«Sou espanhola e sou contra o AO90» [Rocío Ramos, “Público”, 07.09.12]

Devo começar por dizer que duvidei na hora de enviar este texto. No fim de contas, sou espanhola e alguns portugueses poderiam levar a mal uma estrangeira vir cá opinar sobre aquilo que não lhe diz respeito. Depois pensei melhor e concluí que poderia enviá-lo porque se frequentei a Escola de Línguas da minha cidade (Zamora) durante cinco anos a estudar Português, se há 10 anos costumo tirar todas as minhas férias e fins-de-semana alongados nesse país vizinho, se nos últimos cinco anos li apenas dois livros na minha língua materna mas dúzias e dúzias deles em Língua portuguesa, se não perco um curso, workshop, festival de fados ou qualquer outro evento organizado pela Fundação Rei Afonso Henriques em Zamora com o fim de aprofundar o meu conhecimento da cultura portuguesa, se visito cada dia o site do PÚBLICO (obrigada pela vossa resistência em aderir ao AO, que me permite informar-me em Português correcto) e se a tudo isso acrescentarmos o meu profundo amor por Portugal, determinei que o Português faz parte da minha cultura e até da minha vida e que sim, tenho alguma coisa a dizer. E rogo-lhes que me permitam dizê-lo sem se ofenderem porque é por respeito e afecto que escrevo.

Sou contra o mal chamado AO (porque nem é acordo nem é apenas ortográfico), em primeiro lugar porque defendo as diferenças. No meu país convivem várias línguas oficiais (castelhano, galego, basco, catalão e valenciano) e, excepção feita a políticos interessados em enfrentar as pessoas na procura de uns votos aqui e acolá e entreter o pessoal com tolices, isso não nos causa problema nenhum mas, pelo contrário, enriquece o nosso património cultural.

Quando falo com colegas, amigos ou familiares sobre o AO da Língua Portuguesa, eles ficam admirados. Não percebem e dizem que eles nunca permitiriam uma coisa dessas aqui. Não percebem e embora a maioria se esteja nas tintas (infelizmente, os espanhóis não ligam muito às notícias vindas de Portugal, embora ache que a tendência começa a mudar) quase sempre me perguntam: “E então, os portugueses não estão a fazer nada para evitar isso? Fosse aqui e eu…” Mas não é aqui, é aí. A Real Academia Española de la Lengua fez historicamente acordos com as academias do resto dos países que têm o Castelhano (ou Espanhol, como prefiram) como língua oficial mas sempre foram respeitadas as diferenças de vocabulário, fonéticas e ortográficas de cada país, sendo logicamente a RAE quem dita as normas, uma vez que é a Espanha o país do qual a Língua é originária. Até onde eu sei nunca veio aqui um país maior em número de habitantes (o México, por exemplo) a dizer-nos que tínhamos que falar ou escrever como eles, como também não tivemos uns académicos que, servindo vá lá saber os interesses de quem, decidiram um dia inventar um acordo ortográfico irracional e completamentecontra naturam, uma vez que as Línguas devem evoluir ao ritmo do uso que lhes dão os povos que as utilizam para a sua comunicação e nunca servir interesses político-económicos. Com a Língua, máximo exponente de um país, não se brinca nem se negoceia.

No tocante aos aspectos técnicos do assunto, poderia expor os argumentos utilizados por pessoas que sabem muito mais do que eu. Apenas digo que, como espanhola que aspira a um dia denominar-se lusófona, não estou a ver qual a vantagem de unificar a Língua Portuguesa eliminando a rica diversidade ortográfica e fonética existente e, mais, que não entendo que para essa suposta unificação tenham criado este Acordo que, longe de unificar, traz (ainda) mais duplas grafias e gera uma confusão que não existia. Inventaram um problema onde ele não existia. Até nas escolas de línguas, aqui em Espanha, o pessoal docente e os estudantes ficaram perdidos e sem saber se ligar a umas regras estúpidas “por imposição” ou declarar-se “em rebeldia”.

Termino dizendo que tenho muita pena (raiva até) por não poder lutar contra o AO da maneira mais efectiva, se calhar da única maneira efectiva: assinando a ILC (http://cedilha.net/ilcao) que faria ouvir a voz dos que são contra na Assembleia da República e que, em boa lógica, conseguiria revogar o AO90 antes que seja tarde de mais e a Língua Portuguesa seja definitivamente traída. Não precisam mais do que empregar cinco minutos escassos do seu tempo em assinar e enviar a subscrição da ILC. Não é uma coisa difícil, nem cara, nem inútil, acreditem. O futuro da Língua portuguesa está nas vossas mãos, portugueses, e é bom que assim seja. Vocês decidem.

Rocío Ramos
Empresária, de Zamora, Espanha.

[In jornal “Público” de 07.09.12, página 53. Link para a versão online disponível apenas para assinantes do jornal.]

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39 comentários

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    • Maria Oliveira on 7 Setembro, 2012 at 14:06
    • Responder

    Muito, muito bem, Rocío! Eu, como portuguesa, agradeço do fundo do coração! Excelente!

    • Manuela on 7 Setembro, 2012 at 14:15
    • Responder

    A Rocío falou como uma legítima portuguesa.!!!

    • Patrícia Cardoso on 7 Setembro, 2012 at 14:30
    • Responder

    Meu Deus, Rocío… Que lindo! Ainda estou completamente arrepiada com o seu magnífico texto, tão bem escrito como muito português já não saberá, infelizmente, escrever. Sempre fui totalmente contra esta violação da nossa Língua, da nossa Cultura. Muito obrigada pela sua preocupação em chamar à razão os portugueses. Temo que muitos de nós nem sequer se importem, mas outros há, como eu, que se contorcem ao ouvir falar neste assunto e se perguntam como é que, até já, nas televisões se vejam escritas aberrações ortográficas que só vêm confundir quem ande mais distraído. Muito obrigada. Um beijo!!!

  1. Muito obrigado!
    A Língua Portuguesa agradece-lhe!

    • Rocío Ramos on 7 Setembro, 2012 at 14:52
    • Responder

    Obrigada eu, Patrícia.
    Acordar consciências é trabalho de todos os que amamos a Língua Portuguesa. Eu daqui (Espanha) pouco posso fazer além de gestos simbólicos como escrever este texto mas vocês aí… podem fazer tanta coisa! Nem que seja apenas nos seus círculos privados comentem, informem… É impossível ficar surdo perante as boas razões de ser contra o AO 🙂
    Beijos!

  2. Palavras sábias.
    Obrigado!

    • Cesar Neves Lopes on 7 Setembro, 2012 at 15:55
    • Responder

    Após várias tentativas de se unificar a ortografia da língua portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009 passou a vigorar em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de transição para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2012.

    Algumas modificações foram feitas no sentido de promover a união e proximidade dos países que têm o português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.

    No entanto, não é necessário que haja aversão às alterações, pois são simples e fáceis de serem apreendidas! Além disso, há um prazo de adaptação que dá calmaria a todo processo de mudança!

    A ABL (Academia Brasileira de Letras) dispõe de um link para quem tiver dúvidas sobre o acordo, é só acessar http://www.academia.org.br e procurar o serviço “ABL Responde” à direita na página. No entanto, não há prazo para que as repostas sejam enviadas, já que cada pergunta passará por análise da comissão de lexicografia e lexicologia.

    Visite esta seção e tire todas as suas dúvidas de maneira rápida e objetiva, proporcionada por uma linguagem simples e prazerosa. Fique sabendo de todas as mudanças ortográficas significativas! É só clicar e informar-se!

    • Maria Miguel on 7 Setembro, 2012 at 16:31
    • Responder

    Obrigada Rócio Ramos! Ler-vos foi um bálsamo para a Língua Portuguesa.

    Neste último comentário não são referidas as questões de base como as científicas, as materiais e outras.
    Perante um inestimável exemplo que nos vem de Espanha, falar de tentativas de unificar uma ortografia parece-me demasiado descabido e insensato. É mesmo confrangedor este parecer!
    As minhas palavras não se referem a quem as escreveu, mas a uma respectiva atitude, perante o desvario ilógico que usou o Português como matéria-prima passiva de negócio

    Não conheço um caso que mereça sequer discussão.

    Cumprimentos.

  3. @Rocío: Obrigadíssima por este texto exemplar!! 🙂

    (@César Neves Lopes: Obrigada, mas não temos “dúvidas sobre o acordo” nem precisamos de ser “informados”. Se aqui estamos é porque já percebemos que todos esses argumentos são completamente vazios, não convencem ninguém que se dê ao trabalho de os analisar. O César é que poderia informar-se, por exemplo, quanto a “passou a vigorar em todos os países da CLP”… 🙂 Boa sorte com a propaganda.)

    • Maria José Abranches on 7 Setembro, 2012 at 17:35
    • Responder

    Muito obrigada, Rocío, pela adopção da nossa língua como parte integrante da sua cultura pessoal e pelo entusiasmo com que a defende!

    Só quem ama a própria língua é capaz de amar as outras e entender o que elas significam para os povos que as falam e escrevem: “Com a Língua, máximo exponente de um país, não se brinca nem se negoceia.”

    Continuaremos a contar consigo nesta luta!

    • Rocío Ramos on 7 Setembro, 2012 at 17:44
    • Responder

    Obrigada à Maria Miguel, HC e Maria José Abranches pela amabilidade e pela luta contínua em favor da Língua Portuguesa.
    Quanto ao comentário (que, diz bem HC, nem comentário mas simples propaganda é) de César Neves não vou acrescentar nada que já vocês responderam devidamente. Obrigada também por isso 🙂

    • Maria José Abranches on 7 Setembro, 2012 at 17:47
    • Responder

    Para César Neves Lopes: vá estudar melhor a questão, para não dizer disparates, por favor! Nós aqui somos contra o AO90 e estamos fartinhos de o conhecer e ainda a toda a iniquidade desta desgraçada aventura. Desculpe o tom, mas já não há pachorra, para ouvir defender o indefensável!
    Cumprimentos.

    • Maria do Carmo Vieira on 7 Setembro, 2012 at 18:04
    • Responder

    Um forte abraço de Amizade que lhe dirá da minha alegria pelo seu texto, Rocío.
    Maria do Carmo Vieira

    • Rocío Ramos on 7 Setembro, 2012 at 18:37
    • Responder

    Obrigada Maria do Carmo. Fico contente por teres gostado (desculpa mas aos espanhóis custa-nos tratar as pessoas por você excepto se tiverem a idade do Manoel Oliveira). Abraço

    • Alda M. Maia on 7 Setembro, 2012 at 19:13
    • Responder

    Todos os textos contra o AO são, para mim, dignos de grande merecimento. Mas além disto, o seu comoveu-me. Um grande abraço e muito obrigada, Rocío.

    • Luis Tomeo on 7 Setembro, 2012 at 21:47
    • Responder

    Muy interesante el artículo. Solo una aclaración. En España se hablan cuatro lenguas y no cinco como dice Rocío: español (o castellano), gallego, vasco y catalán. El valenciano y el catalán son la misma lengua aunque con dos acepciones diferentes.

    • Eduardo Guerra on 7 Setembro, 2012 at 22:20
    • Responder

    Rocio, depois de ler um texto tão claro, tão fluente, escrito por quem a tem esta língua por estrangeira, mais se agrava a minha raiva por este povo ainda não ter dado uma massiva resposta em bloco, a essa vergonha, chamada, AO90. Um grande bem-haja!!

  4. Obrigada, Rocío, em meu nome e em nome de todos os que amam esta belíssima língua portuguesa. Fiquei emocionada pela forma como daí, de Espanha, ergueu a voz e apontou o dedo aos portugueses para que se levantem e lutem por uma riqueza que é a sua língua! É um desatino isto, a que chamam AO; é um desatino o tipo de argumentos que usam para convencer os mais crédulos e menos esclarecidos. Nem a Língua, nem a Cultura, nem a História ficam favorecidas, mas há… oh! se há quem espere tirar muitos dividendos com esta loucura… e, infelizmente, no mundo e hoje, isso tem muito peso. Obrigada Rocío. Nós vamos resistir e esta Língua Portuguesa, que é a Pátria de Fernando Pessoa e de todos os que a amam, também vai resistir.

    • Rocío Ramos on 8 Setembro, 2012 at 9:40
    • Responder

    Luis Tomeo, conozco la polémica respecto al valenciano y catalán.
    Unos (muchos) piensan que son la misma lengua y otros piensan que son lenguas diferentes. Hay diversidad de opiniones y yo, lógicamente, tengo la mía … pero esa no es mi “guerra” 🙂
    Si, a pesar de no ser especialista en el asunto, incluí el valenciano entre las lenguas co-oficiales del Estado Español (o España, esa terminología también genera polémica ;-D) es porque así lo reconoce nuestra Constitución:
    “El Valenciano, es uno de los 5 idiomas reconocidos en la Constitución Española a través del Estatuto de Autonomía Valenciano y es Lengua Oficial Europea desde el 28 de febrero de 1994, día en que fue inscrita en el Catálogo de Lenguas Minoritarias Europeas, de acuerdo con el Informe y Resolución Killilea, a instancias de entidades culturales valencianistas”
    Un abrazo, Luis. Fue un placer encontrar otro español por estos lares.

    • Rocío Ramos on 8 Setembro, 2012 at 10:00
    • Responder

    Grande abraço e um muito obrigada à Alda Maia e Eduardo Guerra pelas suas palavras. Aproveitem o texto para falar da ILC nos seus círculos… Temos que conseguir revogar o AO90 🙂

    • Oscar Alonso on 8 Setembro, 2012 at 15:18
    • Responder

    Me ha encantado el artículo. Ya sabes que los políticos utilizan cualquier cosa para disgregarnos, para separarnos, pero sobre todo para su bien personal y de partido. Me ha gustado mucho como intentas describir el amor a algo que en muchos momentos no es entendido ni por los españoles ni por los portugueses. Cuando uno ama a un país, a una lengua, a una cultura distinta de la suya siempre parece que tiene que estar dando explicaciones a un lado y al otro. Se ama una lengua, una cultura y un país porque te ha atrapado en su magia, en su belleza, porque ha traspasado la superficie de tu piel para quedarse en tu corazón. En definitiva…. a uno le gusta y punto…..

    • Rocio Ramos on 8 Setembro, 2012 at 15:45
    • Responder

    Obrigada Lurdes. Reconheço-me surpreendida pelo apoio e a compreensão que o meu texto está a provocar. Tinha medo (já disse no escrito) de ser mal interpretada mas estou a ver com grande satisfação que perceberam muito bem a minha intenção que outra não é mas que acordar as vossas consciências e o orgulho na Língua Portuguesa que merece que vocês todos lutem na sua defesa. E nada melhor do que o fazer assinando a ILC e animando as pessoas próximas a fazer o mesmo. Essa seria a melhor prova de que as minhas palavras lhes tocaram realmente e a maior prova de amor à vossa (e um bocado minha também) Língua.

    • Rocio Ramos on 8 Setembro, 2012 at 16:06
    • Responder

    Gracias Óscar… Me has entendido perfectamente y dejado claro que no todos los españoles hacen oídos sordos haro que viene de Portugal 🙂 Un abrazo grande

    • Rodrigo Teixeira on 8 Setembro, 2012 at 17:51
    • Responder

    Algo assim não pode deixar de tocar todo e qualquer português que se preze.
    É vergonhoso permitirmos que algo que nos formou, moldou e levou o nosso nome e cultura mundo fora seja negociado por conveniências de alguns (muito poucos) deste lado do Atlântico e a troco de migalhas.
    Quando perdermos todo e qualquer respeito pelo que ainda é ser português, quando até a nossa língua nos é roubada, não sei o que restará por cá que seja defensável…
    Deixo o meu profundo obrigado por este testemunho sentido e, acima de tudo, de uma escrita e entendimento perfeitos da nossa língua. Fico espantado por ver uma aCção deste género partir desse lado da fronteira, admito isso com alguma vergonha, mas nunca é tarde para nos surpreendermos… Nem para mudar mentalidades… Muito obrigado mesmo Rocío Ramos…

    • Manuel Isaac Correia on 8 Setembro, 2012 at 18:32
    • Responder

    Muito, muito e muito obrigado, Rocío Ramos, pela sua clarividência.
    A opinião expressa no seu texto terá talvez um contributo decisivo para que mais um pequeno jornal português assuma, em breve, de forma oficial (o que não fez até agora, continuando no entanto a escrever em português de Portugal e por vezes a publicar também alguns textos em português do Brasil, e também em castelhano) que definitivamente não aderirá ao AO que a lei impõe.

    1. http://jornalaltoalentejo.blogspot.pt/

    • Hugo X. Paiva on 9 Setembro, 2012 at 2:08
    • Responder

    O Sr.Lopes.
    Debaixo da tutela de um super cranio (em 10 anos foi de licenciado a catedratico)
    e depois de o ouvir dizer:temos que escolher, entre serem 12 ou 250 milhoes a falar portugues,o sr.Lopes deita mao a caneta minesterial e assina.Estava-se nos finais dos
    anos 80.Muitos anos mais tarde,e por designios incompreensiveis do destino,acorda o Sr.Lopes na cadeira mais alta da tal “feira venerada” que o Camilo falou.Desta vez,ouvi dizer que o Sr.Lopes enviou um bilhete postal ao ha muito tempo falecido Machado Assis.

    Do Sr. Lopes que nos escreve hoje,nao conheco obra,mas, agradeco a preciosa ajuda que generosamente nos da e em retribuicao aqui fica:http://www.acordarmelhor.com.br/novo/images/acao-popular.pdf.

    Sra. Rocio: (perdoe a falta de acentuacao) ha gente que pensa e gente que pensa que pensa,peco-lhe por isso que tolere algumas perolas que nasceram a falar Portugues.

    Para aqueles que constantemente acusam o Brasil de ser responsavel pelo que esta a acontecer,devo dizer que acho que a responsablidade de Portugal na materia,e’ maior do que a de qualquer outro participante.O grande papao em questao de numeros e’ aqui amesquinhado:(o Brasil finalmente, mediante quatro decretos promulgados, assinados por presidente da república, conseguiu fazer com que uns bons 250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica.
    Quer dizer: mais ou menos idêntica. Primeiro, porque dessas 250 milhões de pessoas apenas uns 15% são vagamente alfabetizadas. Desses 15%, pelo menos 10% é de nacionalidade portuguesa.
    Mas que 15%! É para elas que se legislou. Quer dizer: mais ou menos se legislou. Há dúvidas e indecisões em massa.)( copia de um trecho do recem falecido Lessa,em BBC Brasil.)

    Aqueles que aqui

    • Jorge Teixeira on 9 Setembro, 2012 at 12:38
    • Responder

    Muito Obrigado, Rocío Ramos, pelo excelente artigo e magnífico contributo para acordar as consciências daqueles que vivem hoje transidos pelo medo. Pode ser que finalmente saiam do seu estupor e reajam contra o AO90.

    @Cesar Neves Lopes: obrigado pela disponibilidade mas nós não precisamos de esclarecer nenhuma dúvida sobre o AO90. Não se trata de não o sabermos ou não percebermos o que lá está escrito por qualquer falha de entendimento. Trata-se de que nós RECUSAMOS o AO90. Trata-se de que nós NÃO QUEREMOS a “unificação” da língua Portuguesa. Trata-se de que nós NÃO CONSIDERAMOS que falamos “língua Portuguesa”. Trata-se de que nós CONSIDERAMOS que falamos Português.

  5. Bem-haja pelas suas palavras. Vamos esperar que o seu testemunho seja uma lição e uma inspiração para os portugueses que ainda não foram corrompidos. De facto, é indescritível a indignação sentida perante um “AO90” aberrante e que, paulatinamente, tem vindo a estender as suas metástases a todos os sectores das nossas vidas, com a conivência dos “poderes instituídos”. A luta é muito desigual e temo bem que participar em abaixo-assinados não seja suficiente para inverter algo mais abrangente, do qual a escrita da Língua Portuguesa é apenas mais uma peça do “puzzle”. Veja-se o que se passa quando ligamos a televisão ou o computador… Haja coragem e lucidez para reconhecer que este “jardim à beira mar plantado” não é mais do que uma “colónia do Brasil na Europa”.

  6. Para Manuel Isaac Correia.
    Todos os contributos que repudiem o AO90 e ajudem a revogá-lo são bem-vindos, incluso o do jornal que refere, e cujo URL o prezado amigo e activista JPG nos deu no comentário 26.
    Apenas uma pequena rectificação, para sua tranquilidade de espírito: o AO90 não foi imposto por nenhuma lei. O AO 45, que é a convenção ortográfica que continua em vigor e que nós utilizamos, foi promulgado por um Decreto de 1945 e por um Decreto-Lei de 1973. Um Decreto e um Decreto-Lei são dispositivos legais vinculativos.
    O AO90 foi decidido por uma Resolução da Assembleia da República (RAR n.º 26/91), e abusivamente posto “em vigor” a partir de 1 de Janeiro de 2012 pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011. Ora, uma “Resolução” (seja da AR ou do CM) não tem força legal para revogar um Decreto ou um Decreto-Lei.
    Por isso, em minha humilde opinião, o AO45 continua legalmente em vigor.

    • Rocío Ramos on 9 Setembro, 2012 at 16:54
    • Responder

    Um muito obrigada para si, Manuel Isaac Correia. As suas palavras têm para mim um valor especial por terem vindo do director de um jornal. O facto de vocês, meios de comunicação social, não aderir ao AO é muito importante. E também, como firme defensora da diversidade cultural, aplaudo a decisão de publicar textos no Português de Brasil e em Castelhano.

    Não conheço em profundidade a legislação portuguesa mas acho que António de Macedo (comentário nº 30) está certo: “…uma “Resolução” (seja da AR ou do CM) não tem força legal para revogar um Decreto ou um Decreto-Lei.”
    Por isso, força na luta e vamos lá levar a ILC à Assembleia da República para que dêem “marcha-atrás” ao AO 🙂

    Obrigada também ao Luís, Jorge Teixeira, Hugo Paiva (concordo consigo nessa de não ser Brasil mas Portugal o principal responsável pela situação), Rodrigo Teixeira…
    Um abraço a todos e não esqueçam que o motivo de eu escrever ao Público não foi receber parabéns e solidaridade (por muito grato que isso seja) mas acordar as pessoas que, ao contrário de mim, podem assinar e enviar a subscrição e falar do assunto nos seus círculos privados e profissionais. Por isso, peço-lhes o imenso favor (desculpem a minha ousadia) de que façam “proselitismo” 🙂
    Vocês aí podem, eu cá fico a fazer votos pelo bom senso dos portugueses.

  7. @Cesar Neves Lopes: Não é “acessar” mas sim “aceder” (manias de estrangeirismos que por esses lados teimam em usar.)

    • Manuela on 11 Setembro, 2012 at 17:04
    • Responder

    Quer dizer que a ABL (Academia Brasileira de Letras) é a maior especialista na Língua Portuguesa?? Só faltava essa. Esse acordo é o maior engodo que já apareceu. Só serve para beneficiar algun$$$ espertinhos.

    • João Nogueira Ramos on 16 Setembro, 2012 at 9:29
    • Responder

    Sobre o texto do senhor Cesar Neves Lopes, deixo aqui algumas observações, ao correr da pena, sem qualquer outro objectivo que não seja contribuir para a reflexão da matéria.
    Diz ter havido tentativas para unificação. Mas a população portuguesa (exceptuando alguns académicos, de quem respeito o seu valor intelectual, ou aqueles que obviamente têm interesses específicos) pediu-a ou sugeriu-a? Será que houve algum movimento a nivel nacional para alterar um dos nossos símbolos mais identitários (como seriam outros, por exemplo, a bandeira ou o hino) para sermos mais “iguais” a outros povos? Houve alterações ao longo da nossa História, é certo, mas para reforço da nossa identidade, e não para nos igualarmos aos outros.
    As novas modificações foram feitas para promover a união e proximidade? Quer dizer, eu e a minha família vamos sentir-nos mais próximos e unidos aos angolanos e aos brasileiros (vivi em Angola e no Brasil), por os meus netos (felizmente, todos gostam de literatura) passarem a escrever o português de outra maneira? Vão ser mais afectuosas as relações com os nossos amigos? Haja um pouco de bom-senso.
    A língua fica “mais simples e prazerosa”. Outra ideia bastante infeliz, porventura escrita com alguma precipitação. A nossa língua materna é assunto demasiado sério, para não ser tratada com esta ligeireza. Por este andar, está-se a defender a inclusão de Portugal no estado espanhol, para simplificar as nossas vidas e proporcionar uma aculturação entre os povos; e nesse caso até nos possibilitar a integração numa língua mais prazenteira, pois qualquer das de Espanha tem uma agradável harmonia. Em nome da simplicidade e do prazer.
    Parabéns à ILC. E não desanimem.
    João Nogueira Ramos

    • Pedro Marques on 16 Setembro, 2012 at 15:17
    • Responder

    Isto que fez já é muito. Já faz parte da consciencialização de mais algumas pessoas, da mobilização, e por fim de não deixar cair no esquecimento. Parabéns e obrigado pelo texto, por dar mais um grande empurrão nesta luta, contra os ditadores da nossa cultura, do nossa língua e identidade.

    • Pedro Marques on 16 Setembro, 2012 at 21:14
    • Responder

    Sr. João Ramos, continuando, simplificação não significa progresso, evolução, ou desenvolvimento, portanto, esses lacaios que tanto ateimam em querer levar o acordo avante, não têm noção do rídiculo. Pois, a aprendizagem fica influenciada pela negativa pela simplificação. Sr. João Ramos, parabéns pelo comentário.

    • Maria jose Dias leite on 17 Setembro, 2012 at 16:37
    • Responder

    Sou contra o AO, Não traz vantagem nenhuma para a lingua poruguesa que pode bem ter as suas variantes nos diversos paises de expressãp portuguesa

    • Hugo X. Paiva on 17 Setembro, 2012 at 20:04
    • Responder

    A simplificacao e’ um importante instrumento de trabalho quase sempre efectivo.Quer-me parecer que o que se trata aqui e’de amputacao contra-natura.(creio que foi assim que nasceu o crioulo nalgumas sociedades, dado o facto de o pensamento mais ou menos elevado nao fazer falta para nada.)

  8. Cara Rocío,
    como eu gostaria que na Associação de Professores de Português falassem (escrevessem) assim…

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