Carta aberta aos deputados do PSD [Rocío Ramos]

De: Rocío
Data: 22 de Junho de 2011 17:46
Assunto: Cortar despesas – AO
Para: gp_psd@psd.parlamento.pt

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Estimados Senhores,

É provável que escrever na minha língua materna (Castelhano) fosse melhor ideia do que escrever em Português, com certeza saberia explicar de maneira mais inteligente aquilo que vos quero expressar, mas assumo o risco dos erros, gralhas e incorrecções gramaticais com a intenção de deixar patente o meu amor e admiração por um idioma que estudo há vários anos e que faz parte já da minha vida quotidiana, principalmente através da leitura: leio “online” os jornais portugueses e compro, com certa avidez, livros e mais livros em língua portuguesa.

Ainda assim, sou ciente de que me falta muito para escrever correctamente e por isso peço antecipadamente desculpas.

O motivo deste mail é questionar o vosso grupo parlamentar ao respeito de um inquérito público que efectuaram em Outubro de 2010 para recolher sugestões para cortes na despesa nestes tempos de crise. Desse inquérito resultou um relatório http://www.cortardespesas.com/ no qual (página 16) aparece a referência à “proposta relevante” (cita textual) apresentada por algumas pessoas rejeitando o Acordo Ortográfico de modo a evitar os custos que a sua aplicação imporá ao sector editorial.

Conhecedor o PSD da opinião de um amplo sector da população que se manifesta contra o citado AO, e sabendo que houve uma petição apresentada na AR que resultou num documento que recomendava revisar todo o processo, gostava, com a humildade de quem sabe que não faz parte do povo português por nacionalidade mas com toda a vontade de defender uma Língua que ama, admira e respeita, perguntar ao vosso grupo se considera adequada a nomeação de Francisco José Viegas para a Secretaria de Estado da Cultura uma vez que, é claro, não vai de encontro à vontade popular.

No desejo de que o PSD venha trabalhar na defesa da Língua Portuguesa, como já o está a fazer uma parte da cidadania, a parte mais e melhor informada ao respeito (quero pensar que se não é Portugal inteiro a “gritar” contra o AO é apenas por desconhecimento do que o tal vira supor), agradeço a atenção dispensada à leitura deste mail e envio-lhes saudações cordiais deste cantinho vizinho.

Atentamente,
Rocío Ramos Nieto
Zamora (España)

[Cópia recebida por email, enviado pela autora, que autorizou a publicação.]

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9 comentários

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  1. Escusado será dizer que, a haver resposta por parte dos deputados, ela consistiria (ou consistirá) exclusivamente em alguma evasiva do género “quem nomeia o gabinete ministerial é o Primeiro-Ministro, não os deputados do Partido mais votado”.

    De qualquer forma, parabéns pela extraordinária coragem que esta carta demonstra. Um exemplo de frontalidade que vem do estrangeiro e que por isso mesmo deveria ao menos dar algum alento aos portugueses para não se acomodarem a tudo e mais alguma coisa.

    • jose maneira on 7 Julho, 2011 at 19:43
    • Responder

    Bem haja Rocio!

  2. Um verdadeiro exemplo de camaradagem e amor pela língua Portuguesa,porque ao contrário de muitos esta senhora NO SE CALLA!

    Obrigado!

  3. Fala…fala…fala sempre, Rocío.

  4. Eu sou contra o AO90. Choca-me a consagração, na língua correcta, de normas inventadas para índios e para servirem objectivos chauvinistas e nacionalistas das juntas militares brasileiras. Se a língua é de todos, por que é que mandam os brasileiros? Por esse raciocínio, seriam os indianos a mandar no inglês.

    Mais ainda, dizer que a língua se vai “projetar” a nível internacional, é de completamente lunático. Quem que aprende uma língua por causa de 1 acordo ortográfico? E em que país é que se vai “adotar” o português como língua oficial? A Ucrânia, a Guiné Equatorial? Quantos milhões vão subitamente sentir a necessidade de aprender português?

    Outro argumento idiota tem a ver com o pseudo-facto de que a aprendizagem da língua se torna mais fácil. Não, não existem milhares de estudos linguísticos, bem documentados, que concluem que a ortografia é absolutamente irrelevante no processo de aprendizagem. Não, nada disso. E depois, coitadinhas das crianças polacas que só aprendem 8 declinações. Ou as criancinhas alemãs que aprendem palavras por aglutinação. Por outro lado, dizer que devemos seguir as peculiaridades ortográficas dum país estrangeiro, enfim, nem merece comentário. Mas podem sempre pedir opinião a um catalão quanto a espanholizar ainda mais a sua ortografia.

    Depois o argumento de normalizar e uniformizar a língua é de rebolar a rir. O ILTEC lista cerca de 200 prefixos que não existem no Brasil (letivo/lectivo, recessão/recepção, …) (logo que um brasileiro não percebe patavina) e tem cerca de 60.000 lemas em 250.000 com dupla grafia. Para não falar nas regras de acentuação etc. e tal. Por aqui estamos conversados.

    Sinto-me ofendido quando dizem que sou um “reaccionário, imobilista ou conservador”. Mas espanta-me que os defensores do progresso aceitem benevolamente uma idiotia política assinada pelo Dr. Santana Lopes, esse vulto político da nossa praça. Depois dizer ou o AO90 ou passamos a ser um dialecto europeu tipo o checo é de bradar aos céus da tanta alarvidade junta. Então o que fazer quando Angola formalizar que não ratifica o AO90, tal como já o fez Macau e Moçambique inclina-se para fazer o mesmo… por falta de 100 milhões de dólares para torrar nestas coisas bastante importantes.

    Outro ponto, prende-se com tanta ignorância jurídica quanto ao assunto. Um decreto-lei tem que ser explicitamente revogado, logo, ao dia de hoje, em Portugal, existem duas ortografias consagradas na lei, por muito que isso custe a boa gente. Juridicamente, a suspensão do AO90 até para isso seria benéfica.

    Por último, quanto é que isto custa? 10 milhões de euros, 20, 100? Quanto custa? Quantos impostos se vão gastar com isto? E o meu ponto é o seguinte: se se admitir que vamos gastar 50 milhões de euros, mas vale montar um gabinete de documentação de português nas Nações Unidas que custa 30 milhões a montar e 8 milhões anuais a gerir. Isto sim é investir na língua. E já agora, sem investimento, leia-se dinheiro, não há língua que se projecte. E a este nível, conto apenas o pormenor (que soube de viva voz quando estive em Varsóvia este ano) que a todos nos envergonha e que é o seguinte: o Estado Português não tem 1000 euros (por universidade) para comprar 1 colecção completa de Eça de Queiroz ou de José Saramago ou de qualquer outro autor, mesmo depois de dezenas de solicitações de várias universidades polacas e húngaras onde funcionam doutoramentos em Estudos Portugueses. No fim, foram uns supermercados com uma joaninha a doar os livros.

    • António Farias on 13 Julho, 2011 at 22:07
    • Responder

    É só nível, entre os detratores do AO… A começar numa ponta e a acabar na outra. Tende juízo.

    1. Isso dos “detratores” é em que língua?

      E a que ponta de início e a que ponta de fim se refere em concreto?

      Quanto à sua recomendação, muito agradecidos. É o que vamos tentando fazer. Não a podemos devolver, porém, já que obviamente no seu caso isso seria uma completa impossibilidade técnica.

  5. – Detratores são os políticos que aprovaram o AO sem consultar o povo. E realmente não temos juízo. Quem vota em traidores do País, só sendo maluco.

    • Carmen Medeiros on 5 Setembro, 2011 at 15:34
    • Responder

    Obrigada pelo seu apoio Rocio. Quem de nós irá redigir uma carta aberta para os parlamentares espanhóis agora que a Espanha em conjunto com suas ex-colónias acaba de alterar sua ortografia e inserir novas palavras em seu vocabulário?

    Cumpts.

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