Editorial
Os equívocos da afirmação do português
A afirmação da língua portuguesa no mundo tem esbarrado com medidas que contradizem essa miragem
A afirmação da língua portuguesa no plano internacional é uma promessa recorrente. Basta ir ao programa do Governo de Passos Coelho para ver que se promete “acautelar um serviço eficiente no ensino e divulgação da língua portuguesa no mundo” (pág. 104) e “apoiar o reforço do papel do português como língua de comunicação internacional junto das instâncias internacionais” (pág. 122). Para isso, o Governo dizia que “acompanhará a adopção do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, garantindo que a sua crescente universalização constitua uma oportunidade para colocar a língua no centro da agenda política, tanto interna como externamente”. Isto foi o que se prometeu. Mas a promessa, pelos vistos, ficou-se pelo acordo. Porque “a afirmação da língua portuguesa como grande língua internacional”, como a defendeu neste jornal Jorge Miranda, em Julho, a pretexto da necessidade de aplicar rapidamente a nova ortografia, tem esbarrado com uma série de medidas que deitam por terra essa miragem. Começou, em Março, com o triste caso do regime das patentes na Europa, de onde o português foi arredado. E continua agora com o anunciado fim da Euronews em língua portuguesa, a concretizar-se em 2012; e com o recente anúncio da supressão de cerca de 65 cursos de Português no estrangeiro.
Será que a crença no “milagre” da ortografia tirou, de vez, o discernimento a quem decide, para se dar ao luxo de cortar num lado o que se diz que tem de crescer por outro? É preciso que, de uma vez, fique claro: a defesa do português é incompatível com medidas que sucessivamente o menorizam e tornam periférico. Quem pensa que o polémico acordo ortográfico possa vir a tapar tamanhos “buracos” desiluda-se. A continuar assim, o português vai direito ao abismo. Sem acordo que o salve.
[Transcrição integral do Editorial da edição de hoje, 02.12.11, do jornal Público. Link disponível apenas para assinantes.
Nota: os conteúdos publicados na imprensa que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.]
6 comentários
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Não me parece normal que seja o filho a ensinar o pai: o contrário parece-me mais lógico.
Se os brasileiros querem uma nova língua à maneira deles, que a falem eles, quanto a nós continuemos a utilizar aquela que os nossos antepassados nos ensinaram eque Herculano, Camilo, Eça, e tantos outros ilustraram.
Afonso Rocha
A respeito do tema do artigo:
http://educar.wordpress.com/2011/12/03/pela-blogosfera-34/
“É uma vergonha calarmo-nos e deixarmos falar os bárbaros” (Eurípides)
O “Público”, mais uma vez, chama à ribalta o Acordo Ortográfico, com o desassombro e a hombridade com que, desde Dezembro de 2009, o tem questionado e a ele se tem oposto! Os portugueses agradecem!
É necessário denunciar insistentemente este Acordo, pois, ao contrário do que nos querem fazer crer, estamos muito a tempo de evitar que ele seja definitivamente aplicado.
É preciso saber e divulgar: há seis anos para a entrada em vigor generalizada do Acordo (Resolução da Assembleia da República n.º35/2008), a contar de 13 de Maio de 2009, data do depósito do “instrumento de ratificação” do Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (MNE, Aviso n.º 255/2010)!
É também indispensável que se entenda, uma vez por todas, que este Acordo foi feito para promover a “internacionalização” do português do Brasil (que não é o nosso!), mediante a descaracterização e a anulação do português de Portugal, a nossa língua materna! Se isto não é traição, não sei o que seja! Daí que os nossos governos nada tenham feito para cuidar da nossa língua, como refere o “Público”: estão, no nosso sistema educativo a “desalfabetizar” criminosamente os portugueses, abandonam os emigrantes e seus descendentes, recusando-lhes o ensino da sua língua, nada fazem para defender e promover a nossa língua materna na Europa, de que somos parte integrante, e gastam “rios” do pouco dinheiro que temos ao serviço deste Acordo (veja-se designadamente o “Fundo da Língua Portuguesa” e a RTP…)!
Recusemos este Acordo, pois é a única atitude decente para qualquer português!
Na verdade o único português que se ensina no estrangeiro é o PT-BR. Inclusive em países europeus. O português de Portugal está a desaparecer e (vergonhosamente) com a ajuda de muitos portugueses. Espero que não se ofendam mas, muito portugueses não se importam com tal assunto. Vocês devem, sem falta, unirem-se para defender a sua língua.
http://www.learn-portuguese-now.com/brazilian-portuguese-lessons1.html
Argentina
http://cursodeportuguesbrasilero.blogspot.com/
Americanos
http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/eua-enviam-americanos-para-novas-oportunidades-no-brasil/1538549/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20110616/page/1
Itália
http://www.brasiliano.it/corso/
Espanha
http://www.ceb-barcelona.org/
Rússia
http://www.rtp.pt/noticias/?t=Russos-aprendem-portugues-com-sotaque-brasileiro.rtp&headline=20&visual=9&article=390697&tm=7
Parabéns por sua luta!
«O único português que se ensina no estrangeiro» parece-me uma generalização mui pouco rigorosa com base em tão parcas fontes. Mas entendemos-lhe a subtileza… Mui menos subtil é a grafia macaca do Bichara e do seu impedido Casteleiro a alçar o brasileiro por português para ensinar em Portugal. Menos subtil e por demais afrontoso. Que haja estrangeiros querendo aprender brasileiro em vez de português é sintomático de outra cousa. Por mim, se quero aprender francês não hei-de procurar canadianos.
Cumpts.
Caro Bic, o seu comentário brilha pela precisão e clareza… isto está de tal modo, que, a minha filha, que já pertenceu ao IC e ensinou a nossa bem-amada Língua em Espanha, acabou por desistir, tais os obstáculos que lhe puseram, e agora está a ensinar… Espanhol, em Portugal… Comentários para quê? Foi uma artista portuguesa…
Tristes tempos estes, que nos é dado viver.
Cumpts