A moção dos estudantes

Moção

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO) é o diploma que regula e pretende unificar a ortografia da língua portuguesa. Assinado em Lisboa a 16 de Dezembro de 1990, entrou em vigor apenas em 2009. Até 2015, vive-se um período de transição no qual as duas ortografias coexistem. Negociado e aprovado sem a participação da opinião pública, o AO não tem gerado consenso. Pelo contrário, a sua aplicação motiva a rejeição de grande parte da população portuguesa. A contestação ao AO pode basear-se em três argumentos principais:

É um desastre técnico, contendo erros grosseiros apontados por inúmeros especialistas. De tal forma que os únicos linguistas que o defendem são os que estiveram directamente envolvidos na sua elaboração. Um dos exemplos mais flagrantes é a criação, sob o pretexto de unificar a ortografia, de centenas de novos casos de dupla grafia, ou seja, palavras que se escreviam da mesma forma em Portugal e no Brasil e que, segundo o AO, passam a escrever-se de maneira diferente (exemplos como acepção/aceção, aspecto/aspeto, recepção/receção, etc.).

É um desastre político, porque nem sequer cumpre o objectivo para o qual foi criado. Países lusófonos como São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste ainda não implementaram o AO, enquanto Angola e Moçambique não só não o ratificaram (invalidando toda e qualquer aplicação) como mantêm grandes reservas perante as modificações introduzidas pelo diploma.

É um desastre prático porque cria o caos na ortografia. Ao mesmo tempo que mutila a ortografia portuguesa, as inconsistências e facultatividades do AO levam, não à uniformização da ortografia em todo o espaço lusófono, mas sim a uma multiplicidade de grafias ao arrepio de qualquer regra ou critério. Este facto dificultará a aprendizagem da língua portuguesa e a sua afirmação no plano internacional.

Resumindo, para além de apresentar inúmeras incorrecções e não cumprir os objectivos para o qual foi criado, o AO é um documento que motiva a oposição de grande parte da opinião pública em Portugal, incluindo numerosas figuras públicas de prestígio ligadas ao mundo das Letras (Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Miguel Sousa Tavares, Vasco Graça Moura, Miguel Esteves Cardoso, José Gil, etc.).

Pelo exposto, a Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), reunida em Assembleia Geral de Alunos, no dia 17 de Maio de 2012, propõe o seguinte:

* O abandono do Acordo Ortográfico de 1990 em todos os documentos e comunicações oficiais da AEIST;

* A defesa, por parte da AEIST, da revogação do Acordo Ortográfico de 1990 junto dos órgãos de governo do Instituto Superior Técnico, assegurando que nenhum estudante seja prejudicado por recusar escrever segundo o AO;

* A proposta da revogação, no próximo Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), do Acordo Ortográfico de 1990 por parte de todas as Associações de Estudantes, no sentido de dar início a um movimento nacional de estudantes do Ensino Superior contra o AO.

[Transcrição da moção apresentada na Assembleia Geral de Alunos do Instituto Superior Técnico em 17 de Maio de 2012. Esta moção foi aprovada por esmagadora maioria.]

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8 comentários

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    • Jorge Castro on 7 Agosto, 2012 at 22:42
    • Responder

    Afinal Portugal não é um país de carneiros. Há gente nova com a espinha vertical direita e a pensar.

    É com imensa satisfação que leio este comunicado. Faço votos para que as outras associações sigam o mesmo exemplo.

    Muitos parabéns aos estudantes do Instituto Superior Técnico!

    • João Pedro Góis on 8 Agosto, 2012 at 9:05
    • Responder

    Muito triste verificar que os estudantes, que deveriam estar na senda do progresso e da inovação, se revelam agora completamente reacionários!

  1. Bravo(s)! Há motivos para ter orgulho e esperança nos mais jovens!

    • Luís Ferreira on 9 Agosto, 2012 at 1:35
    • Responder

    @João Pedro Góis

    Não deveria começar por demonstrar de que forma é que o AO é progressista e inovador, para depois tirar as conclusões?

    É que pelo contrário, o que eles não querem é que, à conta de uma deriva estúpida e comprometida com interesses nunca explicados, se perca irremediavelmente a possibilidade da Língua Portuguesa vir a ter uma evolução natural, como é normal e saudável.

    Faça-nos o favor de não ser falacioso e antes de fazer de conta que é dono da verdade, explicar e demonstrar o que diz em tom tão imperativo. Obrigado.

    • António Dias on 9 Agosto, 2012 at 15:57
    • Responder

    Em resposta ao comentário do Pedro Góis,

    Torna-se habitual ouvir este pseudo argumento da do progresso e da inovação vindo dos defensores, ou supostos defensores, do acordês. Geralmente com algum pedantismo e ignorância à mistura é o que de melhor serve. Deve ser pela falta de qualquer argumento válido.

    Antes de mais, progresso e inovação não são necessariamente sinónimos de mudança. Ser avesso à mudança no caso de ser uma mudança para pior, questioná-la, e pô-la em causa é uma característica das pessoas que pensam pela sua cabeça.

    Mudar por mudar mudam as baratas tontas, sempre na crista da onda, mas sem saber para onde vão.

    Este AO90 não representa progresso ou inovação, representa uma involução, um empobrecimento da língua, representa perder uma parte fundamental da nossa identidade sem que haja qualquer argumento que o justifique.

    O AO90 está marcado pela iniquidade desde o seu nascimento. Foi aprovado contra todos os pareceres técnico-científicos (à excepção do da eminência que escreveu o acordo), foi avançando com base na manipulação e mentira, nunca reuniu o mínimo, repito, o mínimo de consenso à sua volta.

    Quanto ao reaccionário (que escreve de forma incorrecta), aconselhava-o a verificar o significado desta palavra no dicionário, passo a citar “que exerce reacção, relativo à reacção, oposto à liberdade”.

    Ora, se o estado português se arroga a pretensão de querer impôr pela coacção um acordo que ninguém pediu, que não serve para nada, impondo a sua obrigação e perseguindo, em muitos casos, aqueles que se recusam a aplicá-lo, onde está a oposição à liberdade?

    Por último, se tem do seu lado as televisões, os dois grandes grupos editoriais (que esperam, esse sim, ganhar milhões com esta aberração), alguma imprensa, por que vem a este site, que promove uma acção com vista á revogação do AO90 chamar-nos reaccionários? Porque é que isso o incomoda tanto? Onde está afinal o reaccionarismo?

  2. O estúpido que por aí surdiu foi zurzido e emudeceu. É habitual. Não conheço um único acordista com conversa para mais de 2 minutos (tempo necessário para os acanhados neurónios perceberem que está na hora de desinfectarem o ambiente).

    • Maria de Jesus on 14 Agosto, 2012 at 22:57
    • Responder

    Que Geração Maravilhosa=Milagrosa!
    Bem-Haja!

    • Bento (Galiza) on 23 Agosto, 2012 at 20:19
    • Responder

    Como era de esperar, o autor do despautério que escreve na resposta 2 sumiu sem rebater nada, pois nada poderia rebater, na verdade.
    Apenas queria reparar no uso malévolo do termo “reaccionário”, uso do qual se tenhem apropriado os ditadores do pensamento politicamente correcto para fazê-lo sinónimo de atrasado, retrógrado ou oposto à liberdade. Em suma, como antónimo de “progresso”, categoria que esse ditadores fazem coincidir, sempre e curiosamente, com aquilo que eles pensam.
    REAGIR contra esta estrumeira hedionda do AO é um DEVER de todas aquelas pessoas que partilhamos esta Língua nossa e que vemos nela algo mais do que um simples instrumento de comunicação submetido só a critérios economicistas e materialistas. A atitude contrária, inclinar o espinhaço e submeter-se à mediocridade uniformizante do AO fica para os “progressistas” doentes de neofilia, isto é, da necessidade premente de inovar e de “ser originais”, embora isto implique atraiçoar uma identidade construída através dos séculos. Portanto, quero dar os meus parabéns a todos os reaccionários que apesar de todas as aberrantes leis e constrangimentos para impor o AO permanecem fieis à sua Língua e não a vendem por um prato de lentilhas.
    Assina, um orgulhoso reaccionário, que reage contra uma acção infame, cobarde e cujos autores deveriam ser julgados e afastados de qualquer participação futura na RES PUBLICA.
    Bento – GALIZA

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