Estudantes contra o Acordo Ortográfico

 

 

 
A Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), da Universidade Técnica de Lisboa, opõe-se ao Acordo Ortográfico (AO) e não quer que os alunos que não o adoptem sejam prejudicados.Em comunicado, os estudantes revelam que apresentaram, no final da passada semana, uma moção para a rejeição do AO à assembleia-geral de alunos e esta foi aprovada, tornando-se a AEIST “a primeira associação de estudantes do país a rejeitar oficialmente” o acordo. Assim, a associação propõe que os alunos não sejam prejudicados pelos professores por recusarem escrever segundo o AO. A AEIST não vai adoptar o AO nos seus documentos oficiais e vai pedir a revogação do acordo junto dos órgãos de governo do Técnico. A associação vai ainda levar esta posição ao Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), onde se reúnem todas as associações de estudantes das universidades e politécnicos do país.[Transcrição integral do artigo no jornal “PÚBLICO” de 21 de Maio de 2012.]

 

 

A Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), reunida em Assembleia Geral de Alunos, rejeitou na semana passada o Acordo Ortográfico (AO) no seguimento da aprovação de uma moção. O DIABO falou com o porta-voz do “Desacordo Técnico”, o movimento que se opõe ao AO no Técnico e que conseguiu a sua primeira vitória.O Ensino é uma das principais áreas em que a verdadeira trapalhada ortográfica a que chegámos mais se sente. A oposição ao AO motivou o aparecimento de um movimento de estudantes no Instituto Superior Técnico (IST), chamado “Desacordo Técnico”, noticiado pelo nosso jornal, que rapidamente ganhou visibilidade e reuniu amplo apoio. João Fabião, porta-voz desse movimento, disse a O DIABO que “a ideia surgiu de forma espontânea entre um grupo de colegas. Embora exista uma grande passividade sobre este assunto, achámos que podíamos fazer a diferença. Nesse sentido, decidimos lançar uma página no Facebook para a divulgação, enquanto idealizámos uma estratégia para levar o Acordo a discussão nos órgãos do governo do IST”. Relativamente à adesão, afirmou que “a página do Facebook gerou bastante interesse, ao ponto de ter hoje mais de 700 seguidores e de chegar, em média, a mais de 15 mil pessoas. Da parte dos alunos tivemos muitas demonstrações de apoio. Alguns docentes também têm mostrado simpatia e interesse pelo nosso trabalho. Queremos transmitir à comunidade do IST as verdadeiras implicações do AO e as suas inúmeras contradições”.

Reprovado
Foi na quinta-feira da semana passada que na Assembleia Geral de Alunos, a AEIST rejeitou o AO no seguimento da aprovação de uma moção com quatro pontos, votados individualmente. Tornou-se, assim, a primeira Associação de Estudantes do país a rejeitar oficialmente o Acordo.Para João Fabião, conseguir “aprovar uma moção em Assembleia Geral de Alunos (AGA) pela rejeição do AO é uma pequena mas significativa vitória. A AGA é o órgão soberano da AEIST, a associação que representa todos os estudantes do IST. E o IST é a maior e mais prestigiada escola de engenharia e tecnologia do país. A aprovação da moção significa, sem margem para dúvidas, que os alunos do IST rejeitam este Acordo”.Questionado sobre qual o próximo passo do movimento, o porta-voz do “Desacordo Técnico”, responde: “Nesta questão ainda há muito que podemos fazer. Por um lado, queremos continuar a levar a discussão do AO aos órgãos de gestão do IST. Já conseguimos colocar este assunto na ordem de trabalhos da Assembleia da Escola, um órgão consultivo que representa os três corpos da escola. Por outro lado, gostaríamos de sensibilizar outras Associações de Estudantes e Associações Académicas para a rejeição do AO, de forma a dar início a um movimento nacional de estudantes do Ensino Superior contra o AO. Nos nossos objectivos está ainda uma recolha de assinaturas para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (cedilha.net/ilcao).

Exemplo
Esta acção de cidadania e de participação em defesa da Língua portuguesa é um exemplo para outras associações de estudantes emPortugal.João Fabião concorda e acrescenta que “a AEIST é uma das maiores e mais organizadas associações de estudantes do país. Pensamos que aprovação da moção em AGA tem um grande peso simbólico, porque mostra que é possível fazer a diferença. É possível rejeitar o AO”.

O DIABO não resistiu a perguntar-lhe se não seria de esperar que fossem alunos de Letras os primeiros a fazer algo semelhante, ao que o responsável pela moção respondeu: “Quanto aos alunos de outras Faculdades, não podemos comentar. Mas o Instituto Superior Técnico sempre teve uma tradição de intervenção em diversos domínios da sociedade”.

Para além dessa atitude, há uma questão pertinente que são as grandes diferenças na terminologia técnica utilizada pelo português europeu e pelo português do Brasil. Aqui não há, nem haverá, a “unificação” milagrosa que garantem tantos defensores do AO. Um aspecto curioso a esse propósito é a utilização de manuais em inglês por muitos dos estudantes de Engenharia. O DIABO falou com Joana Alemão, aluna do curso de engenharia informática, que afirmou preferir os manuais em língua inglesa às traduções brasileiras, devido às enormes diferenças nos termos técnicos. Uma situação que é comum naquele estabelecimento de ensino superior.

Combate legítimo
Por fim, O DIABO confrontou o porta-voz do “Desacordo Técnico” com a afirmação, muito comum, de que lutar contra o AO é um “combate perdido”. João Fabião respondeu que “se nada fizermos, será com certeza um combate perdido. Mas nem por isso deixa de ser menos legítimo. No IST, para além da preparação técnica e curricular, sempre nos incentivaram a batermo-nos pelo que achamos correcto, contra o que consideramos mau e injusto. Por isso pouco importa se é um combate perdido. Este AO é um desastre e um absurdo, e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para rejeitá-lo”.

 

A Moção

Ponto 1 – Proposta de “abandono do Acordo Ortográfico de 1990 em todos os documentos e comunicações oficiais da AEIST”;
Ponto 2 – Proposta uma “tomada de posição pública da AEIST contra o Acordo Ortográfico de 1990”;
Ponto 3 – Proposta da “defesa, por parte da AEIST, da revogação do Acordo Ortográfico de 1990 junto dos órgãos de governo do Instituto Superior Técnico, assegurando que nenhum estudante seja prejudicado por recusar escrever segundo o AO”;
Ponto 4 – “Proposta de revogação do Acordo Ortográfico de 1990 em Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), no sentido de dar início a um movimento nacional de estudantes do Ensino Superior contra o AO”.

[Transcrição integral do artigo de Duarte Branquinho no jornal “O Diabo” de 22 de Maio de 2012.]

 

[Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito (quando dizem ou se dizem) e são por definição de interesse público (quando são ou se são).]

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1 comentário

    • Ana Isabel Buescu on 29 Maio, 2012 at 18:32
    • Responder

    Saúdo a posição dos estudantes; no meio de tanta apatia, é um grande sinal esta demonstração de cidadania conta este “Acordo”. É urgente desmascarar o “A”O, que significa
    – precedência de critérios de natureza política e económica, nomeadamente interesses dos grandes grupos multinacionais de informática, sobre os critérios científicos (15 pareceres científicos são muito críticos, apenas um, do A. do “Acordo”, é elogioso);
    – acto de indevido poder político, de resquícios coloniais, ao ser um acordo proposto e assinado por 2 países à revelia de todos os outros que, usando a Língua Portuguesa, alcançaram a independência política e não foram convidados a pronunciar-se sobre o assunto;
    – imposição de natureza política sobre a língua, totalmente inaceitável;
    – falta de consciência histórica, ao não considerar que as línguas são organismos vivos, com específicas derivas legítimas, e que por isso, quer o Português Europeu quer o Português do Brasil e todos os outros dos PALOPs não podem ser “acorrentados” a um espartilho absurdo, sem efeitos práticos e inaceitável;
    – destruição da norma ortográfica, através de um sem número de facultatividades que minam a coerência linguística e anulam o efeito de “unificação” pretensamente perseguido;
    – consequente instauração do caos ortográfico, como está aliás à vista nos meios de comunicação e nas posições pessoais;
    – falência de um dos argumentos decisivos dos defensores de tal “Acordo”, ou seja, o argumento da unificação ortográfica;
    – má-fé e falência do argumento de que um AO “facilitaria a comunicação e o fortalecimento do Português nas instâncias internacionais”. Não há incompreensão, através da língua, portuguesa, entre falantes portugueses, brasileiros e outros países de língua oficial portuguesa. A analogia internacional de casos semelhantes vale aqui: nunca um tal acordo foi necessário quer para o inglês, quer para o espanhol, quer para o francês. Com o português, estas são as 4 línguas que, através da expansão colonial, passaram para outros continentes;
    – perda de identidade histórico-linguística, ao serem levadas a um nível residual, do ponto de vista ortográfico, as ligações ao Latim, ligações que distinguem a generalidade das línguas cultas europeias;
    – desaparecimento do português europeu das instâncias políticas e culturais internacionais;
    – desaparecimento do português europeu dos leitorados e Universidades estrangeiras com ensino de Português:
    – desaparecimento do português europeu de instrumentos de comunicação como a Wikipédia ou a BBC (v. respectivo site), onde já só surge, entre as várias línguas, o “Brazilian”. O “Portuguese” desapareceu.
    E por favor, quem estiver de acordo com o acima dito, DISPONHA DE UNS MINUTOS, DE UMA IDA AO CORREIO, E ASSINE A ILC!!!!

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