“O tempo se encarregará de ridicularizar a génese e urgência do acordo.” [Rodrigo Guedes de Carvalho, TVmais, 16.07.2012]

Crónica de Rodrigo Guedes de Carvalho: Cuidado com a língua

Confesso um clássico cliché. Aproveito muito as férias para pôr em dia a leitura. Menos de jornais (ou não seriam férias), mais de revistas e da minha querida literatura, com os romances à cabeça. Os livros publicados recentemente juntam-se já à manada do chamado acordo ortográfico. Já o exprimi várias vezes, mas nada como ser confrontado com a coisa largas horas por dia para reafirmar: é uma parvoíce que era desnecessária. E não me venham, por favor, com o argumento estafado que as coisas são mesmo assim, senão ainda escreveríamos farmácia com ph. Importa relembrar que o acordo foi uma florzinha de enfeite para justificar um pouquinho da missão daquela entidade parda que se chama países de língua oficial portuguesa. E que, precisa e ironicamente, acabou com a língua portuguesa, traduzindo-a, ajeitando-a, moldando-a, torcendo-a, de modo a que os brasileiros não tenham “dificuldade” em ler. Basta pensar num qualquer exemplo, de palavras que se escreviam assim e agora se escrevem assado, para confirmar que muitas palavras portuguesas desapareceram, enquanto todas as expressões e grafias brasileiras permanecem inalteráveis. Acresce aquela que me parece ser a maior aberração do fenómeno. Foi assinado com pompa, e a circunstância de “ter entrado em vigor” não acabou, de todo, com as dúvidas. Ainda hoje, sábios da gramática e do léxico não sabem responder a muitas dúvidas. O que significa que se avançou para uma coisa sem lhe ter tirado todas as medidas. Quanto ao assunto, considero-me, há muito, arrumado na galeria dos que não aderirão, enquanto mo permitirem. E nada me satisfaz mais do que ver engrossar a minha tropa, o número dos que estão comigo, e falo de muitas das eminências maiores da escrita na nossa língua, que, aos poucos, vão defendendo o mesmo que eu. Sinto-me particularmente bem quando verifico que muitos deles e delas são das personalidades que mais admiro. O tempo se encarregará de ridicularizar a génese e urgência do acordo. Lembrei-me desta falta de foco nos reais problemas da língua porque reparo, a cada dia, que problemas muito maiores continuam sem solução, e atropelos constantes são cometidos por muito boa gente com responsabilidade, nomeadamente colegas meus da comunicação social, dos mais graúdos aos miúdos saídos recentemente da faculdade. Falo da confissão, ou admissão, mas também da espantosa mania de se confundir factos com ideias. Um exemplo? Bom, tenho à frente uma entrevista de “verão” com uma jornalista de televisão. Passe o pleonasmo, a ideia é que conheçamos as suas ideias sobre as coisas, o mundo, enfim, tudo isso. Por isso é ela a entrevistada, e não outra pessoa qualquer. Adiante. Logo na introdução, a revista escreve que “fulana diz que Portugal é um país de forte tradição marítima”. Espero que tenha detectado o galho, mas se assim não for, eu explico. Lembra-se? Confundir factos com ideias? Portugal é esse país com fortes tradições salgadas. Facto. Não por a entrevistada o dizer. Quando muito, o texto poderia referir que “fulana lembra que Portugal blá-blá e por isso, como portuguesa, gosta muito de pescar e fazer surfe e passear na praia, etc. O que quiserem. Erro igualmente comum é o de colocar pessoas a “confessar” coisas extraordinárias sobre si, como “confesso que sou um símbolo sexual”, ou “o líder político admite que será o melhor primeiro-ministro que este país já viu”. A questão é espantosamente simples, e aprendia-se nos bancos da primária. Não “confessamos que somos belos”, se confessamos é algo que ou não nos agrada ou alguém descobriu sobre nós. Admitimos, sim, ser um assassino em série ou ter desviado dinheiro. Quando confessamos, fazemo-lo contra uma ideia que tinham de nós. Confessar, ou admitir, é, regra geral, não ter outro remédio. Tudo o resto é mal aplicado, a não ser que se seja um poeta genial, como Neruda, e se jogue magistralmente com o equívoco, para fins estéticos: confesso que vivi.

[Transcrição integral da crónica de Rodrigo Guedes de Carvalho, TVmais, 16.07.2012]

[Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito (quando dizem ou se dizem) e são por definição de interesse público (quando são ou se são).]

Print Friendly, PDF & Email
Share

Link permanente para este artigo: https://ilcao.com/2012/07/17/o-tempo-se-encarregara-de-ridicularizar-a-genese-e-urgencia-do-acordo-rodrigo-guedes-de-carvalho-tvmais-16-07-2012/

13 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • Jorge Teixeira on 17 Julho, 2012 at 15:18
    • Responder

    O facto mais curioso do AO90 é toda a gente o “aplicar” sem acreditar nele. Ou seja, toda a gente escreve como escreve e depois usa um programa informático para converter para AO90. É por isso que aparentemente não existem “dificuldades” em escrever em AO90. De facto ninguém escreve com o AO90. Dificuldades e muitas há em interpretar textos escritos em AO90 quando o que está em jogo excede a complexidade de uma lista de compras. A floresta de homografias é tal que a interpretação de um texto cuja complexidade exceda a de uma lista de compras é verdadeiramente fenomenal.
    Embora sejam possíveis fantásticas pérolas mesmo em coisa de complexidade reduzidíssima (vide “quando eu digo para é para parar”).
    E apesar de ninguém de facto escrever com o AO90, ninguém que escreva algo cuja complexidade exceda uma lista de compras gostar dele, ninguém de senso se rever nele, vão amochando e proclamando a sua inevitabilidade.
    É uma experiência verdadeiramente brutal percorrer os comentários publicados em blogs de professores como “A Educação do Meu Umbigo” e ler as prosas alucinantes que so-called “professores” lá escrevem em AO90. Quando ultrapassam um mínimo degrau de complexidade fica bem patente o horrível efeito das medidas de assassinato linguístico do AO90. E quem assim escreve é professor? Pretende ensinar os outros? Não tem um mínimo sentido crítico sobre a algaraviada que publica? Revê-se no que publica? Já fez o simples exercício de se despir de preconceitos e ler em voz alta o que escreveu como uma criança de 6 anos faria? E o que ouviu ler alto, é por um acaso português? Entende-se? É que vocalizar um escrito em AO90 sem ter “encornado” uma série de regras contra-natura não produz os sons da língua portuguesa!
    E revê-se na estética e na lógica de uma escrita em que os egípcios vêm do egito? Em que se lê espectador e se escreve espetador? Em que se lê intelecto e se escreve inteleto? Tenham vergonha.

    • Maria José Abranches on 17 Julho, 2012 at 19:00
    • Responder

    Caro Jorge Teixeira,

    Sabe bem ler a sua indignação! Limpa-nos desta “baba mole e peçonhenta” dos amorfos em todos os géneros, incapazes de chamar esta barbárie pelo seu nome, invertebrados e acéfalos! É graças a esta – no fundo – aceitação cobarde que se vai instalando esta “coisa ignóbil” em Portugal! Tanto se falou há tempos de Stéphane Hessel (“Indignez-vous!”, “Engagez-vous!”)!… O que pode significar uma personalidade como a dele e a sua vibrante mensagem, num país que se diz democrático e livre, mas cujos cidadãos se comportam como no tempo da ditadura, esquecendo-se de que PODEM E DEVEM REAGIR, em vez de se vergarem sem dignidade aos ditames dos tiranetes actuais? Não têm vergonha?! Tantos receberam a liberdade sem terem de mexer um dedo para isso e não sabem ao menos preservá-la, defendê-la, usufruir dela com responsabilidade?
    Todos aqueles que se exprimem pela palavra e se calam ou vão apenas dizendo “umas coisinhas insignificantes” (e estou a pensar nos professores, nos jornalistas, e nos inúmeros cronistas e comentaristas que por aí andam) das duas uma: ou ignoram a essência e o valor da palavra (e não merecem servir-se dela) ou lucram de alguma maneira com esta destruição da língua que lhes permite afirmarem-se e ter visibilidade social.
    Recordo, aos mais distraídos, que a nossa Constituição consagra, nos “Direitos e deveres fundamentais”, o “Direito de resistência”, Artigo 21.º:
    «Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.»
    Esta é a Constituição da República Portuguesa, que ainda é um Estado democrático!

  1. Aborto ortográfico nunca!
    A acefalia que tomou conta de tantos ditos professores, jornalistas e quejandos, que utilizam o conversor ortográfico para agradar e obedecer ao chefe, ou então para serem muito moderninhos, sempre na crista da onda, ainda que de forma acrítica, como baratas tontas, ainda se irá voltar contra eles.
    É respeitado quem se dá ao respeito. A grande maioria dos professores de português, e de muitas outras disciplinas não merece ser respeitada. Não ofereceu a mais leve resistência a esta aberração linguística, que qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe que não é necessária, não cumpre minimamente o que proclama (a falácia da uniformização do português e empobrece, descaracteriza, mutila o nosso português europeu.
    Tenho a convicção de que este aborto ortográfico acabará por ser rejeitado. Só poderá ser assim.
    Boicotar de todas as formas este AO90 é um dever, é um acto de amor pela língua, é uma declaração de verticalidade.
    Não comprar nada que seja escrito com este aborto ortográfico é uma forma de boicote.
    Recusar escrever abortês, seja em que circunstância for, é fundamental.

    Mais que nunca é altura de lutar, começam a surgir os sinais evidentes de uma vaga de fundo que acabará por varrer, qual pesadelo, esta aberração.

    • Bento (Galiza) on 18 Julho, 2012 at 1:47
    • Responder

    Quanto mais leio sobre isto, mais semelhanças vejo entre a imposição da “Aberração do 90” em Portugal e a imposição legal, em 1982, da grafia castelhana na Galiza. Também desde então, tornou-se realmente difícil viver coerentemente na nossa Língua e os funcionários, nomeadamente os professores, foram obrigados a utilizar o dislate criado nos laboratórios do poder.
    Quando nalguma imprensa digital leio cousas como “Sou professor e, embora não concorde com diversos aspectos do Acordo, as alterações certamente melhorarão o uso nacional e internacional do idioma” não posso por menos que me revoltar diante destas atitudes que só merecem uma qualificação: COBARDIA. Onde ficam agora todas aquelas vozes críticas que eu lia contra esta traição na imprensa portuguesa, a começar polas dos professores e a seguir polas das editoras? Por que esse silêncio cúmplice desta desfeita? Onde ficou o direito e dever de pensarem por si mesmos e defenderem uma herança e um acervo criado no decorrer dos séculos? Que Galiza esteja como esteja, com a nossa Língua a definhar é intolerável, mas é explicável pois são muitos séculos sob as garras castelhanas. Mas que isto ocorra num estado soberano, independente, e para o qual os galegos conscientes sempre tivemos uma especial sensibilidade, é triste e lamentável.
    Enfim, vejo que a história repete-se e segue cheia de Audas, Ditalco e Minuros, três nomes que são para sempre símbolo da traição. O que um, desde este lado do Minho, não alcança a ver é qual o pagamento pola tal traição.
    GALIZA E PORTUGAL NÃO PAGAM A TRAIDORES (Dizem alguns relatos que os tais assassinos de Viriato foram executados de imediato polos romanos; eu já me contentaria com aquela punição praticada polos atenienses e chamada OSTRACISMO, uma medida de saúde pública que enviava ao exílio por uns anos aos indivíduos considerados perigosos para a comunidade)

    • Bento (Galiza) on 18 Julho, 2012 at 2:14
    • Responder

    “E não me venham, por favor, com o argumento estafado que as coisas são mesmo assim, senão ainda escreveríamos farmácia com ph…”
    Não sei se já repararam que o PH etimológico mantem-se nesta e noutras palavras semelhantes em idiomas como o inglês, o francês ou o alemão: pharmacy, pharmacie, em alemão é APOTHEKE mas existem termos como “pharmazeutisch”. Essas línguas permanecem fieis à etimologia latina das palavras e nem elas nem os seus utilizadores sofrem maiores problemas. Foi um mal dia aquele no qual tiraram o PH etimológico da nossa ortografia mas isso já seria outra história.

  2. “Basta pensar num qualquer exemplo, de palavras que se escreviam assim e agora se escrevem assado”

    …foram só +70.000 (mais de setenta mil) as palavras alteradas.

    Assados… nunca mais. Agora é só Hamburguéres.
    novelas televisivas, revistas da casa-de-banho (agora como se escreve? – da casa de banho?),
    letras de música básicas, … e mais nada.

    É impossível fazer um assado, ou comer um assado neste ‘dialeto’ (que leio dialêto).
    -Porque raio é que hei-de lêr dialecto??? Imaginando? Vamos então falar como nos apetecer? -Díaletó! -Dîalê-c-tó!
    Estupefacção, é a palavra. ?Estupefação – ou fica estupefacção? -mas é estupefato…
    Estupefato.
    -Estupefato!
    de farto. flatulência.

    É sempre a isto que chego quando tento escrever em pt-BR+
    Suponho não ser o único. +70.000 alterações ao calha: -LIIINDO!

    • Joseia Lucena on 19 Julho, 2012 at 21:22
    • Responder

    O que é isso?” …missão daquela entidade parda que se chama país de língua oficial portuguesa … torcendo-a de modo que os brasileiros não tenham difilculdades em ler” Isso é declaração de “amor” a lingua ou uma forma de declarar ódio e amargura a uma nação irmã? E Caim matou a Abel! Lembro que o nome é A C O R D O ! O que só pode ser feito com o concentimento de ambas partes, por isso, ao invés de ofender de forma covarde uma nação, proteste contra aqueles que assinaram o A C O R D O o qual Portugal faz parte espontaneamente!

    • Jorge Teixeira on 20 Julho, 2012 at 11:07
    • Responder

    @Joseia: em Portugal o AO90 nunca foi usado desde que foi assinado e ninguém lhe sentiu a falta. Apenas foi ressuscitado quando a nossa economia começou a fraquejar e em contrapartida a do Brasil se encontrava alavancada na euforia do pré-sal.

    Ademais, factos são factos, e as mudanças preconizadas pelo AO90 vão todas de encontro à obsessão dos académicos brasileiros para o que eles acham que é aproximar a escrita da “fonética”. Do ponto de vista brasileiro, claro, dado que na realidade, como já terá percebido se acompanha a polémica neste site, do ponto de vista da forma de falar de Portugal, o AO90 *afasta* a escrita da nossa “fonética”. Pessoalmente, não tenho nada contra o Brasil escrever de forma diversa de Portugal. Aliás, acho que o AO90 também prejudica o Brasil, por exemplo, ao eliminar o uso do trema, infelizmente eliminado em Portugal por via das sucessivas “reformas” e do AO45 assinado com o Brasil, que nunca o aplicou.

    Por falar nisso, o Brasil também assinou “espontaneamente” o acordo ortográfico de 1945 (AO45). Porque nunca o aplicou? Se o tivesse aplicado nunca teria sido “necessário” um AO90. Em Portugal nunca ninguém dirigiu prosas inflamadas a brasileiros acusando-os de ofender uma nação por não aplicarem o AO45.

    Portugal não são os interesses políticos e económicos envolvidos na assinatura do AO90. Portugal são os portugueses e a esses nunca ninguém perguntou se necessitavam de um AO.

    O autor do artigo citado nesse post trabalha para um grupo de media em que um dos maiores accionistas é o grupo brasileiro Globo. Esse grupo de media, a Impresa, é um dos principais grupos de pressão para impôr o AO90 em Portugal — Até acho corajoso da parte do autor tomar posição contra o AO90 estando a desagradar o patrão.

    Pessoalmente não tenho nada contra o Brasil ter uma forma de escrita própria, isso nunca me incomodou. Até tem práticas que simpatizo e gostava de ver re-introduzidas na escrita de Portugal como o uso do trema — ungüento, conseqüência, qüinqüénio, etc. são formas muito mais adequadas do que as ambíguas unguento, consequência, quinquénio. O AO90 é pernicioso precisamente por AUMENTAR as ambiguidades e as homografias, introduzindo ruído e prejudicando a comunicação escrita.
    Não posso estar de acordo com a obsessão académica pela aproximação a uma “fonética”. Porque não escrevem então “Braziú” e não “Brasil”? Algum brasileiro de hoje pronuncia “Brasil”? Porque não escrevem “mais” em vez de “mas”? Algum brasileiro pronuncia “mas”? De qualquer modo se assim o desejarem, até defendo que os brasileiros façam tais alterações. O que não posso aceitar de maneira nenhuma é que se tente impôr a forma de escrever e falar brasileira a Portugal. Para um português (e falo por experiência pessoal) a única forma de trabalhar com o Brasil sem enlouquecer foi sempre tratar o português do Brasil com o mesmo respeito, prudência e trabalho com que se escreve e fala uma língua estrangeira. Da mesma forma que faria com inglês, francês ou alemão. De outra forma qualquer português rapidamente se encontrará numa floresta de mal-entendidos. E isso não muda com o AO90.

    • Bento (Galiza) on 20 Julho, 2012 at 20:16
    • Responder

    Acho que aqui ninguém tem nada em contra do Brasil nem da ortografia que os brasileiros utilizam ou queiram utilizar no futuro para escrever o português; pessoalmente, como se querem chamar-lhe “brasileiro” e considerá-lo uma língua diferente, eu não me importo.
    Contrariamente, eu sempre gostei do trema (que acho se deveria utilizar numa norma galega) e nunca tivem qualquer problema com ler livros impressos em Brasil com a sua ortografia própria. O assunto é outro, bem diferente. Estamos a falar do porquê, do como e do conteúdo de uma lei que consideramos nefasta.
    1) Porquê? Alguém sentia a necessidade desta imposição? Qual o problema das diferenças ortográficas entre o Brasil e Portugal? Uma pessoa que lê “eléctrico” também sabe ler “elétrico”. Outras línguas espalhadas polo mundo também tenhem diferenças gráficas entre as suas diferentes variantes e a sua saúde é óptima. Aliás, quando eu vejo algum filme legendado em português do Brasil, a ortografia não é o problema, o problema são as expressões, o léxico, formas como “eu te digo” ou “eu te amo” que contrariam a lógica da construção da frase para um galego.
    2) Como? Pola via da maioria parlamentária (os senhores de São Bento são porventura filólogos ou lingüistas expertos para estarem legitimados a tais decisões, ou são espertos profissionais da baixa política?) e fazendo ouvidos moucos a muitos pareceres contrários, cujos argumentos ficaram sem rebater (porque tal é impossível, na verdade). Pola via da imposição legal, forçando a língua e os seus utilizadores, e deduzo polo que aqui leio, com ameaças de castigo a quem não baixe a cabeça ante este despautério.
    3) Qual o conteúdo? Pois grosso modo é a imposição da ortografia brasileira sobre a portuguesa. Isso sim, algo positivo da ortografia brasileira como é o trema também fica eliminado. Simplifiquemos, escrevamos como se fala, poupemos esforços para quem tem de aprender…tácticas e argumentos suicidas (imaginam que cada pessoa escrevesse como fala?) que ninguém que preze a sua Língua defenderia para ela seriamente. Aí temos o inglês e o francês, cheios de letras sem equivalência sonora e que ninguém ousa eliminar.
    Enfim, recuperando uma velha expressão que quase se perdeu na Galiza, enviemos À FAVA este engendro.

    • Hugo X. Paiva on 21 Julho, 2012 at 0:25
    • Responder

    À exceção de Portugal, todos os membros do grupo estão entre os principais receptores da ajuda externa brasileira.

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/07/120718_guine_equatorial_jf.shtml

    • João Castro on 21 Julho, 2012 at 16:27
    • Responder

    O seu comentário aguarda moderação. O comentário que acabei de enviar tinha um erro ortográfico: Concenso, que corrigi para consenso. Este é igual, com a correcção. Agradecia que publicassem este. Obrigado.

    Com certeza quereria escrever excepção, e não “dialeto acordês: exceção”.

    A Lusofonia é uma perversão política, que tem na base uma espécie de nostalgia neo-colonialista. Só que desta vez o colonizador (cultural) é o Brasil.

    Até aqui menos mal.. agora que o nosso país se preste, pela mão de meia dúzia de pretensos linguístas e intelectuais de pacotilha, a esta vassalagem voluntariamente é algo, pura e simplesmente, repugnante.

    Cada país que utilize a língua portuguesa, que é a matriz comum, de acordo com o sua realidade histórica, com a sua herança cultural, com a sua identidade. Uniformizar é sempre empobrecer, são tiques totalitários disfarçados.

    Este acordo, não serve para nada, surgiu sem que houvesse dele necessidade, não cumpre o propósito de unificar coisa nunhuma (como se isso fosse coisa boa, que não é), serviu para promover oportunistas sem escrúpulos, entre os quais os que andaram a encher os bolsos com as “ações de formação para ensinar os professores a escrever protuguês correto [corrêto]“.

    Vergonha, uma vergonha. Tudo isto sem unca reunir o mínimo de consenso, contra todos os pareceres técnico-científicos, à revelia do povo português.

    Na minha opinião trata-se de um crime. E como tal tem de ser tratado, apelando à desobediência civil e ao boicote, de todas as formas e em todos os lugares, a este aborto tortográfico.

  3. Subscrevo o comentário anterior, concordando com todos os que lucidamente e sem medo evocam justiça.
    Saúde!

    • Pedro Marques on 2 Agosto, 2012 at 14:08
    • Responder

    Caro José Teixeira, se esses pseudo professores que provavelmente nunca protestaram contra este sistema de ensino fraco que foi imposto ao longo dos anos, também não é capaz de ler esses tais textos conforme devem ser lidos consoante o novo acordo. Ou seja, sai o c supostamente consoante muda de ficção, ou acção, e essas alminhas tolas, continuam e continuarão a ler ficção, e acção, em vez de lerem como é correcto com o acordo assão, e fissão! Portanto o que é que se pode esperar?

Responder a Hugo X. Paiva Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.