"Português universal" a pataco [João Roque Dias]

«Entre o português utilizado (pela fala e pela escrita) em Portugal e o português utilizado (pela fala e pela escrita) no Brasil, as diferenças mais insignificantes são as ortográficas: nunca as consoantes mudas – é bom não esquecer que o acordo foi fabricado para acabar com esta diferença ortográfica entre Portugal e o Brasil – impossibilitaram a compreensão de qualquer texto.

As maiores diferenças – as que impedem frequentemente uma compreensão natural e escorreita da língua escrita pelos falantes da outra norma – residem no modo como são utilizados o léxico e a gramática. São estas diferenças que inviabilizam em termos práticos a utilização em Portugal das traduções feitas por brasileiros ou a utilização no Brasil das traduções feitas por portugueses. Refiro-me aqui, exclusivamente, às traduções de textos especializados (os linguistas chamam-lhes textos pragmáticos) necessários à vida dos cidadãos, das empresas e das organizações públicas, como a tradução de literatura técnica diversa ou de outras áreas, como o direito, a economia, a medicina, etc.

Esta inviabilidade é pacificamente aceite, há já muitos anos, pela indústria das línguas: tradução para Portugal e os países africanos-asiáticos-oceânicos de língua portuguesa é para ser feita por tradutores portugueses ou dos respectivos países e tradução para o Brasil é necessariamente para ser feita por tradutores brasileiros.

Subverter este princípio básico é abrir a porta ao disparate grosso e abundam os exemplos quando tal aconteceu. Por uma estranha extensão deste conceito, já cristalizado em todo o mundo, os clientes de tradução pedem-nos também traduções em português cabo-verdiano, angolano, moçambicano, timorense, etc. Os mais espertos (bem…é só fazer as contas…) pedem-nos até traduções redigidas num português “universal” ou “internacional”, para permitir a sua utilização directa, i.e., sem qualquer adaptação, do Minho a Timor com passagem pelo Brasil!

Os acordistas, defensores do “português universal e expandido”, que o escrevam! Não irão faltar trapaceiros que lhes comprem o serviço, desde que seja a pataco! Faltarão, isso sim, é pessoas que o consigam ler com proveito!»

João Roque Dias (http://www.facebook.com/roquedias)

Isabel Baptista (http://www.facebook.com/isaklok)
Nota posterior à publicação deste “post” 1: o verdadeiro autor deste texto, João Roque Dias, alertou-nos para o facto de o mesmo ter sido copiado e colado, vulgo plagiado, pela pessoa cujo nome agora aparece aqui riscado.

[comentário em http://www.causes.com/causes/220084-n-o-queremos-o-acordo-ortogr-fico.

Nota posterior à publicação deste “post” 2: o autor deste “post” foi induzido em erro pela autora do “comentário” referido, o qual afinal não passava de uma cópia de parte de um texto da autoria de João Roque Dias publicado em 18.06.08, conforme se pode verificar AQUI. Ao verdadeiro autor devo apresentar as minhas desculpas por não ter verificado a genuinidade da autoria antes de publicar.

Inserção de parágrafos, destaques e sublinhados nossos.
Imagem de Digital Productions (GlobeRed).]

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9 comentários

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    • Renata Jesus on 5 Novembro, 2011 at 17:49
    • Responder

    Desculpem, mas será que percebi bem. Querem alterar a nossa língua para que haja traduções universais e daí menos dinheiro pago pelas adaptações?
    Francamente. Destruir uma língua tão linda por razões tão…

    • Joana Dias on 5 Novembro, 2011 at 20:29
    • Responder

    O novo Acordo Ortográfico nada mais é do que um mero acordo económico, porque portugueses são 11 milhões e brasileiros são uma estimativa de 192 milhões. É muito mais viável, especialmente, para a indústria das “escritas” haver um acordo ortográfico universal, pois o lucro, a avaliar pela população brasileira, é 20 vezes maior. Para além de que, este acordo foi assinado por politicos que sabem menos da nossa língua do que nós, os comuns. Tanto, note-se, que a maneira actual, ou “atual”, como escrevemos não corresponde à fonética.
    Independentemente do dinheiro que interessados hão de facturar com este acordo, é da minha opinião que não deveria haver dinheiro que pagasse/ comprasse o orgulho que temos pela nossa pátria e pela herança cultural, sendo a mais importante: a língua.
    Não é preciso irmos longe com exemplos para perceber que só Portugal é que abdica desta herança em prol de interesses económicos. Exemplifico com os EUA e com a Grã-Bretanha. Desde de sempre que o inglês britânico e americano é distinguido. Os americanos dizem sempre que falam americano e não inglês e, este exemplo, solidifica o que tenho vindo a escrever acerca da herança cultural e o orgulho pela pátria. O americano sente orgulho e não abdica da sua herança, Portugal aposta no adverso.

    • João Roque Dias on 5 Novembro, 2011 at 22:48
    • Responder

    A “autora” deste texto — Isabel Baptista — deveria ter tido a vergonha e a decência de lhe atribuir a devida origem e autoria. Para que conste, aqui está o meu texto original: http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com/2008/06/afinal-ensaio-sobre-cegueira-no-apenas.html

    1. Caro João Roque Dias, apesar de isto ter sucedido de forma involuntária, como é evidente, peço desculpa por não ter verificado antes de publicar a genuinidade da autoria. Devo confessar que nunca me passou pela cabeça que alguém pudesse fazer uma coisa assim e, ainda por cima, de forma tão descarada. Naquilo que estiver ao meu alcance, porém, este plágio execrável será denunciado, a começar pelo próprio “post”, que só não apago porque já está demasiadamente difundido e comentado.

    • Manuela Carneiro on 5 Novembro, 2011 at 23:42
    • Responder

    O JPG acaba ficando numa situação complicado por causa de gente que não respeita os textos alheios.

    • João Roque Dias on 5 Novembro, 2011 at 23:57
    • Responder

    Caro JPG, não tens que me pedir desculpa. A situação é, infelizmente, caricata e, como dizes, “descarada”. Muito obrigado pela correcção do teu “post”.

    • Paulo Ramos on 6 Novembro, 2011 at 2:07
    • Responder

    Como tradutor, já começo a sentir na pele (leia-se na bolsa, como se já não bastassem os aumentos dos impostos decretados pelo governo!) as consequências desta monstruosidade que dá pelo nome de AO. Em vez de traduções (já de si quase sempre mal pagas) agora pedem-me para fazer de bate-chapas e passar de MAU/PÉSSIMO brasilês (nada de chauvinismo mas, talvez por azar meu, NUNCA tive o prazer de ler uma tradução vinda de terras de Vera Cruz que pudesse classificar como boa), trabalho cujo pagamento proposto raia os limites da decência… E, por enquanto, ainda vão pedindo estas conversões macacas, mas penso que mais dia menos dia, como dizia em 2008 o deputado Fazenda (que nada fez para defender os interesses nacionais), vamos todos acabar por falar e escrever em jeito de samba do crioulo doido

    1. A Wikipedia PT já está toda literalmente em PT-BR. A Google já só retorna resultados em PT-BR à cabeça. E entenda-se por PT-BR, evidentemente, todas as estruturas gramaticais tipicamente brasileiras e não apenas a nível lexical.

    • Maria José Abranches on 7 Novembro, 2011 at 0:27
    • Responder

    “Fahrenheit 451”, lembram-se?

    E deste outro título, também de Ray Bradbury: “There’s More Than One Way To Burn a Book” (Há mais do que uma maneira de queimar um livro). E de queimar uma língua, uma literatura, uma História, a consciência e a vivência secular de um povo!
    Não há povo que abdique voluntariamente da sua própria língua! Estamos a viver a mais abjecta humilhação, na nossa própria casa, por decisão de políticos ignaros, eleitos por nós e que, sem o mínimo pudor, nos venderam e traíram! Todos! E, por favor, não invoquem o nome do “povo” em vão, quando são incapazes de o ouvir, de o representar dignamente e de o defender!
    E porque não se ouve, como seria normal, em qualquer parte do mundo, o clamor dos intelectuais, dos universitários, dos académicos, dos escritores, dos tradutores, dos professores, dos editores conscientes, dos jornalistas, de todos aqueles que se afirmam pela palavra e têm obrigação de indicar o caminho, de forçar a reflexão, de impedir este desastre? Não são capazes de se mobilizar e de se unir neste combate? Ou já não há neste país quem saiba o que é uma língua e a nossa em particular? Têm medo de ser considerados retrógrados, antiquados, “velhos do Restelo”? Já não há pessoas de carácter, espíritos livres e independentes, neste país? Para que nos servem os séculos de História que já temos, se perdemos o direito à nossa língua materna, permitindo que o português.br nos seja imposto, em todas as frentes e situações, como todos os dias se vai constatando? Ainda não perceberam o que está a acontecer?

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