António de Macedo subscreveu a ILC

António de Macedo, escritor, cineasta e professor universitário, nasceu em Lisboa em 1931.

Inclui na sua extensa filmografia dezenas de documentários, programas e séries de TV, bem como onze longas-metragens de ficção, entre as quais Domingo à Tarde (1965), A Promessa (1973), As Horas de Maria (1976), Os Abismos da Meia-Noite (1983), Os Emissários de Khalôm (1987), A Maldição de Marialva (1990), Chá Forte com Limão (1993), etc. Até à data publicou os seguintes romances e colectâneas de contos de FC&F: O Limite de Rudzky (1992), Contos do Androthélys (1993), Sulphira & Lucyphur (1995), A Sonata de Cristal (1996), Erotosofia (1998), O Cipreste Apaixonado (1999), As Furtivas Pegadas da Serpente (2004), A Conspiração dos Abandonados (2007) e O Sangue e o Fogo (2011), – bem como os seguintes ensaios: A Evolução Estética do Cinema (1959-1960), Da Essência da Libertação (1961), Instruções Iniciáticas (1999), Laboratório Mágico (2002), O Neoprofetismo e a Nova Gnose (2003), Esoterismo da Bíblia (2006), Textos Neo-Gnósticos (2006) e Cristianismo Iniciático (2011).

Em Maio de 2007 recebeu o Prémio Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores, e em 2010 doutorou-se em Sociologia da Cultura pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Sobre o AO90, transcrevemos de seguida, com a devida vénia e porque nos parece ser de interesse público, um trecho da mensagem do Professor António de Macedo.

É inevitável trazer à lembrança a famosa passagem de Bernardo Soares / Fernando Pessoa no Livro Desassosssego, em que diz:
“…Minha pátria é a língua portuguesa. […] Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”

A violenta desfiguração que o novo Acordo quer impor à língua é um crime grave. Com ele, a língua original do trovador D. Dinis, de Gil Vicente, do Pe. António Vieira… passou a ser um sub-dialecto do brasileiro, que nem os brasileiros reconhecem, porque eles continuam a escrever aspecto, perspectiva, espectador, excepcional, concepção, recepção… e nós com o novo Acordo passamos a escrever aberrações como aspeto, perspetiva, espetador, excecional, conceção, receção…

O iluminado legislador que produziu a novo AO parece ignorar a tendência fonogrâmica das línguas, a inevitável “colagem” da letra à fonética. Quando vejo escrito, como agora, conceção e receção, por exemplo, a minha tendência é pronunciar como concessão e recessão… A tendência fonogrâmica do português brasileiro é abrir os sons, ao passo que a do português de Portugal é fechá-los. Por isso a grafia constitui uma marca distintiva fundamental. Por exemplo, o novo AO quer que se escreva afetar e adotar, tal como no Brasil, em vez de afectar e adoptar. Com ou sem as letras aparentemente mudas como o “c” ou o “p”, o brasileiro pronunciará sempre àfètár e àdòtár, ao passo que português sem o “c” e sem o “p”, terá a tendência fonogrâmica de pronunciar âf´tár e âdutár. Se passo a escrever correto em vez de correcto, terei tendência, enquanto português, para pronunciar kurrêto, como em carreto ou coreto…

Enfim, como o dispositivo legal que promulga o novo AO é uma Resolução da Assembleia da República, e não uma Lei ou um Decreto-Lei, terá sempre o mero valor de recomendação, ao contrário de um Decreto-Lei que é vinculativo.

Chamo a atenção que o Decreto-Lei que promulga o Código do Direito de Autor e Direitos Conexos, na hierarquia legislativa, sobrepõe-se a uma resolução da AR, por isso sugiro aos Autores que se não conformam com a nova ortografia e desejem continuar a escrever como os nossos pais nos ensinaram, que leiam atentamente o n.º 1 do Art. 56.º do Código do Direito de Autor, em articulação com o Art. 93.º do mesmo Código. Nós, Autores, temos sempre a “opção ortográfica de carácter estético” a nosso favor.

António de Macedo subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do “acordo ortográfico”.

Nota: esta publicação foi autorizada pelo subscritor, que nos enviou, expressamente para o efeito, a fotografia e a nota biográfica.

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15 comentários

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  1. O que se lê aqui é inteligente. E tão simples, meu Deus! Como não entendê-lo!
    Cumpts.

    • antonio andrade on 19 Janeiro, 2012 at 13:45
    • Responder

    Nós somos de facto de brandos costumes; esta dicotomia, este ‘buraco’ legal é bem da traça dos politiqueiros de turno que nos (des)governam; lembro-me, em igual contexto, do decreto-lei produzido pelo governo Guterres em resposta às vociferantes vozes dos autarcas das juntas de freguesia com maior dimensão – ‘as juntas de freguesia passam a ter a capacidade para se endividarem sem depender do beneplácito da respectiva Câmara Municipal, conforme Normas a publicar’; com um laivo maquiavélico tais Normas nunca se publicaram : nunca as Juntas de Freguesia puderam contrair empréstimos fora da alçada das Câmaras … mas esta atitude liquidou a estridência da reivindicação. Até hoje. 2 em 1, como o Vidal Sassoon …

    Do mesmo modo, creio ser admissível que em relação ao acordo ortográfico se tenha passado exactamente o mesmo -atitude salomónica :
    – agradar à maioria parlante do outro lado do Atlântico que impõe a maior parte dos atalhos nos quais assenta a revisão em apreço,
    – e mantendo uma janela para que façamos o que nos apetecer;
    ou isso, ou simples erro ou incompetência, qualificativo ao qual o nosso eu colectivo está cada vez mais habituado; prefiro pensar ter sido a primeira opção, por mais inteligente.

    Pena é que haja um afã de ‘mostrar serviço’ por parte dos nossos media, demonstrando uma observação das leis, que para muitos, como nós, achamos não passar de observação servil e de obediência canina a um abastardamento da língua matriz;

    Grato por se incorporar no número dos que achamos dever manter o recorte da língua tal como a aprendemos, porque, afinal, é isso que permite proferir palavras habitadas; com o que é genuinamente nosso, com aquilo que nos faz perceber instintiva e automaticamente que um texto não foi redigido no sertão brasileiro.
    Bem haja

    • vitor cambra on 19 Janeiro, 2012 at 14:21
    • Responder

    Portugal está à venda, a retalho !
    Vendem-se licenciaturas a políticos incompetentes,aos amigos lugares em conselhos de administração de empresas participadas pelo Estado, a U.G.T. vende-se, alienando direitos dos trabalhadores portugueses, vende-se a língua portuguesa.
    Ninguém quer, porém e infelizmente, comprar (mesmo a custo zero) estes vendilhões…

    • Gonçalo J.S. os Reis Torgal on 19 Janeiro, 2012 at 22:32
    • Responder

    Uma verdadeira vergonha. Perdemos totalmnte a soberania e a Pátria. Não passamos de um país ocupado que perdeu o sentido de Pátria. Andamos ao mando da TROYKA (que porra de nome lhe puseraam) e da indignidade de quem (des)governa desde há vinte/trinta anos. Por um prato de lentilhas vndemos a Língua, a Pátria , como lembrava Pessoa. Nada resta,

    • José Manuel Moura on 19 Janeiro, 2012 at 23:32
    • Responder

    Na minha idade, 73, já ninguem me obriga a escrever ou ler com uma ortografia estúpida. Tenho muita pena e apreensão em relação aos meus filhos (4), netos (10) e bisneto (1) que não vão saber ler e entender todo o nosso rico espólio literário.

  2. E no final de tudo pergunta-se…: e para quê?

    • anabela Balbi on 22 Janeiro, 2012 at 20:50
    • Responder

    Tenho 49 anos sou portuguesa não aceito escrever da forma disparatada que nos impuseram. Quando acrescentaram a palavra bué ao nosso dicionário questionei-me porque não deslarga-me? É isso mesmo os nossos iluminados deviam mesmo era deslargarem este pobre povo que tudo aceita com o dislumbre dos idiotas

    • Mario Siqueira on 27 Janeiro, 2012 at 14:03
    • Responder

    AO90 é anti-matemático!

    A nova ortografia criou mais diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal do que as que existiam antes!

    Mas, o propósito não era aproximarem-se?

    Simples perguntas para as quais nenhum acordista tem respostas: “Quando os escritores/leitores brasileiros se queixaram de não entender os livros escritos na ortografia europeia? Quando os escritores/leitores portugueses se queixaram de não entender o que se escreve no Brasil? Desde quando os brasileiros deixaram de ler Saramago? Quem foi que inventou que um português precisa escrever ‘rutura’ ou ‘receção’ para ser entendendido por um brasileiro que escreve ‘recePção’ e ‘ruPtura’?

    Será que estou louco em achar que nada np AO90 faz sentido? Será culpa de minha idade avançada?

    • Linda B. on 28 Janeiro, 2012 at 20:13
    • Responder

    Arrepiante conclusão: – Quem decide e nos governa dá erros de ortografia; tornando a ortografia informe e anárquica, acabam-se os erros ortográficos; para os detectives da língua, a investigação etimológica fica mais confusa porque perdeu a sua lógica. Assim, o “espectador” aquele que observa, dá agora lugar ao “espetador”, aquele que espeta; também aqui nestas reformulações ortográficas, o nosso governo pratica a anunciada morte dos valores, reflexo do neo-neo-liberalismo e do mercado livre, o paraíso dos especuladores (ainda a doer na carne a consequente crise mundial, mas que longe que isto nos leva!…). Esta será mais uma pequena gota na taça da desestabilização politico-social, que só interessa ao mais forte; pergunto eu:- Rapazes, não estamos já no tempo de assumir que enveredámos por um caminho errado? Isto recorda-me aquele quadro de Bruegel o Velho, em que confiadamente, um cego vai a conduzir um grupo de cegos como ele, em direção ao abismo.

  3. Argumentação simplesmente magnífica!
    J. Lança

  4. Como desde o princípio, ou talvez ainda com maior convicção, continuo adversário declarado famigerado AO. Assinei a petição que andou pela net há um ou dois anos mas não me recordo se terei aderido à iniciativa legislativa que também por aí circulou. Como é óbvio não tenciono mudar de opinião e continuarei a escrever o melhor que souber o português tal como aprendi ao longo da vida.

    É reconfortante verificar que tenho do meu lado da barricada numerosa e honrosa companhia. Entre tantos contam-se conceituados cultores da língua, membros destacados da inteligentzia nacional e figuras respeitadas nos mais variados sectores da cultura nacional. Por isso fiquei muito satisfeito ao tomar conhecimento da recente atitude do Dr. Graça Moura no CCB e ao ler os recentes artigos dos profs. Vilaverde Cabral e António Macedo. Tenho esperança de que a iniciativa legislativa dê os frutos esperados pelos seus promotores para bem da língua, da cultura e da identidade portuguesas. É preciso não desarmar nesta luta. Estou certo de que as futuras gerações agradecerão.

    • António Pinheiro Lourenço on 11 Fevereiro, 2012 at 15:32
    • Responder

    Como é que se pode aderir a um movimento que impeça que a Língua Portuguesa seja assim “vandalizada”?

    1. http://ilcao.com/?page_id=18

    • Elysio Malheiro Dias Correia Ribeiro on 24 Abril, 2012 at 18:08
    • Responder

    Há anos que venho lutando contra este aborto ortográfico! Infelizmente, na minha profissão, sou OBRIGADO a utilizá-lo, se quiser trabalhar… Mas há concessões que não faço: recuso escrever “pára”, do verbo parar, sem acento, recuso escrever “pêlo” sem acento, e não abdico das consoantes mudas, quando a sua falta possa levar a confusões. Mas que país de medíocres, este…

    • Joaquim José das Neves Gonçalves on 19 Fevereiro, 2014 at 21:59
    • Responder

    Os últimos comentários que aqui foram feitos têm dois anos, dando razão a quem apelida os portugueses de gente de brandos costumes… de carneirada.
    Nada foi feito, pelo menos que se saiba, contra esta aberração que os políticos portugueses nos impõem. A resolução da AR passou a ser aplicada em todo o lado, nos organismos do Estado, na escola e até nas empresas e sector privado, como se de uma lei se tratasse. Portugal impôs a si próprio um acordo que os outros países não assinaram: nenhum PALOP assinou! E, no Brasil, já se fala em “brasileirês”!!!
    E os nossos intelectuais o que têm feito? Continuam a falar cada um para o seu umbigo!
    Quando vamos ter o prazer de umas jornadas ou de um congresso para darmos o murro na mesa?
    Porque esperam intelectuais do meu país?!
    Podemos pensar que tudo está sob a ditadura das editoras e da google?
    …” Se isto é Portugal, prefiro ser espanhol!”
    A história repete-se!

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