Perguntas ao Governo [por deputados] (1)

PERGUNTA AO GOVERNO

Destinatário: Primeiro-Ministro
Assunto: Rejeição do famigerado Acordo Ortográfico

Senhora Presidente da Assembleia da República

Excelência:

Está cada vez mais generalizada a rejeição do famigerado Acordo Ortográfico (AO). Nos meios cultos, o dito AO é mesmo objecto de mofa — estendido aos responsáveis políticos, que não tomam a peito questão tão delicada, roçando a própria identidade nacional.

Interesses económicos poderosos pressionaram no sentido da imediata aplicação de um tratado internacional que nem sequer está em vigor, por falta de condições nele expressas para tal, nomeadamente a elaboração e aprovação de um vocabulário ortográfico comum.

De resto, alguns dos subscritores do AO, Angola e Moçambique, concretamente, já declararam considerar o mesmo em pousio, invocando, para vergonha dos nossos responsáveis, o empenho na salvaguarda da genuinidade da língua portuguesa…

A nefasta situação, fruto da incúria socratiana, é mantida pelo Governo em funções, que tarda em agir no sentido devido, e nem sequer responde às críticas e apelos constantes das nossas anteriores intervenções sobre a matéria, das quais recebemos eco entusiástico por parte de inúmeros professores de Português e outras gentes de cultura.

Nas palavras de um laureado escritor, Vasco Graça Moura, com artigo publicado no DN de anteontem: “Estão a ser aplicadas não uma (como pretendia o AO, acrescentamos nós) mas três grafias da língua portuguesa — a correcta, em países como Angola e Moçambique, a brasileira (no Brasil) e a pateta (em Portugal e não se sabe em que outras paragens)”.

Nestes termos, os Deputados do PSD eleitos pela Região Autónoma dos Açores, ao abrigo das disposições aplicáveis da Constituição e do Regimento formulam ao Governo, através do Primeiro-Ministro, as perguntas seguintes:

a) Por que razão não respondeu o Governo às nossas anteriores perguntas sobre o AO (Perguntas n.° 1858/XII/1.ª e n.° 2240/XII/1.ª)?

b) Como avalia o Governo o caos linguístico que se está instalando em Portugal, susceptível de confundir a geração que frequenta as escolas e degenerar mesmo em prejuízo irrecuperável da nossa língua materna?

c) Já encontrou o Governo alguma vantagem prática, em termos de impulso às exportações de livros para o Brasil, por exemplo, da apressada e insana imposição do AO pelo anterior Executivo?

d) Sendo crescente o número, de pessoas que expressamente se recusam a usar a grafia do AO, porque insiste o Governo em aplicá-la nas publicações oficiais, em vez de determinar a suspensão imediata do dito AO?

e) Tem o Governo em preparação alguma edição dos clássicos da nossa língua na desaforada grafia do AO e vai mesmo levá-la por diante ou travá-la, com esclarecida prudência?

Lisboa e Sala das Sessões, 23 de Novembro de 2012

Os Deputados do PSD/Açores
João Bosco Mota Amaral
Joaquim Ponte
Lídia Bulcão

Perguntas ao Primeiro-Ministro submetidas pelos deputados do grupo parlamentar do PSD, fornecidas pelos próprios deputados subscritores.

[Nota (1): esta “Pergunta ao Governo” foi apresentada na passada 6.ª Feira, 23 de Novembro; publicamos seguidamente, por ordem cronológica, as três “perguntas ao Governo” anteriormente apresentadas sobre o AO90, em Janeiro, Fevereiro e Abril do ano corrente.]

Print Friendly, PDF & Email
Share

Link permanente para este artigo: https://ilcao.com/2012/11/26/perguntas-ao-governo-por-deputados-1/

13 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Governo sem vergonha, sem responder aos deputados, e deputados a colherem o que semearam décadas a fio: não se darem ao, nem se apresentarem credores de respeito.
    E eu a ter de os gramar, mai-la desgraça pegada que me arranjam.
    Cumpts.

    • Hugo X. Paiva on 27 Novembro, 2012 at 19:11
    • Responder

    Eu não sabia que o regimento permite ignorar as perguntas dos deputados. Nem isso nem entendo o que quer o Lynce dizer com:no sentido de diagnosticar “constrangimentos e estrangulamentos na aplicação” do A090 e de desenvolver ações para a “apresentação de uma proposta de ajustamento” do A090.No Brasil ter-se-ia dito:conversa para boi dormir.

    • Ana Isabel Buescu on 27 Novembro, 2012 at 22:26
    • Responder

    Louvemos a coragem – sim, coragem – destes três deputados em não deixarem cair um tema fulcral da identidade de qualquer povo, que é a sua identidade linguística – de que a ortografia também faz parte – a que se chegou depois de um processo a todos os títulos vergonhoso. Não interessa se são do partido a b ou c, são cidadãos que, em sede própria, não deixam cair uma questão que a todos diz respeito, e que lançou a Língua Portuguesa no verdadeiro caos ortográfico.No que diz respeito à nossa língua, advogo o inalienável direito à insurreição!

    • Hugo X. Paiva on 27 Novembro, 2012 at 23:06
    • Responder

    Ao seviço de quem andará a mairoria omnipartidária que, em Portugal, votou a “coisa”?

    Para quem ainda tem ilusões:

    http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=155:uma-lingua-brasileira&catid=45:blog&Itemid=1

  2. Nada de enganos. Eu louvo-lhes a coragem. A estes três, ao Bota, ao Assis, a outros que para lá haja e, talvez, em tempos, ao Coelho candidato — este que agora, mandante, não responde nem quere saber –, todos por serem tão contra esta desgraça como eu.
    O que me custa é que deputados (do Coelho já nem digo nada)… que deputados assim, com assento e mandato em S. Bento, não submetam eles à câmara proposta de lei que atalhe esta demência. Custa isso mais, bem mais, do que as penas e os cuidados em que me diariamente vejo. São anos de vida, as questiúnculas, os desaguisados e as agruras com gente com quem jamais haveria contender. E uma úlcera nervosa para contar ao médico…
    Porquê? Por uns patacos em dicionários e por gravarem o Bichara o Malaca o nome nos anais da asneira?

    • Hugo X. Paiva on 28 Novembro, 2012 at 1:11
    • Responder

    Asneira e grossa. (mais uma para a colecção)

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120229_ivan_lessa_rw.shtml

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090119_ivanlessa_tp.shtml

    textos do recém falecido Ivan Lessa.
    Paz ao indomável,como lhe chamou a Dilma.

    • Hugo X. Paiva on 28 Novembro, 2012 at 1:41
    • Responder

    75 x 10 000 000 = 750 000 000 (reais)

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110218_ivanlessa_tp.shtml

    E queixa-se o Cesário que só tem 950.000,(euros) era só rasgar umas paginas e já estava.

    • J.Gervasio on 28 Novembro, 2012 at 14:58
    • Responder

    O importante, o fundamental, o central é o que o Bic escreveu: porque é que estes senhores, escrevinhadores de cartas e perguntas, não propõem ao plenário a suspensão do AO? Porquê? Têm medo de quê?

    O problema do AO em Portugal tem origem no lugar que, ao mesmo tempo, é o único em que ele pode ser resolvido O PARLAMENTO PORTUGUÊS.

    Sair deste ponto, desviar disto, vir com conversetas ao lado que metem outras pessoas ou países, é estar ingenuamente a fazer favores a quem? ACORDAI ! Deixem de ser pategos.

    1. Caro @J.Gervasio,

      Existe uma forma extremamente simples de colocar essa questão (ou questões) aos próprios deputados. Por exemplo, ao senhor deputado Mota Amaral: http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/EmailDeputado.aspx?BID=390

      Cumprimentos.

    • Maria José Abranches on 29 Novembro, 2012 at 15:48
    • Responder

    Caro Hugo X. Paiva: obrigada pelos “links”, muito elucidativos! Aconselho também a visita a quem ainda tem dúvidas sobre a fantochada da “evolução” e da “uniformização da língua portuguesa”!

    • Maria Miguel on 29 Novembro, 2012 at 21:29
    • Responder

    Passemos à acção!
    É o que subscrevo.
    Cumprimentos.

  3. A unidade faz a força, e água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
    Voltei a enviar mais uma mensagem de apoio e incentivo aos deputados Mota Amaral, Lídia Bulcão e Joaquim Ponte.

    • Maria Miguel on 2 Dezembro, 2012 at 18:06
    • Responder

    Bem haja, Sr. António Macedo!

Responder a António de Macedo Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.