«cedilha.net/ilcao» [Manuel Luís de Bragança, “Público”, 19.02.12]

O título deste texto são as coordenadas do quartel-general da resistência ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO/90). Muitas pessoas já por lá passaram e assinaram a petição em curso, contribuindo para engrossar as fileiras da resistência activa contra a prepotência e o disparate que é a implementação do AO/90. O objectivo é conseguir as assinaturas necessárias para que a petição, a entregar na Assembleia da República, seja considerada como uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos com o objectivo de revogar a Resolução da Assembleia da República n.º35/2008 que determina a aplicação do AO/90.

Mas faltam ainda muitas assinaturas, por isso este apelo que hoje faço a toda a gente que acha que tirar o acento ao cágado é humilhante para a criatura, que ver Clara a boiar não teria sido certamente a intenção do prémio Nobel autor de Clarabóia, ou que não esteja minimamente de acordo com a transmutação absurda de espectadores em bandarilheiros. Um apelo sério a que passem por lá, leiam e assinem a petição, juntando assim a sua força à dos muitos que já assinaram entre os quais me encontro eu, a Dulce, minha mulher, os meus filhos Rita e Pedro; pessoas que trabalharam ou trabalham ao pé de mim, como o Nunes, o Zé P., a Ana, a Patrícia, o Tomás, a Alexandra, a Margarida; pessoas conhecidas, como o Pedro Tamen, o Jorge Molder, a Maria José Abranches, o Vasco Graça Moura, o Ricardo Araújo Pereira, o Zé Diogo Quintela, a Rita Ferro, e muitas mais, assinaram a petição no site http://cedilha.net/ilcao.

Com o bruá provocado pela decisão de Vasco Graça Moura de suspender a aplicação do AO/90 no Centro Cultural de Belém, uma demonstração de coerência que abalou os alicerces da inteligentzia indígena pouco habituada a lidar com vertebrados, este é o timing perfeito para divulgar, assinar e participar na Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o AO/90. Por isso apelo aqui e agora, no jornal PÚBLICO, ele próprio um bastião de resistência, a todas as pessoas que ainda lá não foram, a si que está a ler-me neste preciso momento, ao Miguel Esteves Cardoso, aos discriminados do Expresso, ao José Cutileiro, ao Pedro Mexia, ao Miguel Sousa Tavares, à Inês Pedrosa, ao Manuel Fonseca; passem lá pelo QG da resistência ao AO/90 em http://cedilha.net/ilcao. Dêem a vossa contribuição para que o bom senso prevaleça sobre a parvoíce; façam um bocadinho mais do que “eu cá vou continuar a escrever à minha maneira”. Peço-lhes que vão lá, leiam, assinem e divulguem. Seja por caturrice, por lucidez, por patriotismo ou por ser português. Seja
pelo que for, mas que seja.

Manuel Luís de Bragança

[Transcrição integral de artigo da autoria de Manuel Luís de Bragança publicado no jornal “Público” de hoje, 19.02.12. Link disponível apenas para assinantes do jornal.]

Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.

[Publicado às 17:32 h, a partir de PDF recebido por email]

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3 comentários

    • Gisela Pereira on 19 Fevereiro, 2012 at 23:48
    • Responder

    «O título deste texto são as coordenadas do quartel-general da resistência ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO/90).»

    O destaque merecido.

    • Luis Canau on 20 Fevereiro, 2012 at 12:35
    • Responder

    “Cágado”? Não havia necessidade. O AO tem disparates suficientes, mas há uma tendência para se irem buscar aqueles que nele não se compreendem. O AO não pretende remover a acentuação nas palavras esdrúxulas, ainda que tal tenha chegado a ser considerado. De facto, quando se discutia o AO, algures nos anos 80, chamou-se a atenção para frases como “tenho cagado no quintal”. Outra insistência é em facto/fato, como exemplo máximo dos horrores do AO, quando este preconiza dupla grafia neste caso. Mas é um facto que até quem aplica o AO, como o DN, utiliza erroneamente “fato”.

  1. Quem aplica o AO90 aplica uma norma que não foi ratificada por todos os signatários daquela porra! Logo, está a cometer uma infracção, que deveria ser punida com… 40 vergastadas valentes nas mãos, que já estou farta de ler uma língua em que já não me reconheço!! Eu não vivo no Brasil, vivo em Portugal, que é um país europeu, seja isto, nos dias que correm, uma maldição, ou não, uma fatalidade, ou não! É na minha cultura, na minha língua, na minha biblioteca (criada, ao longo dos anos, com esforço) – tudo emanações da cultura greco-latina – onde me refugio e dilato o espírito! Não a quero aviltada ou “actualizada” pelo grifo das mentes tolas que forjaram este acordo.

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