A nossa ILC – balanço e contras

logótipo da ILC contra o AO Dois meses depois de iniciada a recolha de assinaturas, é chegado o momento para um primeiro balanço da iniciativa.

Muita gente nos tem perguntado como vai decorrendo esta acção, quantas subscrições já temos, qual é a média diária, etc. Pois bem, as surpresas têm sido muitas, de facto.

Não nos esqueçamos de que, além do mais, estamos a abrir caminho para outros. Somos uma espécie de “bandeirantes”, fazendo algo que nunca antes tinha sido feito e que até custa a crer a muita gente seja possível levar até ao fim e que venha a servir para alguma coisa.

A verdade, nua e crua, é que já poderíamos estar bastante mais adiantados naquilo que interessa (neste momento, a recolha de assinaturas, só), caso não tivessem ocorrido incidentes de percurso e se não tivessem sido cometidos erros entretanto. Primeiro, a prioridade era arranjar um entidade para patrocinar a causa; não aparecendo esta, a prioridade passou a ser a redacção da ILC; e isso fez-se! E logo se montaram, rapidamente, os processos para que os meios de subscrição da ILC fossem o mais simples e fáceis possível, dentro dos limites e requisitos impostos pela legislação em vigor. O que há agora é que levar a nossa ILC ao Parlamento, ou seja, é preciso juntar (mais de) 35.000 assinaturas. Nada mais interessa, para já.

Têm-nos chegado diversas recolhas de voluntários com 50, 100, 200, 300 assinaturas (e até mais), mas, em termos absolutos, temos neste momento cerca de 10% das assinaturas necessárias. É pouco? Sim, certamente, é um número abaixo do esperado, mas também se pode dizer que “já faltou mais”. E não será isto motivo – de todo – para que desistamos, depauperando assim as expectativas de todas aquelas pessoas que efectivamente assinaram; não iremos denegar ou trair, todos nós e uns aos outros, a abnegação, a determinação, a extraordinária consciência cívica dos milhares de compatriotas que subscreveram já a ILC contra o AO.

Existem inúmeras razões para que ainda não tenhamos alcançado os objectivos. Refiram-se apenas algumas das mais significativas.

Em primeiro lugar, aquilo que agora se constata é que a Internet em geral e as redes sociais em particular não passam de mera ilusão, pelo menos no que diz respeito a algo tão complexo e sério como é uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos. Já se suspeitava, mas agora há uma certeza: quando carregam no botão “Aderir” de uma página de Causa ou no link “Gosto” de um grupo virtual, as pessoas não estão necessariamente a aderir a alguma coisa; carregar no botão ou no link não dá absolutamente trabalho nenhum, por um lado, não custa nada mesmo, e na maioria dos casos essa “adesão” é esquecida, torna-se nula e de nenhum efeito no exacto momento em que se processa; a esmagadora maioria dos “subscritores” de páginas de Causa ou de Grupos nunca mais ou muito raramente lá volta depois de “subscrever” e muito menos se empenhará seja no que for que respeite à sua “subscrição”.

No caso do nosso movimento, isso mesmo ficou espectacularmente (e infelizmente) provado. Pelo menos até hoje. Por mais incrível que tal coisa possa parecer agora, dos mais de 73.000 “subscritores” da página da nossa Causa, no Facebook, nem sequer 1%* enviaram o impresso por correio normal. Pior ainda: depois de obtida a autorização para o envio por correio electrónico (no dia 4 de Maio), o próprio impresso de subscrição foi remetido directamente (por email) para quase 30.000 subscritores daquela página de Causa, na dita rede social, e as assinaturas recebidas por essa via e com aquele impresso específico foram muito poucas…

São assim, pelos vistos, as chamadas “redes sociais”: muita parra e pouca (ou nenhuma) uva. Salvo raríssimas excepções, toda a gente “subscreve” seja o que for, por assim dizer a granel, desligando-se de imediato e para sempre de todos e de cada um dos assuntos, movimentos e causas que “apoiou” com um simples click de “rato”. Os motivos para este bizarro comportamento constituiriam excelente matéria para um estudo ou uma tese na área da Sociologia, por exemplo, mas há que reconhecer tratar-se de um fenómeno novo e que era, por consequência, imprevisível. Era, porque a partir de agora já não é.

Há quem pense que as petições “online” contrariam este fenómeno, mas não é verdade; pelo contrário, aliás; a profusão de petições e a facilidade espantosa com que se “assinam” confirmam plenamente a regra: quando é preciso fazer algo mais do que carregar nuns botões (como, no caso da ILC, preencher, assinar e enviar um papel), bem, então para isso já não há grande disponibilidade e muito menos sobra tempo ou disposição para militâncias. O que explica também, de resto, os espantosos números de “subscritores” das ditas petições “online”, já que não é possível validar ou invalidar esse tipo de “assinaturas”.

O segundo dos factores que mais contribuíram para a relativamente baixa afluência de subscrições da nossa ILC foi a exigência (legal, logo, inultrapassável) de que os dados de cada subscritor estejam não apenas correctos como… completos; ou seja, e aí tem residido grande parte do problema, do ponto de vista de quem pretende assinar, é necessário indicar os dados de eleitor, entre outros requisitos, para que a subscrição seja válida. Acontece que a maioria das pessoas não tem o Cartão de Eleitor “à mão” e, por algum motivo, não sabe que pode obter esses dados de forma extremamente expedita(ver FAQ-2). Portanto, há quem envie a sua subscrição mesmo assim, sem o número, a Freguesia e o Concelho de recenseamento eleitoral, e também há muito quem não subscreva a ILC precisamente porque sabe que sem isso a assinatura não pode ser considerada válida.

Em terceiro lugar, tem havido até agora pouca divulgação da iniciativa através dos “blogs”, que são ainda, como se sabe, o sub-sistema virtual mais eficaz, pelo menos em termos de mobilização da opinião pública. Se apontarmos, por estimativa, para um número de cerca de 5.000 blogs activos, constata-se que apenas 50 mencionaram ou fizeram link ao site da ILC (ver na coluna da direita) e, destes, apenas uma parte mantém o logótipo com link em permanência. Escusado será dizer, sem qualquer desprimor para ninguém, é claro, que nenhum dos chamados “blogs de referência” – os 5 ou 10 mais conhecidos e visitados – mencionou a ILC contra o Acordo Ortográfico. Trata-se de uma questão de divulgação, portanto, e aqui reside também boa parte do problema: não se pode esperar que haja grande adesão a algo que as pessoas desconhecem sequer existir.

Apesar de já ter tido várias repercussões nos meios de comunicação social tradicionais, a nossa iniciativa teria muito mais e muito maior sucesso caso captasse a atenção (e a adesão, pois claro) da chamada “blogosfera” em peso… e em força.

Aliás, esta questão da divulgação será talvez a mais importante de todas. Não será especulativo presumir que, num país com tão elevadas taxas de analfabetismo, iliteracia e info-exclusão, as grandes massas da população não sabem sequer o que é o (ou “um”) Acordo Ortográfico, quanto mais saberão o que vem a ser uma ILC ou coisa que o valha. Não custará, por conseguinte, presumir também que nem mesmo a 10% dos portugueses este assunto dirá alguma coisa ou, pelo menos, que se apercebam da importância daquilo que está em causa. Ora, mesmo de apenas 1 milhão de portugueses, certamente muito mais de metade estará contra este Acordo Ortográfico, assim saibam o que é isso, ao certo, e desde que se apercebam de que existem milhares de compatriotas que, apesar de tudo, estão a fazer alguma coisa contra semelhante aberração; qualquer um pode fazer outro tanto a troco de exactamente 32 cêntimos, o preço de um selo de correio… ou nem isso.

Em suma.

Foram cometidos erros, sim, como sempre sucede quando simples seres humanos se empenham em algo de totalmente novo e quando podem contar apenas consigo mesmos e com a força do seu querer comum.

A adesão ao movimento foi inferior ao esperado, sim, mas nada está perdido (absolutamente nada!) e ainda vamos perfeitamente a tempo. Não será possível entregar a ILC no Parlamento ainda nesta sessão legislativa, pois bem, ficará para a que se inicia em Setembro.

Só agora, dispondo dos conhecimentos entretanto adquiridos, 60 dias depois de iniciada esta longa e por vezes difícil etapa, podemos determinar aquilo que há a melhorar e a corrigir.

Como em tudo na vida, só fazendo se aprende. E foram todas estas aprendizagens, mesmo ou principalmente com os próprios erros, sempre em terreno desconhecido e descobrindo coisas novas todos os dias, que podemos ter agora uma ideia ainda mais clara daquilo que nos move, a determinação, daquilo que pretendemos, defender o património nacional, e daquilo que nunca faremos: desistir.

* Percentagem presumida em função do número de assinaturas recebidas em recolhas de voluntários (a larga maioria).

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5 comentários

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    • Jerónimo de Sousa on 16 Junho, 2010 at 22:46
    • Responder

    Sim ao AO!!!!!!!Por uma Lusofonia unida no Mundo, e pelo futuro do Português como Língua Universal!!!!

    • Gisela Pereira on 17 Junho, 2010 at 2:19
    • Responder

    O AO é uma agressão à Língua Portuguesa. Em suma, aos falantes não traz quaisquer benefícios, apenas enriquece e aproxima os grandes interesses económicos.

    Quanto à ILC (que já subscrevi), congratulo a Organização pela coragem e pioneirismo, desculpando-me pela parca contribuição.
    As adversidades expressas no texto, são reflexo da passividade que caracteriza a maioria dos portugueses (outro exemplo é elevadíssima abstenção nas eleições). Que nem rebanhos, “as massas” aderem quando algum “VIP” faz propaganda ou se alguma Corporação (Partido, Sindicato, Ordem Profissional, entre outros) mobiliza toda a iniciativa.

    • Gisela Pereira on 17 Junho, 2010 at 2:31
    • Responder

    Sr. Jerónimo de Sousa:
    Quanto a mim, este AO não iguala a Língua Portuguesa pelos países que a têm como oficial, pelo contrário, tão-somente aglutina o Português no Brasileiro (que não existindo, fosse antes oficializado).
    Está em causa um mecanismo meramente economicista, travestido de benemérito.

    • Carina Silveira on 30 Junho, 2010 at 19:32
    • Responder

    Peco desculpa pela minha falta de acentos, mas o teclado eh japones… Alias, regressando do Japao, so agora fico a saber desta peticao (pelo google…) !

    Mas resumindo, ja conseguiram reunir 3500 assinaturas validas? Ate quando eh o prazo de recepcao?
    Confesso que li aqui textos enormes e ainda nao percebi claramente como me juntar a causa ou enviar a minha assinatura! Sera que preciso de ter conta no Facebook? O que devo fazer?
    Penso que com uma maior clareza e divulgacao mais abrangente e eficaz a adesao seria bem maior… Eh compreensivel que muitas pessoas recuem quando se trata de enviar os seus dados pessoais por correio ou internet, por isso quanto maior abertura houver por parte dos organizadores, maior adesao. Digo eu.

    • Carina Silveira on 30 Junho, 2010 at 19:55
    • Responder

    Ah… Finalmente liguei o botao e percebi la em cima a seccao “assinar o ILC”…
    Enviarei o documento esperando ainda ir a tempo.
    No entanto, continuo a achar que falta divulgacao e talvez ate credibilidade a esta iniciativa… Mas continuemos a tentar ! !

  1. […] This post was mentioned on Twitter by . said: […]

  2. […] no país, continua a ser estranha aos portugueses. Pois, de que outro modo pode explicar-se a pouca participação nesta Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, que nada mais faz do que tentar concretizar, em forma de Lei, a vontade expressa por tantos no já […]

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