Este livro respeita o acordo ortográfico?
Não escrevo com acordo. Mas já deitei a toalha, o acordo é estúpido e gastou-se imenso dinheiro com isso e não uniformiza de facto. A pronúncia é que vai fazer a diferença. O que não quero é que me mudem palavras como comboio para trem. É bom haver diversidade nas línguas. Também não quereria ver o Jorge Amado a dizer comboio. Mas há um ano ligaram-me do Brasil a querer comprar o meu livro “Nas Tuas Mãos”. O governo anda a comprar livros para as escolas e quando o faz são encomendas de milhares de exemplares para os liceus. Mas só o compravam se fosse com o acordo. Eram 7 mil ou 10 mil a mais, e eu disse “com certeza”.
[Transcrição parcial de entrevista a Inês Pedrosa, jornal i de 12.05.2012. Os destaques e sublinhado são nossos.]
13 comentários
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Eu sei que é desesperante, e quem vive da escrita terá que fazer algumas cedências. Mas não podemos desistir, e tentar resistir até ao fim. Por mim, enquanto puder vou escrever de acordo com a, agora denominada, ortografia antiga. Mais, sempre que for possível vou só comprar livros que respeitem a ortografia tradicional. Tenho ainda muitos livros, mas mesmo muitos, para acabar de ler, pelo que não é tão cedo que vou precisar de adquirir novos.
Já agora, que estamos em maré de comentários, tenho por hábito corrigir, mentalmente, a nova ortografia quando leio jornais. Acreditem, é um exercício muito interessante e que nos mantém ‘vivos’ nesta luta.
Isto é para rir ou para chorar?
Quem dá mais aos nossos “queridos” escritores, para aceitarem como inevitável a conspurcação da língua que lhes deu notoriedade? Tão pouco amor lhe têm?! O pobre do D. Afonso Henriques, que quis fazer desta banda de terra um país independente e digno, deveria rever-se com orgulho nestes portugueses do século XXI, tão facilmente acomodados com qualquer vassalagem! Para memória: a 25 de Julho celebra-se o 873.º aniversário da batalha de Ourique (1139)! Obviamente a História e a Língua, que nós não inventámos, que são património, nosso e universal, estão ultrapassadíssimas! Coisas para “velhos do Restelo”, gente retrógrada e antiquada!
Ela só não quer que mudem comboio para trem, mas se todos actuarmos como ela pode ter a certeza que qualquer dia vamos ter trens em lugar de comboios assim como já só temos filas quando antes tínhamos bichas!
Mercenários e oportunistas, é esta gente que se compromete com este AO90. Não há argumentos que sirvam a esta gente. Se saísse uma lei a decretar a obrigatoriedade de usar capacete na rua nos dias de sol, tenho a certeza que apoiantes não faltariam – uns para agradar às chefias e superiores, outros à espera de ganhar alguma coisa, outros ainda porque não estão para “discussões académicas” sobre uma lei já aprovada.
A verdade é que este acordo configura a venda (ou privatização) da Língua Portuguesa às grandes Multinacionais Informáticas e, em Portugal aos dois grandes grupos editoriais dominantes (Porto editora e Leya). Claro, vende-se também parte da nossa identidade, a nossa dignidade como nação com uma História de séculos, o nosso brio, a nossa honra… mas, que é que isso interessa. Afinal os critérios de gestão económica e engenharia de sistemas, consideram esses conceitos irrelevantes e vazios de conteúdo.
Mas o que mais choca é a aparente vitória da ignorância e da desonestidade – ignorância dos que aceitam acriticamente os falsos argumentos dos promotores deste acordo, e desonestidade das eminências que o promoveram e defenderam (dando-lhes o benefício da dúvida de que sejam mais ou menos inteligentes e mais ou menos cultos), utilizando como argumentos a mentira e a manipulação.
Tal como o Daniel Luís também deixei de comprar livros e jornais que escrevam em Portugal a ortografia brasileira. felizmente ainda há bastantes que escrevem português europeu (Público, Correio da Manhã, Jornal i; Sol, Jornal de Negócios, Revista Sábado, a esmagadora maioria da imprensa Regional) – ora são esses que devemos apoiar, comprando-os, e louvar. Os outros não se compram.
Com as editoras a mesma coisa, A Gradiva, Relógio d’àgua, Tinta da China, … e muitas outas editoras não publicam livros em português brasileiro – compram-se livros destas editoras e boicotam-se as outras.
Para terminar: Um apelo veemente à desobidiência civil generalizada a esta lei! É talvez a forma mais eficaz de boicotar este acordo, não somos um país de carneiros amestrados. Como escreveu a profª. Maria José Abranches na sua carta aberta, de forma tão clara, desobedecer a uma lei iníqua e desonrosa, só honra quem o faz.
Continuarei a recolher assinaturas
Em Portugal Jorge Amado, Clarice Linspector, todos os autores Brasileiros, são publicados no original, nunca passou pela cabeça de ninguém “traduzi-los” para “português”. No entanto, no Brasil, os autores portugueses são assediados para que as suas edições sejam “traduzidas” para “brasileiro”. E poucos são os que recusam, mas há quem recuse. Como o Miguel Sousa Tavares, e salvo erro, o Valter Hugo Mãe. E as vendas não são afectadas por isso. Mas os poderes no Brasil, governo, editoras, etc., continuam a promover estas manobras, e os portugueses continuam a amochar. É uma maravilha esta pátria de vendidos.
@Rui Barros: há semanas tive a grande decepção de encontrar um livro da Tinta da China pelo AO90 (“E a Noite Roda”). Mais uns que se vendem.
Visto que não escreve “com o acordo”, a Senhora D. Inês Pedrosa podia ter omitido, por uma questão de decência, coerência e bom gosto, esta claríssima demonstração de dar mais importância ao “comércio das palavras” que à sua própria dignidade e respeito pela língua materna. Mas eram mais 7 mil ou 10 mil exemplares!…
Efectivamente, é muito triste.
Provérbio antigo:
O único fracasso é deixar de lutar.
Quando na Galiza, no ano 1982, foi imposta a ortografia castelhana, ocorreu exactamente o mesmo: escritores que a contestavam acabaram por aderir na prática, pois do contrário as possibilidade de serem publicados nas editoras mais importantes seriam mínimas. Obviamente, tais editoras aceitaram a ortografia castelhana por simples mercantilismo e pragmatismo, apesar das suas incoerências e aberraçoes morfológicas, sintácticas, léxicas…a Língua ficava reduzida a mais um negócio para lucrar, nada importava a sua deturpaçao, o seu avulgaramento nem a sua castelhanização.
Na medida das minhas possibilidades, eu tampouco comprarei livros portugueses escritos nessa norma indigna (pola sua forma e pola maneira na qual foi imposta); e tenho um dicionário da Porto do ano 1999…vejo que dificilmente poderei encontrar uma edição actual escrita em português correcto, pois os dicionários que agora vejo à venda informam, em vã presunção, da sua adesão ao AO ou, como mal menor, de incluir o “antes” e o “depois” mas dando preferência a este último.
Esta gaja não merece nove (dez) comentários. Com um pano molhado nas ventas, isso sim.
Cumpts.
Jorge Teixeira pesquisa melhor sobre o Valter porque julgo que estejas redondamente enganado.
Este post mostra o que não devia mostrar e devia ser apagado.
Devia ser substituído pelo comentário do pano molhado nas ventas, sem mais nada.
Publiquei, há pouco tempo, o meu segundo livrito. Não espero obter grandes lucros pois escrevo soneto em decassílabo heróico e sei bem que não é um tema do agrado público, mas se me garantissem que veria resolvidos os meus graves problemas económicos pela simples adesão ao aberrante AO, garanto que a minha resposta seria negativa.