesmo consoantes que foram retirados quando do anterior. Tanto mais que essas consoantes se pronunciam em Portugal, como Egipto ou actividade, ou estão lá por alguma razão, como acção.

Não é pelo número de falantes que uma língua se torna importante no mundo. O francês, com os seus quase 70 milhões de falantes, e o italiano, com pouco mais de 60 milhões, são línguas muito mais importantes no contexto internacional do que o português com os seus 240 milhões de falantes.

O que dá prestígio a um país e à sua língua é a postura do seu povo e dos seus governantes, e quando estes não se respeitam a si próprios nem valorizam a sua própria cultura – da qual a língua faz parte integrante – esse país não merece a consideração dos outros povos, logo, a aprendizagem da sua língua não tem interesse. A baixa mencionada acima, de mais de 25%, que se registou na procura do ensino da língua portuguesa por estrangeiros, é uma evidência.

Quem esfrega as mãos de contente com este acordo ortográfico absurdo são certas editoras portuguesas e brasileiras que vêem nele uma mina de ouro. Quantos milhões de euros vão ser deitados ao lixo com o novo acordo? E quantos milhões vão ser precisos para editar novos livros e implementar esta aberração ortográfica?

Só posso desejar que o Senhor Presidente da República, a Assembleia da República e o governo português – a quem estou a enviar este texto em carta-aberta – reconsiderem esta vergonha nacional que se chama “Acordo Ortográfico” e o anulem.

NOTA: Veja este artigo e outros de interesse nacional e internacional em www.dulcerodrigues.info (sítio pessoal da escritora Dulce Rodrigues)

[Texto recebido por email, da autora, com sugestão de publicação.]

[Nota: apesar de publicado há já uns meses, este texto mantém-se perfeitamente actual e julgamos ser oportuno divulgar todas as “cartas abertas” com os mesmos fins ou, ao menos, aquelas que aliam um mínimo de inteligibilidade ao facto de realmente reflectirem o sentir da chamada “sociedade civil”. Por estas razões nos decidimos pela divulgação, a título excepcional, com os nossos cumprimentos à autora.]

[Texto originalmente publicado no “blog” Meu Portugal, Minha Lisboa.]

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10 comentários

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    • Maria Oliveira on 10 Fevereiro, 2013 at 22:31
    • Responder

    Bravo! Bravo! Bravo!

  1. Muito verdade. Sem papas na língua.
    Cumpts.

  2. Pois eu digo mais: o Latim veio do Português. Já tenho esta pequena tese escrita à 2 anos:
    http://sites.google.com/site/incasumer/portugal

    Espero que ajude a todos os Portugueses, e para os cépticos: há pouco tempo deparei-me com esta página: http://en.wikipedia.org/wiki/Lusitanian_language

    Nós temos que voltar a sêr um grande povo.

    Abraço,
    Márcio Castro.

  3. Muito bom. Destaque para “Línguas germânicas como o inglês e latinas como o francês têm conservado o mais possível a etimologia das palavras; não “evoluíram” como o português porque o seu nível educacional é muito superior ao do povo português.”

    Não só educacional como de cultura política. Curiosamente, também em 1990 (coincidência das coincidências), a academia francesa emanou uma “rectificação ortográfica”. Elimina alguns acentos, acrescenta outras coisas e faz mais umas coisinhas, mas porque segundo eles existiam incongruências. Porém, note-se o respeito que os franceses têm pela etimologia quando essa rectificação propõe que “nénuphar” passe a “nénufar” não porque o “ph” lhes seja algo arcaico mas porque a palavra é de origem árabe e não greco-latina. Seja como for, em França nunca foi algo forçado por legislação. Não me pronuncio sobre elas em concreto porque não tenho grandes conhecimentos de francês, mas hoje a maioria dos franceses não aplica essas recomendações e na grande maioria dos escritos, incluindo livros escolares, “plaît” está lá com acento circunflexo, para dar um exemplo de uma palavra que sofreria alteração. Destaco, recomendações. Na Suíça francófona enviaram panfletos para as caixas de correio a informar do assunto, salientando, no entanto, que não era algo obrigatório, porque o estado não se deve meter na língua! Enfim, um exemplo muito bom para se constatar a pequenez de pensamento de uma parte das população portuguesa.

    Já vi o céu muito mais cinzento e já volto a ver o Sol ocasionalmente, mas sempre com precaução e não dando seja o que for por certo. Continuem, eu acredito!

    • Jorge Teixeira on 11 Fevereiro, 2013 at 16:13
    • Responder

    A Academia das Ciências de Lisboa é uma agremiação que não faço ideia o que representa. Os frutos do seu “trabalho” vão desde o absolutamente ridículo, como os conselhos para que se diga “Devónia” e não “Devonshire”, se trate Filadélfia no feminino (“a Filadélfia”) e dislates do mesmo teor, ao absolutamente pernicioso, como a eliminação dos acentos acentos circunflexos e dos acentos graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo mente e com os sufixos iniciados por z, ao absolutamente péssimo, absolutamente ignorante, absolutamente monstruoso, absolutamente analfabeto, “acordo ortográfico” de 1990.

    Os produtos classificam o produtor. Que se encerre a Academia das “Ciências” de Lisboa.

    • José on 11 Fevereiro, 2013 at 19:06
    • Responder

    Subscrevo por inteiro esta ‘carta aberta’ dirigida às altas instâncias da República. Não acrescento das Bananas por respeito a algumas individualidades que, contra a evolução natural das espécies que ali habitam, ainda apresentam coluna vertebral. E cabeça. Já tudo, ou quase tudo, foi dito sobre este enorme monstro que acode por Acordo, mas a que a maioria dos cidadãos chama Aborto. Oxalá fique na memória colectiva como Nado-morto.
    Dulce Rodrigues tem razão ao afirmar que o Brasil é “possivelmente o país da lusofonia onde se fala e escreve pior o português!” Só um surdo pode dizer o contrário. Ou um cego como o pobre Nacib, incrédulo perante a sentença lançada sobre a sua cabeça: “Tu é corno, Nacib!”… E não é somente no estado da Bahia que o Português é atropelado. Um pouco por todo o país, nas ruas, em jornais, rádios e televisões podemos testemunhar coisas do género: “Novo premiê líbio promete priorizar segurança” (Reuters); “Premiê da Holanda tenta formar coalizão” (Estadão); “Premiê canadense vai ao banheiro e só volta com exigência atendida” (título de ‘Folha de S. Paulo”…
    Esperemos que o nosso “premiê” endireite a coluna, limpe os ouvidos e abra os olhos para esta realidade.

    • Jorge F. on 12 Fevereiro, 2013 at 0:15
    • Responder

    Parabéns pela frontalidade. Subscrevo inteiramente.

    • Carina on 14 Fevereiro, 2013 at 7:17
    • Responder

    Sempre achei que, tratando-se de nomes de linguas, se devia escrever Ingles, Frances, Portugues, etc., com letra maiscula, e os portugueses, ingleses, povo frances, etc. em minusculas, nao o contrario… Estarei enganada?

    • Zahiruddinbabur on 18 Fevereiro, 2013 at 18:25
    • Responder

    Carina: a mim ensinaram-me ao contrário (incluindo a minha mãe, professora de Português), mas nunca o vi escrito em nenhuma gramática, por isso não posso garantir ser alguma regra ou apenas “recomendação”, para usar o bom termo de SH.

    Jorge Teixeira: “Devónia”, tal como a própria “Londres”, “Nova Iorque”, “Florença”, etc. são aportuguesamentos, claro, alguns mantendo-se absolutamente generalizados, outros apenas caídos no mais completo abandono (ainda me lembro de um mapa-mundo da minha infância onde vinha “Lião” em vez de “Lyon”). O que quero dizer é que “Devónia” ou “Filadélfia” não me parecem incorrectos, apesar de abstruzos ou arcaicos, pelo que recomendar o seu uso não será erróneo, apenas, digamos… do tempo de Darwin e da sua teoria dos dinossauros (para ser ligeiramente simpático, e para que quem leia este comentário esprema as meninges em busca da analogia, não digo “jurássico”… bolas já disse).

    José: devemos rejeitar relativismos, mas também complexos de superioridade ou inferioridade. Apesar de sermos os falantes originais de Português, não somos donos da língua. Não temos mais direitos que os demais por falarmos português há mais tempo, mas claro que também não temos menos. Onde queria chegar era aqui: custa-me dizer que os brasileiros são quem fala o pior português. Parece-me algo arrogante e promover “concursos” de melhores ou piores falantes. Fala-se péssimo português em muitíssimos sítios do Brasil, sim, incluindo provavelmente jornais ou outros media (ou mídia, como se diz por lá), mas mais por ignorância, falta de cultura ou de educação do que outra coisa. Decerto que todos já viram videos youtubescos gozando com o português dos pobres dos angolanos ou moçambicanos? Falarão eles pior português que os brasileiros, ou melhor? Como o medir? Faz-me mais sentido medir o grau de maior ou menor instrução de cada um dos povos, ou o seu grau de penetração no próprio país face a outras línguas oficiais ou não (as imensas que se falam em Angola, p.e., não sendo o Português muito mais que lingua franca)… enfim, há imensas variáveis que é necessário ter em conta. Ah, e a taxa de alfabetização pode ser bem maior em Portugal, mas nem por isso se deixa de testemunhar monumentais asneiras ao estilo do famoso site “Portugal no seu melhor” ou de qualquer reportagem televisiva onde se entreviste “o povo”, sobretudo em zonas rurais (como é natural).
    Não sei se ao fim de todo este arrazoado consegui ser inteligível, mas estou aberto a rebates ou remoques: mais que tudo, pretendo abrir um espaço de discussão! (se o moderador do blog deixar, claro!)

  4. Ao autor do comentário #6,
    O texto da ilustre Dulce Rodrigues eu considero ácido, porém legítimo, visto que ela procurou expor sua opinião sem transgredir a fronteira do respeito, porque é perfeitamente legítimo aos portugueses procurarem preservar sua língua pátria de influências externas.
    Ocorre que o TEU comentário me faz desejar que o Brasil realmente abandone o português aos portugueses e a quem mais da CPLP o queira.
    Acompanho os comentários deste sítio com grande admiração aos lusitanos e à causa que o sítio defende. Também tenho admirado o cuidado que os lusos têm ao evitar externalizar chauvinismo e xenofobia, cuidado que os brasileiros infelizmente não têm com seus irmãos paraguaios, argentinos, bolivianos etc.
    Se eu vir neste sítio mais referências como “bananas” e “invertebrados”, vou achar que este José não é a exceção e os portugueses não têm muito da urbanidade pela qual são famosos os europeus.
    Parabenizo mais uma vez pela iniciativa da ILC. Quisera que aqui no Brasil houvesse o mesmo.

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